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Revista Espírita 1864 » Março » Da perfeição dos seres criados Revue Spirite 1864 » Mars » De la perfection des êtres créés

Por vezes pergunta-se se Deus não teria podido criar os Espíritos perfeitos, para lhes poupar o mal e todas as suas consequências.

Sem dúvida Deus teria podido, pois é todo-poderoso. Se não o fez, é que, em sua suprema sabedoria, julgou mais útil que fosse de outro modo. Não cabe aos homens perscrutar seus desígnios, e menos ainda julgar e condenar suas obras.

Considerando-se que não pode admitir Deus sem o infinito das perfeições, sem a soberana bondade e a soberana justiça, que tem sob os olhos, incessantemente, provas de sua solicitude pelas suas criaturas, o homem deve pensar que essa solicitude não podia ter falhado na criação dos Espíritos.

 O homem, na Terra, é como a criança, cuja visão limitada não vai além do estreito círculo do presente, e não pode julgar da utilidade de certas coisas. Ele deve, pois, inclinar-se ante o que ainda está além do seu alcance. Contudo, tendo-lhe Deus dado a inteligência para se guiar, não lhe é defeso procurar compreender, parando humildemente no limite que não pode transpor.

Sobre todas as coisas mantidas no segredo de Deus, o homem não pode estabelecer senão sistemas mais ou menos prováveis. Para julgar qual desses sistemas mais se aproxima da verdade, há um critério seguro, que são os atributos essenciais da Divindade. Toda teoria, toda doutrina filosófica ou religiosa que tendesse a destruir a mínima parte de um só desses atributos pecaria pela base e seria, por isto mesmo, manchada de erro, de onde se segue que o sistema mais verdadeiro será aquele que melhor se acomodar com esses atributos.

Sendo Deus todo sabedoria e todo bondade, não poderia ter criado o mal como contrapeso do bem. Se ele tivesse feito do mal uma lei necessária, teria voluntariamente enfraquecido o poder do bem, porque aquilo que é mal não pode senão alterar e não fortalecer o que é bem.

Deus estabeleceu leis que são inteiramente justas e boas. O homem seria perfeitamente feliz se as observasse escrupulosamente, mas a menor infração dessas leis causa uma perturbação cujo contragolpe ele experimenta, e daí resultam todas as suas vicissitudes. É, pois, ele próprio a causa do mal, por sua desobediência às leis de Deus. Deus o criou livre de escolher seu caminho. Aquele que tomou o mau caminho o fez por sua vontade, e não pode acusar senão a si próprio pelas consequências para si decorrentes. Pelo destino da Terra, só vemos os Espíritos dessa categoria, e isto fez com que se acreditasse na necessidade do mal. Se pudéssemos abraçar o conjunto dos mundos, veríamos que os Espíritos que ficaram no bom caminho percorrem as diversas fases de sua existência em condições completamente diversas e que, desde que o mal não é geral, não poderia ser indispensável. Mas resta ainda a questão de saber por que Deus não criou os Espíritos perfeitos. Esta questão é análoga a esta outra: Por que a criança não nasce completamente desenvolvida, com todas as aptidões, toda a experiência e todos os conhecimentos da idade viril?

Há uma lei geral que rege todos os seres da criação, animados e inanimados. É a lei do progresso. Os Espíritos são a ela submetidos pela força das coisas, sem o que a exceção teria perturbado a harmonia geral, e Deus quis dar-nos um exemplo abreviado na progressão da infância. Porém, não existindo o mal como uma necessidade na ordem das coisas, pois ele só existe em função dos Espíritos prevaricadores, a lei do progresso absolutamente não obriga os homens a passar por essa fieira para chegar ao bem. Ela não os força senão a passar pelo estado de inferioridade intelectual ou, por outras palavras, pela infância espiritual.

Criados simples e ignorantes, e por isso mesmo imperfeitos, ou melhor, incompletos, devem adquirir por si mesmos e por sua própria atividade, a ciência e a experiência que de início não pedem ter.

Se Deus os tivesse criado perfeitos, deveria tê-los dotado, desde o instante de sua criação, com a universalidade dos conhecimentos. Ele os teria isentado de todo trabalho intelectual, mas, ao mesmo tempo, lhes teria tirado toda a atividade, que devem desenvolver para adquiri-los, e pela qual concorrem, como encarnados e desencarnados, ao aperfeiçoamento material dos mundos, trabalho que não cabe mais aos Espíritos superiores, encarregados somente de dirigir o aperfeiçoamento moral. Por sua própria inferioridade, eles se tornam uma engrenagem essencial à obra geral da criação.

