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Revista Espírita 1868 » Fevereiro » Extraído dos manuscritos de um jovem médium bretão Revue Spirite 1868 » Février » Extrait des manuscrits d'un jeune médium breton

ALUCINADOS, INSPIRADOS, FLUÍDICOS E SONÂMBULOS

 

Nossos leitores se lembram de ter lido, em junho do ano passado, a análise do Roman de l’Avenir, que o Sr. Bonnemère havia tirado dos manuscritos de um jovem médium bretão que lhe havia confiado os seus trabalhos.

Foi ainda nesse volumoso acervo de manuscritos que o autor encontrou estas páginas, escritas em hora de inspiração, e que vem submeter à apreciação dos leitores da Revista Espírita. Desnecessário dizer que deixamos ao médium, ou antes, ao Espírito que o inspira, a responsabilidade das opiniões que ele emite, reservando-nos o direito de apreciá-las mais tarde. Assim como o Romance do Futuro, é um curioso espécimen de mediunidade inconsciente.

 

I

 

OS ALUCINADOS

 

Temos pouco a dizer sobre a alucinação, estado provocado por uma causa moral que influi sobre o físico e à qual se mostram mais acessíveis as naturezas nervosas, sempre mais prontas a se impressionar.

Sobretudo as mulheres, por sua organização íntima, são levadas à exaltação, e a febre se apresenta nelas com mais frequência, acompanhada de delírio que toma a aparência de loucura momentânea.

Temos que reconhecer que a alucinação toca ligeiramente a loucura, bem como todas as superexcitações cerebrais, e, ao passo que o delírio se exala sobretudo em palavras incoerentes, ela representa mais particularmente a ação, a encenação. Entretanto, erroneamente por vezes as confundem.

Presa de uma espécie de febre interior que não se traduz externamente por nenhuma perturbação aparente dos órgãos, o alucinado vive em meio ao mundo imaginário que sua imaginação perturbada cria; tudo está em desordem, nele como em torno dele; ele leva tudo ao extremo. Por vezes a alegria, e quase sempre a tristeza e as lágrimas rolam dos olhos enquanto seus lábios imitam um sorriso doentio.

Essas visões fantásticas existem para ele; ele as vê, as toca e se amedronta. Contudo, conserva o exercício de sua vontade; conversa com os interlocutores e lhes oculta o objeto de seus terrores ou de suas sombrias preocupações.

Conhecemos um que durante cerca de seis meses assistia todas as manhãs ao enterro de seu corpo, tendo plena consciência de que sua alma sobrevivia. Nada parecia mudado nos seus hábitos de vida, contudo esse pensamento incessante, essa mesma visão o seguia em todos os lugares. A palavra morte ressoava incessantemente em seu ouvido. Quando o sol brilhava, dissipava a noite ou atravessava as nuvens, a horrível visão se desvanecia pouco a pouco e por fim desaparecia. À noite ele adormecia, triste e desesperado, porque sabia que horrível despertar o aguardava no dia seguinte.

Por vezes, quando o excesso de sofrimento físico impunha silêncio à sua vontade e lhe tirava esse poder de dissimulação que de ordinário ele conservava, exclamava de súbito: ─ Ah! Ei-los!... Eu os vejo! ... Então ele descrevia aos que o cercavam com mais intimidade os detalhes da lúgubre cerimônia; narrava as cenas sinistras que se desenrolavam sob seus olhos, ou as rondas de personagens fantásticas que desfilavam diante dele.

O alucinado vos revelará as loucas percepções de seu cérebro doente, mas não tem nada a vos repetir do que outros viriam lhe revelar, porque, para ser inspirado, é preciso que a paz e a harmonia reinem em vossa alma, e que estejais desprendido de todo pensamento material ou mesquinho; algumas vezes a disposição doentia provoca a inspiração, e é então como um socorro que os amigos que partiram antes vêm vos trazer para vos aliviar.

Esse louco, que ontem gozava da plenitude de sua razão, não apresenta desordens exteriores perceptíveis pelo olho do observador; contudo elas são numerosas, existem e são reais. Muitas vezes o mal está na alma, lançada fora de si mesma pelo excesso de trabalho, de alegria, de dor; o homem físico não está mais em equilíbrio com o homem moral; o choque moral foi mais violento do que o físico pode suportar: daí o cataclismo.

O alucinado sofre igualmente as consequências de uma perturbação grave em seu organismo nervoso. Mas ─ o que raramente acontece na loucura ─ nele essas desordens são intermitentes e muito mais facilmente curáveis, porque sua vida,  de certo modo, é dupla, pois ele pensa com a vida real e sonha com a vida fantástica.

Esta última é, por vezes, o despertar de sua alma doente, e se o escutarmos com inteligência, chegaremos a descobrir a causa do mal, que muitas vezes ele quer ocultar. Entre o fluxo de palavras incoerentes que uma pessoa em delírio expressa, e que parecem em nada se referir às causas prováveis de sua doença, encontrar-se-á uma que voltará sem cessar, que queria reter e que, contudo, escapa, a despeito de sua vontade. Essa é a causa verdadeira, e que é necessário combater.

Mas o trabalho é longo e difícil, porque o alucinado é um hábil comediante, e se ele percebe que o observam; seu espírito se lança em estranhos desvios e toma as aparências da loucura, para escapar a essa pressão inoportuna que pareceis decidido a exercer sobre ele. Portanto, é necessário estudá-lo com um tato extremo, sem jamais contradizê-lo ou tentar retificar os erros de seu cérebro em delírio.

Estão aí diversas fases de excitações cerebrais, ou melhor, excitações do ser todo inteiro, pois não é preciso localizar a sede da inteligência. A alma humana, que a dá, plana por toda parte; é o sopro do alto que faz vibrar e agir a máquina inteira.

O alucinado pode, de boa-fé, julgar-se inspirado e profetizar, quer tenha consciência do que diz, quer os que o rodeiam possam, só eles e malgrado seu, recolher suas palavras. Mas dar fé às indicações de um alucinado seria arriscar-se a estranhas decepções, e é assim que muitas vezes são levados a débito da inspiração os erros que não passavam de fruto da alucinação.

