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Revista Espírita 1866 » Julho » Questões e problemas » Visão retrospectiva das várias encarnações de um Espírito

A propósito do Dr. Cailleux.

 

Um dos nossos correspondentes de Lyon nos escreve o seguinte:

“Fiquei surpreso que o Espírito do Dr. Cailleux tenha sido posto em estado magnético para ver desenrolar-se à sua frente o quadro de suas existências passadas (Revista de junho de 1866). Isto parece indicar que o Espírito em questão não as conhecia, porque, em O Livro dos Espíritos, eu leio que ‘Depois da morte, a alma vê e abarca de um golpe de vista suas emigrações passadas’ (Item 243). Esse fato não parece implicar uma contradição?”

Não há aí nenhuma contradição, pois, ao contrário, o fato vem confirmar a possibilidade, para o Espírito, de conhecer suas existências passadas. O Livro dos Espíritos não é um tratado completo do Espiritismo; ele apenas apresenta as bases e os pontos fundamentais que se devem desenvolver sucessivamente pelo estudo e pela observação. Ele diz, em princípio, que após a morte a alma vê as suas migrações passadas, mas não diz quando nem como isto se dá. Eis os detalhes de aplicação, que são subordinados às circunstâncias. Sabe-se que nos Espíritos atrasados a visão é limitada ao presente, ou pouco mais, como na Terra. Ela se desenvolve com a inteligência e à medida que eles adquirem cons­ciência de sua situação. Ademais, não deveríamos acreditar que, mesmo em se tratando de Espíritos adiantados, como o Sr. Cailleux, por exemplo, tão logo eles tenham adentrado o mundo espiritual, todas as coisas lhes apareçam subitamente, como uma mudança de decoração ao vivo, nem que tenham constantemente sob os olhos o panorama do tempo e do espaço. Quanto às suas existências anteriores, eles as veem como uma lembrança, como vemos, pelo pensamento, o que éramos e fazíamos nos anos anteriores: as cenas de nossa infância, as posições sociais que ocupamos. Essa lembrança é mais ou menos precisa ou confusa, às vezes nula, segundo a natureza do Espírito, e conforme a Providência julgue conveniente apagá-la ou reavivá-la, como recompensa, punição ou instrução. É um grande erro crer que as aptidões, as faculdades e as percepções sejam iguais em todos os Espíritos. Como na encarnação, eles têm percepções morais e aquelas que podemos chamar de materiais, que variam conforme os indivíduos.

Se o Dr. Cailleux tivesse dito que os Espíritos não podem ter conhecimento de suas existências passadas, aí estaria a contradição, pois isto seria a negação de um princípio admitido. Longe disto, ele afirma o fato; apenas as coisas nele aconteceram de maneira diferente do que nos outros, sem dúvida por motivos de utilidade para ele, e para nós é um motivo de ensinamento, pois isso nos mostra um dos lados do mundo espiritual. O Sr. Cailleux estava morto há pouco tempo; suas existências passadas podiam, pois, não se retratarem ainda claramente em sua memória. Notemos, além disso, que aqui não era uma simples lembrança; era a própria visão das individualidades que ele tinha animado; a imagem de suas antigas formas perispirituais que se lhe apresentavam. Ora, o estado magnético no qual ele se encontrou provavelmente era necessário à produção do fenômeno.

O Livro dos Espíritos foi escrito na origem do Espiritismo, em uma época em que se estava longe de ter feito todos os estudos práticos que foram feitos depois. As observações ulteriores vieram desenvolver e completar os princípios cujo germe ele havia lançado, e é mesmo digno de nota que até hoje elas apenas os confirmaram, sem jamais contradizê-los nos pontos fundamentais.

 

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