Por outro lado, se Deus os tivesse criado infalíveis, isto é, isentos da possibilidade de fazer o mal, eles fatalmente teriam sido impelidos ao bem, como mecanismos bem montados que fazem automaticamente obras de precisão. Mas, então, não mais livre-arbítrio e, por consequência, não mais independência. Eles ter-se-iam assemelhado a esses homens que nascem com a fortuna feita e se julgam dispensados de fazer qualquer coisa. Submetendo-os à lei do progresso facultativo, quis Deus que tivessem o mérito de suas obras, para ter direito à recompensa e desfrutar a satisfação de haverem conquistado por si mesmos sua posição.

Sem a lei universal do progresso aplicada a todos os seres, deveria haver uma ordem de coisas completamente diferente a ser estabelecida. Sem dúvida, Deus tinha essa possibilidade, mas por que não o fez? Teria sido melhor de outro modo? Assim, ter-se-ia enga­nado! Ora, se Deus pôde enganar-se, é que ele não é perfeito, e se não é perfeito, não é Deus. Desde que não se pode concebê-lo sem a perfeição infinita, há que concluir-se que o que ele fez é o melhor. Se ainda não estamos aptos a compreender os seus motivos, certamente podê-lo-emos mais tarde, num estado mais adiantado. Enquanto esperamos, se não pudermos sondar as causas, poderemos observar os efeitos e reconhecer que tudo no universo é regido por leis harmônicas, cuja sabedoria e admirável previdência confundem o nosso entendimento. Muito presunçoso, pois, seria aquele que pretendesse que Deus deveria ter regulado o mundo de outra maneira, pois isto significaria que, em seu lugar, teria feito melhor. Tais são os Espíritos cujo orgulho e ingratidão Deus castiga, relegando-os a mundos inferiores, de onde só sairão quando, curvando a cabeça sob a mão que os fere, reconhecerem o seu poder. Deus não lhes impõe esse reconhecimento. Ele quer que o reconhecimento seja voluntário e fruto de suas observações, razão por que os deixa livres e espera que, vencidos pelo próprio mal que a si atraem, voltem para ele.

A isto respondem: “Compreende-se que Deus não tenha criado os Espíritos perfeitos, mas se julgou a propósito submetê-los todos à lei do progresso, não teria podido, pelo menos, criá-los felizes, sem submetê-los todos às misérias da vida? A rigor, compreende-se o sofrimento para o homem, pois ele pode ter desmerecido, mas os animais também sofrem; entredevoram-se; os grandes comem os pequenos. Há alguns cuja vida não passa de longo martírio. Como nós, têm eles o livre-arbítrio, e desmereceram?”

Tal é, ainda, a objeção por vezes feita e à qual os argumentos acima podem servir de resposta. Não obstante, acrescentaremos algumas considerações.

Sobre o primeiro ponto diremos que a felicidade completa é resultado da perfeição. Considerando-se que as vicissitudes são o produto da imperfeição, criar os Espíritos perfeitamente felizes fora criá-los perfeitos.

A questão dos animais exige alguns desenvolvimentos. Eles têm um princípio inteligente, isto é incontestável. De que na­tureza é esse princípio? Que relações tem ele com o do homem? É estacionário em cada espécie, ou progressivo ao passar de uma a outra espécie? Qual é, para ele, o limite do progresso? Ele caminha paralelamente com o homem, ou é o mesmo princípio que se elabora e ensaia a vida nas espécies inferiores, para receber, mais tarde, novas faculdades e sofrer a transformação humana? Estas são outras tantas questões até hoje insolúveis, e se o véu que cobre esse mistério ainda não foi levantado pelos Espíritos, é que isto teria sido prematuro, pois o homem ainda não está maduro para receber toda a luz. É verdade que vários Espíritos deram teorias a respeito, mas nenhuma tem um caráter bastante autêntico para ser aceita como verdade definitiva. Assim, até nova ordem, elas não podem ser consideradas senão como sistemas individuais. Só a concordância lhes pode dar a consagração, pois nisto está o único e verdadeiro controle do ensino dos Espíritos. Eis por que estamos longe de aceitar como verdades irrefutáveis tudo quanto eles ensinam individualmente. Um princípio, seja qual for, para nós só adquire autenticidade pela universalidade do ensinamento, isto é, por instruções idênticas dadas em todos os lugares por médiuns estranhos uns aos outros sem sofrer as mesmas influências, notoriamente isentos de obsessões e assistidos por Espíritos bons e esclarecidos. Por Espíritos esclarecidos deve entender-se os que provam sua superioridade pela sua elevação de pensamento e pelo o alto alcance de seus ensinos, jamais se contradizendo e jamais dizendo nada que a lógica mais rigorosa não possa admitir. Assim é que foram controladas as diversas partes da doutrina, formulada no Livro dos Espíritos e no Livro dos médiuns. Tal não é ainda o caso da questão dos animais, e é por isso que ainda não a resolvemos. Até a constatação mais séria, não se devem aceitar teorias que possam ser dadas a respeito, senão com reservas, e esperar sua confirmação ou sua negação.