O físico é coisa material, sensível, exposta à luz, que cada um pode ver, admirar, criticar, cuidar ou tentar reerguer. Mas quem pode conhecer o homem moral? Quando nos ignoramos a nós mesmos, como nos julgarão os outros? Se nós lhes revelamos alguns dos nossos pensamentos, são em muito maior quantidade aqueles que ocultamos dos seus olhares e que gostaríamos de ocultá-los a nós mesmos.

Essa dissimulação é quase um crime social. Criados para o progresso, nossa alma, nosso coração, nossa inteligência são feitos para se difundir sobre todos os irmãos da grande família, para lhes prodigalizar tudo quanto está em nós, como para se enriquecer ao mesmo tempo com tudo o que eles podem transmitir-nos.

A expansão recíproca é, pois, a grande lei humanitária, e a concentração, isto é, a dissimulação de nossas ações, de nossos pensamentos, de nossas aspirações é uma espécie de roubo que cometemos em prejuízo de todo mundo. Que progresso far-se-á, se guardarmos em nós tudo o que a Natureza e a educação aí puseram e se cada um age do mesmo modo a nosso respeito?

Exilados voluntários e nos mantendo fora do comércio de nossos irmãos, nós nos concentramos numa ideia fixa; a imaginação obsedada procura a isso subtrair-se, perseguindo toda sorte de pensamentos inconsequentes, e assim pode-se chegar até à loucura, justo castigo que nos é infringido por não termos querido andar por nossos caminhos naturais.

Vivamos, pois, nos outros e eles em nós, a fim de que não constituamos senão um. As grandes alegrias, como as grandes dores, nos quebram quando não são confiadas a um amigo. Toda solidão é má e condenada, e toda coisa contrária aos desígnios da Natureza traz como consequência inevitáveis, imensas desordens interiores.

 

II

OS INSPIRADOS

 

A inspiração é mais rara que a alucinação, porque não se deve somente ao estado físico, mas ainda, e sobretudo, à situação moral do indivíduo predisposto a recebê-la.

Todo homem não dispõe senão de um certo quinhão inteligência que lhe é dado desenvolver por seu trabalho. Quando chega ao ponto culminante que lhe é dado atingir, ele para um momento, depois retorna ao estado primitivo, ao estado de criança, menos essa mesma inteligência que em um cresce dia a dia e no velho diminui, apaga-se e se extingue. Então, tendo dado tudo, e não podendo mais nada acrescentar à bagagem de seu século, ele parte, mas para ir continuar alhures sua obra interrompida aqui embaixo; ele parte, mas deixando o lugar rejuvenescido a um outro que, chegando a idade viril, terá o poder de cumprir,  por sua vez, uma missão maior e mais útil.

O que chamamos morte não é senão o devotamento ao progresso e à Humanidade. Mas nada morre, tudo sobrevive e se reencontra pela transmissão do pensamento dos seres que partiram antes e que têm ainda, pela parte mais etérea de si mesmos, na pátria que deixaram, mas que não esqueceram, que continuam amando, porquanto ela é habitada pelos continuadores de sua vida, pelos herdeiros de suas ideias, aos quais se comprazem em insuflar por momentos as que não tiveram tempo de semear ao seu redor, ou que não puderam ver progredir ao nível de suas esperanças.

Não tendo mais órgãos a serviço de sua inteligência, eles vêm pedir aos homens de boa vontade que apreciam, que lhes cedam o lugar por um momento. Sublimes benfeitores ocultos, eles impregnam seus irmãos da quintessência de seu pensamento a fim de que sua obra esboçada continue e se conclua, passando pelo cérebro daqueles que podem fazê-la perlustrar seu caminho no mundo.

Entre os amigos desaparecidos e nós, o amor continua, e o amor é a vida. Eles nos falam com a voz de nossa consciência posta em vigília. Purificados e melhores, eles não nos trazem senão coisas puras, desprendidos que estão de toda a parte material, como de todas as mesquinharias de nossa pobre existência. Eles nos inspiram no sentimento que tinham neste mundo, mas nesse sentimento desprendido de toda mistura.

Resta-lhes uma parte de si mesmos para dar: eles no-la trazem, deixando-nos crer que a obtivemos apenas por nosso trabalho pessoal. Daí vêm essas revelações imprevistas, que desconcertam a Ciência. O espírito de Deus sopra onde quer... Desconhecidos fazem grandes descobertas, e o mundo oficial das Academias aí está para lhes entravar a passagem.

Não queremos dizer que para ser inspirado seja indispensável manter-se incessantemente nas vias estreitas do bem e da virtude, entretanto, de ordinário são seres morais aos quais, muitas vezes como compensação dos males que eles sofrem por causa dos outros, permitimos manifestações que lhes permitem vingar-se à sua maneira, trazendo o tributo de alguns benefícios à Humanidade que os desconhece, ridiculariza-os e os calunia.

Encontram-se tantas categorias de inspiração, e consequentemente de inspirados, quantas faculdades existem no cérebro humano para assimilar conhecimentos diferentes.

A luta assusta os Espíritos depurados que partiram para mundos mais adiantados, e eles desejam que os escutemos com docilidade. Também os inspirados são geralmente seres puros, ingênuos e simples, sérios e refletidos, cheios de abnegação e de devotamento, sem personalidade marcante, de impressões profundas e duráveis, acessíveis às influências exteriores, sem ideias preconcebidas sobre as coisas que ignoram, bastante inteligentes para assimilar os pensamentos alheios, mas não moralmente bastante fortes para discuti-los.

Se o inspirado se apega às suas próprias convicções, ele toma, de boa-fé, o seu eco pela advertência das vozes que nele falam e também de boa-fé, engana, em vez de esclarecer. A bondade preside essas revelações, que jamais ocorrem senão com um objetivo ao mesmo tempo útil e moral.

