CAPÍTULO II
NOÇÕES ELEMENTARES DE ESPIRITISMO
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OBSERVAÇÕES PRELIMINARES
1. É um erro crer que basta a certos incrédulos verem fenômenos extraordinários para serem convencidos. Aqueles que não admitem alma ou Espírito no homem, não podem admiti-los fora do homem; por conseguinte, negando a causa, negam o efeito. Eles chegam assim, quase sempre, com uma ideia preconcebida e um partido de negação tomado que os desvia de uma observação séria e imparcial; eles fazem perguntas e objeções às quais é impossível responder instantaneamente de uma maneira completa, porque precisaria, para cada pessoa, fazer uma espécie de curso e retomar as coisas desde o início. O estudo prévio tem por objetivo responder antecipadamente às objeções, entre as quais a maioria se baseia na ignorância da causa dos fenômenos e das condições em que eles se produzem.
2. Aqueles que não conhecem o Espiritismo imaginam que produzimos fenômenos espíritas da mesma maneira que são feitas experiências de Física e de Química. Daí sua pretensão de submetê-los à sua vontade e sua recusa em se colocar nas condições necessárias para a observação. Não admitindo, em princípio, a existência e a intervenção dos Espíritos, ou pelo menos não conhecendo sua natureza, nem seu modo de ação, eles agem como se operassem sobre a matéria bruta; e, pelo fato de não obterem o que eles pedem, concluem que não há Espíritos.
Colocando-se em um outro ponto de vista, compreender-se-á que, sendo os Espíritos as almas dos homens, após a morte seremos nós mesmos Espíritos, e que estaríamos pouco dispostos a servir de joguete para satisfazer as fantasias dos curiosos.
3. Embora alguns fenômenos possam ser provocados, pela razão de provirem de inteligências livres, eles jamais estão à disposição absoluta de quem quer que seja, e quem se vangloriasse de obtê-los à vontade provaria sua ignorância ou sua má fé. É preciso esperar por eles, captá-los de passagem, e frequentemente é no momento em que menos se espera que se apresentam os fatos mais interessantes e conclusivos. Aquele que quer seriamente se instruir deve pois dedicar, nisso como em todas as coisas, paciência, perseverança, e fazer o que for necessário, caso contrário é melhor para ele não se ocupar com isso.
4. As reuniões onde se ocupam de manifestações espíritas nem sempre estão em boas condições, seja para obter resultados satisfatórios, seja para levar à convicção: há mesmo aquelas, é preciso convir, das quais os incrédulos saem menos convencidos do que ao entrar, opondo aos que lhes falam do caráter sério do Espiritismo, as coisas muitas vezes ridículas de que foram testemunhas. Eles não são mais lógicos do que aquele que julgasse uma arte pelos esboços de um escolar, de uma pessoa por sua caricatura, ou de uma tragédia por sua paródia. O Espiritismo tem também seus escolares; e aquele que quer se esclarecer não busca informações em uma única fonte; não é senão pelo exame e pela comparação que ele pode estabelecer um julgamento.
5. As reuniões frívolas têm um grave inconveniente para os noviços que as assistem, pois lhes dão uma falsa ideia do caráter do Espiritismo. Os que só assistiram a reuniões desse gênero não podem levar a sério uma coisa que eles veem tratada com leviandade por aqueles mesmos que se dizem seus adeptos. Um estudo preliminar lhes ensinará a julgar o alcance do que veem e a distinguir o bom do mau.
6. O mesmo raciocínio se aplica àqueles que julgam o Espiritismo por certas obras excêntricas que podem dar dele apenas uma ideia incompleta e ridícula. O Espiritismo sério não é mais responsável por aqueles que o compreendem mal ou o praticam de maneira distorcida, do que a poesia responsável por aqueles que fazem maus versos. É lamentável, dizem alguns, que tais obras existam, porque prejudicam a verdadeira ciência. Sem dúvida, seria preferível que houvesse apenas as boas; mas o maior erro é o daqueles que não se dão ao trabalho de tudo estudar. Todas as artes, todas as ciências, aliás, estão na mesma situação; não existem, sobre as coisas mais sérias, tratados absurdos e cheios de erros? Por que o Espiritismo seria privilegiado com relação a isso, sobretudo em seu início? Se aqueles que o criticam não o julgassem sobre aparências, saberiam o que ele admite e o que ele rejeita, e não lhe imputariam o que ele repudia em nome da razão e da experiência.