Em geral nunca seria demasiada a prudência em face a teorias novas, sobre as quais poderíamos ter ilusões. Assim, quantas vimos, desde a origem do Espiritismo, que, publicadas prematuramente, apenas tiveram vida efêmera! Assim será com todas as que apenas tiverem caráter individual e não tiverem passado pelo controle da concordância.

Em nossa posição, recebendo as comunicações de cerca de mil centros espíritas sérios disseminados em diversos pontos do globo, estamos em condições de ver os princípios sobre os quais houve concordância. Foi essa observação que nos guiou até hoje e nos guiará igualmente nos novos campos que o Espiritismo é chamado a explorar. É assim que, desde algum tempo, observamos nas comunicações vindas de vários lados, quer da França, quer do estrangeiro, uma tendência a entrar numa via nova, através de revelações de uma natureza toda especial.

Essas revelações, muitas vezes em palavras veladas, passaram despercebidas por muitos dos que as receberam, e muitos outros se supuseram os únicos a recebê-las. Consideradas isoladamente, para nós não teriam valor, mas a sua coincidência lhes dá alta importância, que terá de ser julgada mais tarde, quando chegar o momento de levá-las à luz da publicidade.

Sem essa concordância, quem poderia estar seguro de estar com a verdade? A razão, a lógica, o raciocínio, sem dúvida são os primeiros meios de controle a serem usados. Em muitos casos isto basta, mas quando se trata de um princípio importante, da emissão de uma ideia nova, seria presunção crer-se infalível na apreciação das coisas. É este, ademais, um dos caracteres distintivos da revelação nova, o de ser feita em toda parte ao mesmo tempo. Assim acontece com as diversas partes da doutrina. Aí está a experiência para provar que todas as teorias aventurosas por Espíritos sistemáticos e pseudossábios sempre foram isoladas e localizadas. Nenhuma delas tornou-se geral e suportou o controle da concordância. Várias, mesmo, caíram no ridículo, prova evidente de que não estavam certas. O controle universal é uma garantia para a futura unidade da doutrina.

Esta digressão afastou-nos um pouco do assunto, mas era útil, para dar a conhecer nossa maneira de proceder no caso de teorias novas concernentes ao Espiritismo, que está longe de haver dado sua última palavra sobre todas as coisas. Jamais as emitimos antes que tenham recebido a sanção de que acabamos de falar, razão pela qual algumas pessoas um tanto impacientes se admiram de nosso silêncio em certos casos. Como sabemos que cada coisa virá a seu tempo, não cedemos a nenhuma pressão, venha de onde vier, pois sabemos a sorte dos que querem ir muito depressa e têm em si mesmos e em suas próprias luzes uma confiança muito grande. Não queremos colher o fruto antes de sua maturação, mas podemos ter certeza de que, quando estiver maduro, não o deixaremos cair.

Estabelecido este ponto, pouco nos resta a dizer sobre a questão proposta, embora o ponto capital ainda não possa ser resolvido.

É incontestável que os animais sofrem, mas é racional imputar esses sofrimentos à imprevidência do Criador ou a uma falta de bondade de sua parte pelo fato de a causa escapar à nossa inteligência, assim como a utilidade dos deveres e da disciplina escapa ao escolar? Ao lado desse mal aparente não se vê brilhar a sua solicitude pelas mais ínfimas de suas criaturas? Não são os animais providos de meios de conservação adequados ao meio onde devem viver? Não se vê que a sua pelagem desenvolve-se mais ou menos, conforme o clima? Seu aparelho de nutrição, suas armas ofensivas e defensivas proporcionais aos obstáculos a vencer e aos inimigos a combater? Em presença destes fatos tão multiplicados, cujas consequências só escapam ao olho do materialista, está bem fundamentado aquele que disser que não há Providência para eles? Não, por certo, posto nossa visão seja muito limitada para julgar a lei do conjunto. Nosso ponto de vista, restrito ao pequeno círculo que nos envolve, só nos deixa ver irregularidades aparentes, mas quando nos elevamos pelo pensamento acima do horizonte terreno, essas irregularidades se apagam ante a harmonia geral.