Quando uma dessas organizações simpáticas é sofredora, devido a uma decepção cruel ou a um mal físico, um amigo por ela se interessa e vem, dando um outro alimento ao seu pensamento, trazer alívio para ela própria, mas so­bretudo para os que lhe são caros.

Não é raro que o inspirado tenha começado como um alucinado. É como um noviciado, uma preparação de seu cérebro para concentrar seu espírito e para poder aceitar aquilo que lhe dirão.

Porque um inspirado nada pode formular de concludente num certo momento, isto não quer dizer que não possa fazê-lo em outros. As manifestações ficam livres, espontâneas; vêm quando são necessárias. Assim os inspirados, mesmo os melhores, não o são em dia e hora fixos, e as sessões anunciadas previamente muitas vezes preparam inevitáveis decepções.

Fazendo evocações muito frequentes, corre-se o risco de não chegar senão a um estado de superexcitação mais próximo da alucinação do que da inspiração. Então não são mais que jogos de nossa imaginação em delírio, em lugar dessas luzes de outro mundo, destinadas a esclarecer os passos da Humanidade no caminho providencial.

Isto explica esses erros dos quais a incredulidade faz uma arma para negar, de maneira absoluta, a intervenção dos Espíritos superiores.

Os inspirados o são por todos aqueles que partiram antes da hora e têm algo para nos ensinar.

Pode acontecer que a mulher mais simples, a menos instruída, tenha revelações médicas. Vimos uma que, mesmo sem saber ler e escrever, achava em si diversos nomes de plantas que podiam curar. A credulidade popular quase a tinha forçado a explorar essa faculdade. Também não era sempre igualmente bem esclarecida, mesmo que tomando o pulso da pessoa doente que com ela se pusesse em contato, porque ela era também desses fluídicos dos quais falaremos daqui a pouco. Embora fraca e delicada, ela podia, por seu contato, restabelecer o equilíbrio daquele que o necessitava e repor em circulação os princípios vitais interrompidos. Sem se dar conta disto, ela fazia muitas vezes pelo simples toque, em certas pessoas cujo fluido era idêntico ao seu, mais bem do que os remédios que prescrevia, às vezes apenas por hábito, e com variantes insignificantes, fosse qual fosse o mal pelo qual a consultavam.

A Providência colocou junto a cada homem um remédio para cada doença. Apenas existem tantas naturezas quantos indivíduos diferentes. Os remédios também agem diferentemente sobre cada organismo, o qual influi sobre os caracteres do mal; e é isto que faz que seja quase impossível ao médico prescrever o remédio eficaz. Ele conhece os seus efeitos gerais, mas ignora absolutamente em que sentido agirá sobre tal criatura que lhe apresentam.

É aqui que brilha a superioridade dos fluídicos e dos sonâmbulos, porque, quando se acham em certas condições de simpatia com os que vêm consultá-los, os seres superiores os guiam com uma infalibilidade quase certa.

Por vezes essa inspiração é inconsciente de si mesma; às vezes um médico, apenas junto de certos doentes, acha de súbito o remédio que pode curá-los. Não foi a ciência que o guiou, foi a inspiração. A ciência punha à sua disposição vários modos de tratamento, mas uma voz interior lhe gritava um nome; ele foi forçado a dizê-lo, e esse nome era o do remédio que devia agir, com exclusão de qualquer outro.

O que dizemos da Medicina existe, nas mesmas condições, em todos os outros ramos do trabalho humano. Em certas horas, o fogo da inspiração nos devora; há que ceder. Se pretendemos concentrar em nós mesmos o que de nós deve sair, um verdadeiro sofrimento se torna o castigo de nossa revolta.

Todos aqueles a quem Deus concedeu o dom sublime de criação, os poetas, os sábios, os artistas, os inventores, todos têm essas iluminações inesperadas, por vezes numa ordem de fatos muito diferente de seus estudos ordinários, se tiverem pretendido violentar a sua vocação. Mas os Espíritos sabem o que devemos e podemos fazer, e vêm despertar incessantemente em nós as nossas atrações sufocadas.

Sabemos como Molière explicava essas desigualdades que enfeiam as mais belas peças de Corneille: “Este diabo de homem, dizia ele, tem um gênio familiar que vem por momentos soprar-lhe ao ouvido coisas sublimes; depois, de repente, planta-o lá, dizendo-lhe: ‘Sai desta como puderes!’ E então não faz mais nada que preste.” Molière estava certo. O ativo gênio de Corneille não tinha a dócil passividade necessária para suportar continuamente a inspiração do alto. Os Espíritos o abandonavam, e então ele adormecia, como por vezes fazia Homero.

Existem ─ Sócrates e Jeanne d’Arc eram destes ─ os que escutam vozes interiores que neles falam. Outros nada escutam, mas são obrigados a obedecer a uma força poderosa que os domina.

Outras vezes, um nome vem ferir o ouvido do inspirado: é o de um amigo, de um indivíduo que ele nem mesmo conhece, do qual apenas ouviu falar. A personalidade desse amigo desconhecido o penetra, nele se manifesta; pouco a pouco pensamentos estranhos vêm substituir os seus. Por um momento ele tem o espírito daquele; obedece, escreve, sem saber, malgrado seu, se necessário, coisas que não sabe. E como essa obediência passiva à qual foi condenado lhe é difícil de suportar em estado de vigília, foge dessas coisas escritas sob uma inspiração opressiva, e não quer lê-las.

Esses pensamentos podem estar em desacordo formal com suas crenças, com seus sentimentos, ou melhor, com aqueles que a educação lhe impôs, porque, para que certos Espírito venham a ele, é preciso que exista alguma relação entre eles. Eles lhe dão o pensamento, deixando-lhe o cuidado de achar a forma. Então é preciso que eles saibam que sua inteligência pode compreendê-los e assimilar momentaneamente suas ideias para traduzi-las.

