XI
Sobre o uso dos sinais exteriores do culto nos grupos
Perguntaram-me também várias vezes se é útil começar as sessões por preces e atos exteriores de religião. Minha resposta não é somente minha, é também dos Espíritos eminentes que trataram essa questão.
Sem dúvida é não só útil, mas necessário chamar, por uma invocação especial, espécie de prece, o concurso dos bons Espíritos; ademais, essa prática predispõe ao recolhimento, condição essencial de toda reunião séria. O mesmo não ocorre com os sinais exteriores do culto, pelos quais certos grupos creem dever abrir suas sessões, e que têm mais de um inconveniente, embora seja boa a intenção sugerida pelo pensamento.
Tudo, nas reuniões, deve se passar religiosamente, ou seja, com gravidade, respeito e recolhimento; mas não se deve esquecer que o Espiritismo se dirige a todos os cultos; que, por conseguinte, ele não deve adotar as formas de nenhum em particular. Seus inimigos têm já demasiada tendência a apresentá-lo como uma seita nova para terem um pretexto de combatê-lo; não se deve então dar crédito a essa opinião pelo uso de fórmulas das quais eles não deixariam de tirar partido para dizer que as reuniões espíritas são assembleias de religionários, de cismáticos e de heréticos; não acrediteis que essas fórmulas sejam de natureza a fazer aderir certos antagonistas. O Espiritismo, chamando a si os homens de todas as crenças para aproximá-los sob a bandeira da caridade e da fraternidade, habituando-os a se olharem como irmãos, seja qual for sua maneira de adorar a Deus, não deve ofender as convicções de ninguém pelo emprego dos sinais exteriores de um culto qualquer. Há poucas reuniões espíritas mesmo as pouco numerosas, sobretudo na França, onde não haja membros ou assistentes que pertencem a diferentes religiões; se o Espiritismo se colocasse abertamente no terreno de uma delas, afastaria as outras; ora, como há espíritas em todas, veríamos se formarem grupos católicos, judeus ou protestantes, e se perpetuaria o antagonismo religioso que ele tende a apagar.
Essa é também a razão pela qual se deve abster-se, nas reuniões, de discutir os dogmas particulares, o que necessariamente ofenderia certas consciências, ao passo que as questões de moral são de todas as religiões e de todos os países. O Espiritismo é um terreno neutro no qual todas as opiniões religiosas podem se encontrar e darem-se a mão; ora, a desunião poderia nascer da controvérsia. Não esqueçais que a desunião é um dos meios pelos quais os inimigos do Espiritismo buscam atacá-lo; é com esse objetivo que frequentemente eles incitam certos grupos a se ocupar de questões irritantes ou comprometedoras, sob o pretexto especioso de que não se deve colocar a luz sob alqueire. Não vos deixeis cair nessa armadilha; que os chefes de grupo sejam firmes para repelir todas as sugestões desse gênero, se não quiserem passar eles próprios por cúmplices dessas maquinações.
O emprego dos sinais exteriores do culto teria o mesmo resultado: o de uma cisão entre os adeptos; uns acabariam por achar que não se faz o bastante, outros que se faz demasiado. Para evitar esse inconveniente, que é muito grave, convém que se abstenha de toda prece litúrgica, sem excetuar a Oração dominical, por mais bela que seja. Como ao entrar numa reunião espírita, ninguém abjura sua religião, que cada um diga, no seu íntimo e mentalmente, todas as preces que julgue apropriadas, nada melhor, e exortamos a isso; mas que não haja nada de ostensivo, e muito menos oficializado. O mesmo se dá com os sinais da cruz, o uso de se pôr de joelhos, etc.; de outra maneira, não haveria razão para impedir um muçulmano espírita, que fizesse parte de um grupo, de se prosternar de rosto contra o chão e de recitar em voz alta sua fórmula sacramental: “Só há um Deus e Maomé é seu profeta.”
O inconveniente deixa de existir quando as preces que se dizem com uma intenção qualquer são independentes de todo culto particular. De acordo com isso, creio supérfluo fazer ressaltar o que haveria de ridículo em fazer repetir em coro, por toda a assistência, uma prece ou fórmula qualquer, como me disseram ter visto praticar.
Está bem entendido que o que acaba de ser dito se aplica apenas aos grupos ou sociedades formadas de pessoas estranhas umas às outras, mas não se refere às reuniões íntimas de família, onde cada um é naturalmente livre de agir como bem entende, porque aí não se ofende ninguém.