CHARLATANISMO
89. Certas manifestações espíritas se prestam bastante facilmente à imitação; todavia, pelo fato de terem sido exploradas, como tantos outros fenômenos, pela charlatanice e a prestidigitação, seria absurdo concluir que elas não existem. Para aquele que estudou e conhece as condições normais nas quais elas podem se produzir, é fácil distinguir a imitação da realidade; ademais, a imitação jamais poderia ser completa e não pode enganar senão o ignorante, incapaz de perceber as nuances características do fenômeno verdadeiro.
90. As manifestações mais fáceis de imitar são certos efeitos físicos e os efeitos inteligentes vulgares, tais como os movimentos, as batidas, os transportes, a escrita direta, as respostas banais, etc. Não se dá o mesmo com as comunicações inteligentes de alto alcance; para imitar as primeiras, basta a destreza; para simular as outras, seria preciso quase sempre uma instrução pouco comum, uma superioridade intelectual excepcional e uma faculdade de improvisação, por assim dizer, universal.
91. Aqueles que não conhecem o Espiritismo geralmente tendem a suspeitar da boa-fé dos médiuns; o estudo e a experiência lhes dão os meios de se assegurar da realidade dos fatos; porém, fora disso, a melhor garantia que podem encontrar está no desinteresse absoluto e na honorabilidade do médium; há pessoas que, por sua posição e seu caráter, estão acima de qualquer suspeita. Se o atrativo do ganho pode incitar à fraude, o bom senso diz que onde não há nada a ganhar, o charlatanismo nada tem a fazer. (Livro dos Médiuns, capítulo XXVIII, Charlatanismo e prestidigitação, médiuns interesseiros, fraudes espíritas, nº 300. – Revista Espírita, 1862, página 52.)
92. Entre os adeptos do Espiritismo, encontramos entusiastas e exaltados como em todas as coisas; são geralmente os piores propagadores, porque se desconfia de sua facilidade de tudo aceitar sem um exame aprofundado. O espírita esclarecido defende-se do entusiasmo que cega; ele observa tudo friamente e com calma: esse é o meio de não ser enganado pelas ilusões, nem pelas mistificações. Toda questão de boa-fé à parte, o observador novato deve, antes de tudo, levar em conta a gravidade do caráter daqueles a quem se dirige.