É que raramente as circunstâncias nos têm permitido que nos desenvolvamos no sentido de nossas aptidões nativas. Os Espíritos mais adiantados sabem qual corda é preciso tanger para que ela entre em vibração. Ela havia ficado muda, porque tínhamos atacado outras e desprezado aquela. Por um momento eles lhe dão vida. É um germe por muito tempo abafado, que eles fecundam. Depois, o ins­pirado, voltando ao seu estado habitual, não se lembra mais, porque vive uma existência dupla, cada uma das quais independe da outra.

Entretanto também acontece que ele conserve uma maior facilidade de compreensão, e conquiste um maior desenvolvimento intelectual. É a recompensa do esforço que ele fez para dar uma forma compreensível aos pensamentos que outros lhe vieram revelar.

Não acreditemos que todo inspirado possa conhecer tudo. Cada um, conforme suas predisposições naturais, porém mantidas muitas vezes desconhecidas de si próprio como dos outros, é inspirado por tal ou qual coisa, mas não igualmente por todas. Com efeito, existem naturezas de tal modo antipáticas a certos conhecimentos, que os Espíritos não virão jamais bater numa porta que eles sabem que não pode se abrir.

Só em certa medida o futuro é desconhecido pelos inspirados. Assim, não é certo dizer que um inspirado predisse para que mundo tal pessoa irá após a morte e que julgamento Deus pronunciará contra ela. Isto é um jogo de imaginação alucinada. Por mais alto que o homem tenha subido na escala dos mundos, ele não conhece qual será o destino de seu irmão. É a parte reservada a Deus: jamais a criatura poderá usurpar os seus direitos.

Sim, há manifestações, mas não são contínuas, e nossa impaciência a seu respeito muitas vezes é culposa.

Sim, tudo se reúne e nada é rompido no imenso Universo. Sim, existe entre esta existência e as outras um laço simpático e indissolúvel que liga e une uns aos outros, todos os membros da família humana, e que permite que os melhores venham dar-nos o conhecimento do que não sabemos. É por esse trabalho que se realiza o progresso. Quer se chame trabalho da inteligência ou inspiração, é a mesma coisa. A inspiração é o progresso superior, é o fundo; o trabalho pessoal aí põe a forma, juntando ainda a quintessência dos conhecimentos anteriormente adquiridos.

Nenhuma invenção nos pertence propriamente, porque outros lançaram antes a semente que recolhemos. Aplicamos à obra que queremos prosseguir, as forças e o trabalho da Natureza, que é de todos, e sem o auxílio da qual nada se faz, e depois as forças e o trabalho acumulados pelos outros, que nos prepararam os meios de triunfar.

A bem dizer, tudo é obra comum e coletiva, para confirmar ainda esse grande princípio de solidariedade e de associação que é a base das sociedades e a lei da criação toda inteira.

O trabalho do homem jamais será inutilizado pela inspiração. O Espírito que no-lo vem trazer respeitará sempre esta parte reservada ao indivíduo; ele a respeitará como uma coisa nobre e santa, pois o trabalho põe o homem na posse das faculdades que Deus depositou em germe em sua alma, a fim de que o objetivo de sua vida fosse fecundá-las. É por seu desenvolvimento que ele aprendeu a conhecer-se, e que mereceu aproximar-se dele.

A inspiração vem indiferentemente de dia, de noite, na vigília ou durante o sono. Ela só exige recolhimento. É-lhe necessário encontrar naturezas que se possam abstrair de toda preocupação do mundo real, para dar lugar livre e vago ao ser que vier envolvê-lo todo e lhe infundir seus pensamentos.

Nas horas de inspiração, o homem se torna muito mais acessível a todos os ruídos exteriores, e tudo o que vem do mundo real o perturba. Ele não mais está neste mundo, mas está num meio transitório entre este e o outro, porque está, de certo modo, embebido da pessoa moral e intelectual de um ser elevado a uma outra esfera,  e cujo corpo, entretanto, prende-se a esta.

Embora ela se dirija a todos, a inspiração descerá mais geralmente sobre as naturezas doentias ou gastas por uma sucessão de sofrimentos, materiais ou morais. Considerando-se que ela é um benefício, não é justo que os que sofrem sejam mais facilmente aptos a recebê-la?

A alucinação é um estado doentio que o magnetismo pode modificar de maneira salutar. A inspiração é uma assimilação moral que se deve evitar provocar por passes magnéticos. O alucinado entrega-se voluntariamente a arroubos e a contorções ridículas. O inspirado é calmo.

Os inspirados são melancólicos. Eles necessitam ser refletidos; para ser alegre não há necessidade de refletir muito; é preciso gozar, na sua saúde, de um equilíbrio que os inspirados nem sempre possuem. Mas não vamos pensar que eles sejam difíceis e extravagantes. Ao contrário, eles se mostram suaves e fáceis com aqueles de quem gostam.

Há inspirados de diversos graus. Uns vêm dizer-vos coisas palpáveis, fatos de segunda vista, para que se possa constatar a realidade da iniciação. Outros, mais clarividentes e pouco preocupados com os processos materiais cujos segredos são chamados a divulgar, repetem, como lhes vêm, os pensamentos trazidos por Espíritos progressistas. Os primeiros curam o corpo, os últimos são médicos da alma.

A missão dos mais modestos limita-se a revelar como essas coisas lhes vêm. É um fato constatado que forças adiantadas de muitos graus vêm sobre nós para nos dominar e nos inspirar. Para que repetir? Quem quiser acreditará. Mas, sendo bem estabelecidas as constatações, não se deve considerar os inspirados senão pelo lado útil e sério. Pouco importa, se as ideias são boas, de que fonte elas vêm.

 

ENG. BONNEMÈRE.


Les Hallucinés, les Inspirés, les Fluidiques et les Somnambules

Nos lecteurs se rappellent avoir lu, dans le courant de juin 1867, l'analyse du Roman de l'Avenir, que M. Bonnemère avait emprunté aux manuscrits d'un jeune médium breton qui lui avait remis ses travaux.

C'est encore dans ce volumineux recueil de manuscrits que l'auteur a trouvé ces pages écrites à l'heure de l'inspiration, et qu'il vient soumettre à l'appréciation des lecteurs de la Revue spirite. Il va sans dire que nous laissons au médium, ou plutôt à l'Esprit qui l'inspire, la responsabilité des opinions émises, nous réservant de les apprécier plus tard. De même que le Roman de l'Avenir, c'est un curieux spécimen de médiumnité inconsciente.

I

LES HALLUCINÉS

Nous avons peu de chose à dire sur l'hallucination, état provoqué par une cause morale qui influe sur le physique, et auquel se montrent plus volontiers accessibles les natures nerveuses, toujours plus promptes à s'impressionner.

Les femmes surtout, par leur organisation intime, sont portées à l'exaltation, et la fièvre se présente plus souvent chez elles, accompagnée de délire qui prend les apparences de la folie momentanée.

L'hallucination, il faut le reconnaître, touche par un petit côté à la folie, ainsi que toutes les surexcitations cérébrales, et tandis que le délire s'exhale surtout en paroles incohérentes, elle représente plus particulièrement l'action, la mise en scène. Mais c'est à tort cependant que parfois on les confond ensemble.

En proie à une sorte de fièvre intérieure qui ne se traduit au dehors par aucune perturbation apparente des organes, l'halluciné vit au milieu du monde imaginaire que crée, pour un moment, son imagination troublée; tout est en désordre en lui comme autour de lui; il porte tout à l'extrême: la gaieté parfois, la tristesse presque toujours, et des larmes roulent dans ses yeux pendant que ses lèvres grimacent un sourire maladif.

Ces visions fantastiques existent pour lui; il les voit, les touche, en est effrayé. Mais cependant il conserve l'exercice de sa volonté; il cause avec ses interlocuteurs et leur cache l'objet de ses terreurs ou de ses sombres préoccupations.

Nous en avons connu un qui, pendant environ six mois, assistait tous les matins à l'enterrement de son corps, ayant pleinement conscience que son âme survivait. Rien ne paraissait changé dans les habitudes de sa vie, et cependant cette pensée incessante, cette vue même parfois le suivait en tous lieux. Le mot de mort résonnait incessamment à son oreille. Quand le soleil brillait, dissipait la nuit ou perçait le nuage, l'effroyable vision s'évanouissait peu à peu et disparaissait à la fin. Le soir, il s'endormait, triste et désespéré, car il savait quel horrible réveil l'attendait le lendemain.

Parfois, lorsque l'excès de la souffrance physique imposait silence à sa volonté et lui enlevait cette puissance de dissimulation qu'il conservait d'ordinaire, il s'écriait tout à coup: - Ah! les voilà!… je les vois!… Et alors il décrivait à son entourage le plus intime les détails de la lugubre cérémonie, il racontait les scènes sinistres qui se déroulaient sous ses regards, où des rondes de personnages fantastiques défilaient devant lui.

L'halluciné vous dira les folles perceptions de son cerveau malade, mais il n'a rien à vous répéter de ce que d'autres viendraient lui révéler; car, pour être inspiré, il faut que la paix et l'harmonie règnent dans votre âme, et que vous soyez dégagé de toute pensée matérielle ou mesquine; quelquefois la disposition maladive provoque l'inspiration, c'est alors comme un secours que les amis partis les premiers viennent vous apporter pour vous soulager.

Ce fou, qui hier jouissait de la plénitude de sa raison, ne présente pas de désordres extérieurs perceptibles à l'œil de l'observateur; ils sont nombreux cependant, ils existent et sont réels. Le mal est souvent dans l'âme, jetée hors d'elle-même par l'excès du travail, de la joie, de la douleur; l'homme physique n'est plus en équilibre avec l'homme moral; le choc moral a été plus violent que n'en peut supporter le physique: de là cataclysme.

L'halluciné subit également les conséquences d'une perturbation grave dans son organisme nerveux. Mais, - ce qui rarement a lieu dans la folie, - chez lui ces désordres sont intermittents et d'autant plus facilement curables, que sa vie est double en quelque sorte, qu'il pense avec la vie réelle et rêve avec la vie fantastique.

Cette dernière est souvent l'éveil de son âme malade, et si on l'écoute avec intelligence, on arrive à découvrir la cause du mal, que souvent il veut cacher. Parmi le flux de paroles incohérentes que lance au dehors une personne en délire, et qui semblent ne se rapporter en rien aux causes probables de sa maladie, il s'en trouvera une qui reviendra sans cesse et comme malgré elle, qu'elle voudrait retenir, et qui échappe cependant. Celle-là est la cause véritable et qu'il faut combattre.

Mais le travail est long et difficile, car l'halluciné est un habile comédien, et, s'il s'aperçoit qu'on l'observe, son esprit se jette dans d'étranges écarts et prend les apparences de la folie pour échapper à cette pression importune que vous paraissez décidé à exercer sur lui. Il faut donc l'étudier avec un tact extrême, sans le contredire jamais, ou essayer de rectifier les erreurs de son cerveau en délire.

Ce sont là diverses phases d'excitations cérébrales, ou plutôt d'excitations de l'être tout entier, car il ne faut pas localiser le siège de l'intelligence. L'âme humaine, qui la donne, plane partout; c'est le souffle d'en haut qui fait vibrer et agir la machine tout entière.

L'halluciné peut, de bonne foi, se croire inspiré, et prophétiser, soit qu'il ait conscience de ce qu'il dit, soit que ceux qui l'entourent puissent seuls, à son insu, recueillir ses paroles. Mais ajouter foi aux indications d'un halluciné serait se préparer d'étranges déceptions, et c'est ainsi que trop souvent on a porté au passif de l'inspiration les erreurs qui n'étaient que le fait de l'hallucination.

Le physique est chose matérielle, sensible, exposée au grand jour, que chacun peut voir, admirer, critiquer, soigner ou tenter de redresser. Mais qui peut connaître l'homme moral? Quand nous nous ignorons nous- mêmes, comment les autres nous jugeraient-ils? Si nous leur livrons quelques-unes de nos pensées, il en est bien plus encore que nous celons à leurs regards et que nous voudrions nous cacher à nous-mêmes.

Cette dissimulation est presque un crime social. Créés pour le progrès, notre âme, notre cœur, notre intelligence sont faits pour s'épandre sur tous les frères de la grande famille, pour leur prodiguer tout ce qui est en nous, comme pour s'enrichir en même temps de tout ce qu'ils peuvent nous communiquer.

L'expansion réciproque est donc la grande loi humanitaire, et la concentration, c'est-à-dire la dissimulation de nos actions, de nos pensées, de nos aspirations est une sorte de vol que nous commettons au préjudice de tout le monde. Quel progrès se fera, si nous gardons en nous tout ce que la nature et l'éducation y ont mis, et si chacun agit de même à notre égard?

Exilés volontaires, et nous tenant en dehors du commerce de nos frères, nous nous concentrons dans une idée fixe; l'imagination obsédée cherche à s'y soustraire en poursuivant toutes sortes de pensées sans suite, et l'on peut arriver ainsi jusqu'à la folie, juste châtiment qui nous est infligé pour n'avoir pas voulu marcher dans nos voies naturelles.

Vivons donc dans les autres, et eux dans nous, afin que tous nous ne fassions qu'un. Les grandes joies, comme les grandes douleurs, nous brisent lorsqu'elles ne sont pas confiées à un ami. Toute solitude est mauvaise et condamnée, et toute chose contraire au vœu de la nature amène à sa suite d'inévitables, d'immenses désordres intérieurs.

II

LES INSPIRÉS

L'inspiration est plus rare que l'hallucination, parce qu'elle ne tient pas seulement à l'état physique, mais encore et surtout à la situation morale de l'individu prédisposé à la recevoir.

Tout homme ne dispose que d'une certaine part d'intelligence qu'il lui est donné de développer par son travail. Arrivé ou point culminant où il lui est accordé d'atteindre, il s'arrête un moment, puis il retourne à l'état primitif, à l'état d'enfant, moins cette intelligence même qui, chez l'un grandit chaque jour, et chez le vieillard s'amoindrit, s'éteint et disparaît. Alors, ayant tout donné, et ne pouvant plus rien ajouter au bagage de son siècle, il part, mais pour aller continuer ailleurs son œuvre interrompue ici-bas; il part, mais en laissant la place rajeunie à un autre qui, arrivant à l'âge viril, aura la puissance d'accomplir à son tour une mission plus grande et plus utile.

Ce que nous appelons la mort n'est que le dévouement au progrès et à l'humanité. Mais rien ne meurt, tout survit et se retrouve par la transmission de la pensée des êtres partis les premiers qui tiennent encore, par la partie la plus éthérée d'eux-mêmes, à la patrie quittée, mais non oubliée, qu'ils aiment toujours, puisqu'elle est habitée par les continuateurs de leur vie, par les héritiers de leurs idées, auxquels ils se plaisent à insuffler par moments celles qu'ils n'ont pas eu le temps de semer autour d'eux, ou qu'ils n'ont pu voir progresser au gré de leurs espérances.

N'ayant plus d'organes au service de leur intelligence, ils viennent demander aux hommes de bonne volonté qu'ils apprécient, de leur céder pour un moment la place. Sublimes bienfaiteurs cachés, ils imprègnent leurs frères de la quintessence de leur pensée, afin que leur œuvre ébauchée se poursuive et s'achève en passant par le cerveau de ceux qui peuvent lui faire faire son chemin dans le monde.

Entre les amis disparus et nous, l'amour se continue, et l'amour, c'est la vie. Ils nous parlent avec la voix de notre conscience mise en éveil. Purifiés et meilleurs, ils ne nous apportent que des choses pures, dégagés qu'ils sont de toute partie matérielle comme de toutes les mesquineries de notre pauvre existence. Ils nous inspirent dans le sentiment qu'ils avaient dans ce monde, mais dans ce sentiment dégagé de tout alliage.

Il leur reste encore une part d'eux-mêmes à donner: ils nous l'apportent, en nous laissant croire que nous l'avons obtenue par notre seul labeur personnel. De là viennent ces révélations inattendues qui déroutent la science. L'esprit de Dieu souffle où il veut… Des inconnus font les grandes découvertes, et le monde officiel des académies est là pour les entraver au passage.

Nous ne prétendons pas dire que pour être inspiré, il soit indispensable de se maintenir incessamment dans les voies étroites du bien et de la vertu; mais cependant ce sont d'ordinaire des êtres moraux auxquels on vient, souvent comme compensation des maux dont ils souffrent par le fait des autres, accorder des manifestations qui leur permettent de se venger à leur manière, en apportant le tribut de quelques bienfaits à l'humanité qui les méconnaît, les raille et les calomnie.

On rencontre autant de catégories d'inspirations, et d'inspirés par suite, qu'il existe de facultés dans le cerveau humain pour s'assimiler des connaissances différentes.

La lutte effraie les Esprits épurés partis pour des mondes plus avancés, et ils désirent qu'on les écoute avec docilité. Aussi les inspirés sont-ils généralement des êtres purs, naïfs et simples, sérieux et réfléchis, pétris d'abnégation et de dévouement, sans personnalité accusée, aux impressions profondes et durables, accessibles aux influences extérieures, sans parti pris sur les choses qu'ils ignorent, assez intelligents pour s'assimiler les pensées d'autrui, mais pas assez forts moralement pour les discuter.

Si l'inspiré tient à ses propres convictions, il prend, de bonne foi, leur écho pour l'avertissement des voix qui parlent en lui, et, de bonne foi aussi, il trompe au lieu d'éclairer. La bonté préside à ces révélations, qui n'ont jamais lieu que dans un but utile et moral à la fois.

Quand une de ces organisations sympathiques est souffrante par suite d'une déception cruelle ou d'un mal physique, un ami s'intéresse à elle et vient, en donnant un autre aliment à sa pensée, lui apporter du soulagement pour elle-même, mais surtout pour ceux qui lui sont chers.

Il n'est pas rare que l'inspiré ait commencé par être un halluciné. C'est comme un noviciat, une préparation de son cerveau à concentrer son esprit et à pouvoir accepter la chose qu'on lui dira.

Parce qu'un inspiré ne peut rien formuler de concluant à un certain moment, ce n'est pas à dire pour cela qu'il ne le pourra pas faire dans d'autres. Les manifestations demeurent libres, spontanées; elles viennent quand il en est besoin. Aussi les inspirés, même les meilleurs, ne le sont- ils pas à jour et à heure fixes, et les séances annoncées à l'avance préparent souvent d'inévitables déceptions.

A faire de trop fréquentes évocations, on court risque de n'aboutir qu'à un état de surexcitation plus voisin de l'hallucination que de l'inspiration. Alors ce ne sont plus que les jeux de notre imagination en délire, au lieu de ces lumières d'un autre monde destinées à éclairer les pas de l'humanité dans sa route providentielle.

Ceci explique ces erreurs dont l'incrédulité se fait une arme pour nier d'une manière absolue l'intervention des Esprits supérieurs.

Les inspirés le sont par tous ceux qui, partis avant l'heure, ont quelque chose à nous apprendre.

Il peut arriver que la femme la plus simple, la moins instruite, ait des révélations médicales. Nous en avons vu une qui, sans savoir même ni lire ni écrire, trouvait en elle différents noms de plantes qui pouvaient guérir. La crédulité populaire l'avait presque forcée d'exploiter cette faculté. Aussi n'était-elle toujours également bien éclairée, encore qu'en tâtant le pouls de la personne malade, elle se mît en rapport avec elle: car elle était aussi de ces fluidiques dont nous parlerons tout à l'heure. Bien que faible et délicate, elle pouvait, par son contact, redonner l'équilibre à celui qui en manquait et remettre en circulation les principes vitaux arrêtés. Sans s'en rendre compte, elle faisait souvent, par ce simple attouchement, sur certaines personnes dont le fluide était identique avec le sien, plus de bien que par les remèdes qu'elle prescrivait, quelquefois par habitude seulement, et avec des variantes insignifiantes, quel que fût le mal pour lequel on la consultait.

La Providence a placé auprès de chaque homme un remède pour chaque maladie. Seulement il existe autant de natures différentes que d'individus. Les remèdes agissent différemment aussi sur chaque organisme, lequel influe sur les caractères du mal; et c'est ce qui fait qu'il est presque impossible au médecin de prescrire le remède efficace. Il connaît ses effets généraux, mais il ignore absolument dans quel sens il agira sur tel sujet qu'on lui présente.

C'est ici qu'éclate la supériorité des fluidiques et des somnambules, puisque, lorsqu'ils se trouvent dans certaines conditions de sympathie avec ceux qui viennent les consulter, les êtres supérieurs les guident avec une infaillibilité presque certaine.

Souvent cette inspiration est inconsciente d'elle-même; souvent un docteur, mais seulement auprès de certains malades, trouve subitement le remède qui peut les guérir. Ce n'est pas la science qui l'a guidé, c'est l'inspiration. La science mettait à sa disposition plusieurs modes de traitement, mais une voix intérieure lui criait un nom; il a été forcé de le dire, et ce nom était celui du remède qui devait agir, à l'exclusion de tout autre.

Ce que nous disons de la médecine existe au même titre dans toutes les autres branches du travail humain. A certaines heures, le feu de l'inspiration nous dévore, il faut céder; et si nous prétendons concentrer en nous-mêmes ce qui doit en sortir, une véritable souffrance devient le châtiment de notre révolte.

Tous ceux à qui Dieu a accordé le don sublime de création, les poètes, les savants, les artistes, les inventeurs, ont tous de ces illuminations inattendues, parfois dans un ordre de faits bien différent de leurs études ordinaires, si l'on a prétendu violenter leur vocation. Mais les Esprits savent ce que nous devons et pouvons faire, et ils viennent réveiller incessamment en nous nos attractions étouffées.

On sait comment Molière expliquait ces inégalités qui déparent les plus belles pièces de Corneille: « Ce diable d'homme, disait-il, a un génie familier qui vient par moments lui souffler à l'oreille des choses sublimes; puis tout à coup il le plante là, en lui disant: « Tire-toi de là comme tu pourras! » Et alors il ne fait plus rien qui vaille. » Molière était dans le vrai. Le fier génie de Corneille n'avait pas la docile passivité nécessaire pour subir toujours l'inspiration d'en haut. Les Esprits l'abandonnaient, et alors il s'endormait, comme Homère lui-même le faisait quelquefois.

Il en est, - Socrate et Jeanne d'Arc étaient de ceux-là, - qui entendent des voix intérieures qui parlent en eux. D'autres n'entendent rien, mais sont contraints d'obéir à une force victorieuse qui les domine.

D'autres fois, un nom vient frapper l'oreille de l'inspiré: c'est celui d'un ami, d'un individu qu'il ne connaît pas même, dont il a à peine entendu parler. La personnalité de cet ami inconnu le pénètre, s'infuse en lui; des pensées étranges viennent se substituer peu à peu aux siennes. Il a pour un moment l'esprit de celui-là; il obéit, il écrit, à son insu, malgré lui, s'il le faut, des choses qu'il ne sait pas. Et comme si cette obéissance passive à laquelle il est condamné lui était amère à supporter dans l'état éveillé, il fuit ces choses écrites sous une inspiration oppressive, et ne veut pas les lire.

Ces pensées peuvent être en désaccord formel avec ses croyances, avec ses sentiments, ou plutôt avec ceux que l'éducation lui a imposés, car, pour que certains Esprits viennent à lui, il faut qu'il existe quelques rapports entre eux. Ils lui donnent la pensée en lui laissant le soin de trouver la forme; il faut donc qu'ils sachent que son intelligence peut les comprendre, et s'assimiler momentanément leurs idées pour les traduire.

C'est qu'il est rare que les circonstances nous aient permis de nous développer dans le sens de nos aptitudes natives. Les Esprits plus avancés savent quelle corde il faut toucher pour qu'elle entre en vibration. Elle était demeurée muette, parce que l'on avait attaqué les autres en négligeant celle-là. Ils lui rendent pour un moment la vie. C'est un germe longtemps étouffé qu'ils fécondent. Puis l'inspiré, revenu à son état habituel, ne se souvient plus, car il vit d'une existence double, dont chacune est absolument indépendante de l'autre.

Il arrive cependant aussi qu'il conserve une plus grande facilité de compréhension, et conquiert un plus grand développement intellectuel. C'est la récompense de l'effort qu'il a fait pour donner une forme saisissable aux pensées que d'autres sont venus lui révéler.

Ne croyons pas que tout inspiré puisse tout connaître. Chacun, suivant ses prédispositions naturelles, mais restées souvent inconnues à lui- même comme aux autres, est inspiré pour telle ou telle chose, mais ne l'est pas également pour toutes. Il existe en effet des natures tellement antipathiques à certaines connaissances, que les Esprits ne viendront jamais frapper à une porte qu'ils savent ne pas pouvoir s'ouvrir.

L'avenir n'est connu des inspirés que dans une certaine mesure. Aussi n'est-il pas vrai de dire qu'un inspiré a prédit dans quel monde telle personne ira après sa mort, et quel jugement Dieu prononcera sur elle. Ceci est un jouet de l'imagination hallucinée. L'homme, si haut qu'il soit monté dans l'échelle des mondes, ne connaît pas quelle sera la destinée de son frère. C'est la part réservée à Dieu: jamais la créature ne pourra empiéter sur ses droits.

Oui, il y a des manifestations, mais elles ne sont pas continuelles, et notre impatience à leur égard est souvent coupable.

Oui, tout se tient, et rien n'est rompu dans l'immense univers. Oui, il existe entre cette existence et les autres un lien sympathique et indissoluble qui relie et unit les uns aux autres tous les membres de la famille humaine, et qui permet aux meilleurs de venir nous donner la connaissance de ce que nous ne savons pas. C'est par ce labeur que s'accomplit le progrès. Qu'il s'appelle travail de l'intelligence ou inspiration, c'est la même chose. L'inspiration, c'est le progrès supérieur, c'est le fond: le travail personnel y met la forme, en y ajoutant encore la quintessence des connaissances antérieurement acquises.

Pas une seule invention ne nous appartient en propre, car d'autres ont jeté avant nous la semence que nous récoltons. Nous appliquons à l'œuvre que nous voulons poursuivre les forces et le travail de la nature qui est à tous, et sans l'aide de laquelle rien ne se fait, puis les forces et le travail accumulés par les autres qui nous ont préparé les moyens de réussir.

A bien dire, tout est œuvre commune et collective, pour confirmer encore ce grand principe de solidarité et d'association qui est la base des sociétés et la loi de la création tout entière.

Le travail de l'homme ne sera jamais rendu inutile par l'inspiration. L'Esprit qui vient nous l'apporter respectera toujours cette partie réservée à l'individu; il la respectera comme une noble et sainte chose, puisque le travail met l'homme en possession des facultés que Dieu a déposées en germe dans son âme, afin que le but de sa vie fût de les féconder. C'est par leur développement qu'il a appris à se bien connaître, et qu'il a mérité de se rapprocher de lui.

L'inspiration vient indifféremment le jour, la nuit, dans la veille ou pendant le sommeil. Seulement elle exige le recueillement. Il lui faut rencontrer des natures qui puissent s'abstraire de toute préoccupation du monde réel, pour donner la place libre et vacante à l'être qui viendra l'envelopper tout entier et lui infuser ses pensées.

Aux heures de l'inspiration, l'homme devient beaucoup plus accessible à tous les bruits extérieurs, et tout ce qui vient du monde réel le trouble. Il n'est plus dans ce monde, il est dans un milieu transitoire entre celui-ci et l'autre, puisqu'il est en quelque sorte imbibé de la personne morale et intellectuelle d'un être monté dans une autre sphère, et que cependant son corps tient à celle-ci.

Bien qu'elle s'adresse à tous, l'inspiration descendra plus généralement sur les natures maladives ou usées par une succession de souffrances, matérielles ou morales. Puisqu'elle est un bienfait, n'est-il pas juste que ceux qui souffrent soient plus facilement aptes à la recevoir?

L'hallucination est un état maladif que le magnétisme peut modifier d'une façon salutaire. L'inspiration est une assimilation morale qu'il faut se garder de provoquer par des passes magnétiques. L'halluciné se livre volontiers à des emportements, à des contorsions ridicules. L'inspiré est calme.

Les inspirés sont mélancoliques. Ils ont besoin d'être réfléchis; pour être gai, il faut ne pas beaucoup réfléchir; il faut jouir, dans sa santé, d'un équilibre que les inspirés ne possèdent pas toujours. Mais n'allons pas croire qu'ils soient difficiles et fantasques. Ils se montrent au contraire doux et faciles avec ceux qu'ils aiment.

Il y a des inspirés de plusieurs degrés. Les uns viennent vous dire des choses palpables, des faits de seconde vue, pour que l'on puisse constater la réalité de l'initiation. Les autres, plus clairvoyants et peu soucieux des procédés matériels dont ils ne sont pas appelés à divulguer les secrets, répètent, comme elles leur viennent, les pensées apportées par des Esprits de progrès. Les premiers guérissent le corps, les seconds sont les médecins de l'âme.

La mission des plus modestes se borne à révéler comment ces choses leur viennent. C'est un fait constaté que des puissances avancées de bien des degrés sur nous viennent nous dominer et nous inspirer. A quoi bon le répéter? Croira qui voudra. Mais les constatations étant bien établies, il ne faut prendre des inspirés que le côté utile et sérieux. Peu importe, si les idées sont bonnes, de quelles sources elles viennent.

EUG. BONNEMÈRE.

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