O que mais choca nesta observação localizada, é a destruição dos seres, uns pelos outros. Considerando-se que Deus prova a sua sabedoria e a sua bondade em tudo o que podemos compreender, é forçoso admitir que a mesma sabedoria presida o que não compreendemos. Aliás, não costumamos maximizar a importância dessa destruição senão pela que atribuímos à matéria, sempre por força do estreito ponto de vista em que o homem se coloca.

Definitivamente, só o envoltório se destrói, ao passo que o princípio inteligente não é aniquilado. O Espírito é tão indiferente à perda de seu corpo quanto o homem à de sua roupa. Essa destruição dos envoltórios temporários é necessária à formação e à manutenção dos novos envoltórios que se constituem com os mesmos elementos, mas o princípio inteligente não é atingido, quer nos animais, quer no homem.

Resta o sofrimento que por vezes a destruição desse envoltório acarreta. O Espiritismo nos ensina e nos prova que o sofrimento, no homem, é útil ao seu avanço moral. Quem nos diz que aquele que os animais suportam não tem também sua utilidade; que ele não é, na sua esfera e conforme uma certa ordem de coisas, uma causa de progresso? É certo que isto não passa de hipótese, mas ao menos se apoia nos atributos de Deus: a justiça e a bondade, enquanto as outras são a sua negação.

Tendo sido debatida, em sessão da Sociedade Espírita de Paris, a questão da criação dos seres perfeitos, o Espírito Erasto ditou, a respeito, a comunicação adiante transcrita.

SOBRE A NÃO PERFEIÇÃO DOS SERES CRIADOS

 

(SOCIEDADE ESPÍRITA DE PARIS, 5 DE FEVEREIRO DE 1864)

(MÉDIUM: SR. D’AMBEL)

 

Por que não criou Deus todos os seres perfeitos? Em virtude mesmo da lei do progresso. É fácil compreender a economia desta lei. Aquele que marcha está no movimento, isto é, na lei da atividade humana; aquele que não progride, que em essência se acha estacionário, incontestavelmente não pertence à gradação ou à hierarquia humanitária. Explico-me. O homem que nasce numa posição mais ou menos elevada, acha em sua situação nativa um dado estado de ser. Ora! Ele está certo de que se sua vida inteira decorresse nessa situação, sem que ele lhe tivesse trazido modificações por sua ação ou pela de outrem, ele declararia que a sua existência é monótona, aborrecida, fatigante, numa palavra, insuportável. Acrescento que ele teria perfeita razão, visto que o bem só é bem relativamente ao que lhe é inferior. Isto é tão certo que se puserdes o homem num paraíso terrestre, num paraíso onde não se progride mais, em dado tempo ele achará a existência insustentável e aquela morada um impiedoso inferno. Daí resulta, de maneira absoluta, que a lei imutável dos mundos é o progresso ou o movimento para a frente, isto é, que todo Espírito que é criado está inevitavelmente submetido a essa grande e sublime lei da vida. Consequentemente, assim é a própria lei humana.

Só existe um ser perfeito, e não pode existir senão um: Deus! Ora, pedir ao Ser Supremo a criação de Espíritos perfeitos, seria pedir-lhe que criasse algo de semelhante e igual a si. Emitir semelhante proposição, não é condená-la previamente? Ó homens! Por que perguntar sempre qual a razão de ser de certas questões insolúveis ou acima do entendimento humano? Lembrai-vos sempre que só Deus pode ficar e viver na sua imobilidade gigantesca. Ele é o supremo senhor de todas as coisas, o alfa e o ômega de toda a vida.

Ah! Crede-me, filhos, jamais busqueis levantar o véu que cobre esse grandioso mistério, que os maiores Espíritos da criação não abordam sem tremor.

Quanto a mim, humilde pioneiro da iniciação, tudo o que vos posso afirmar é que a imobilidade é um dos atributos de Deus, ou do Criador, e que o homem, e tudo o que é criado, têm como atributo a mobilidade.

Compreendei, se o puderdes, ou esperai a hora de uma explicação mais inteligível, isto é, mais ao alcance do vosso entendimento.

Não trato senão desta parte da questão, pois vos quis provar apenas que não tinha ficado alheio à vossa discussão. Sobre todo o resto, reporto-me ao que foi dito, pois todos me pareceram da mesma opinião. Em breve falarei dos outros casos que foram assinalados (os casos de Poitiers).

 

ERASTO

 

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On se demande parfois si Dieu n'aurait pas pu créer les Esprits parfaits pour leur épargner le mal et toutes ses conséquences.

Sans doute Dieu l'aurait pu, puisqu'il est tout-puissant, et s'il ne l'a pas fait, c'est qu'il a jugé, dans sa souveraine sagesse, plus utile qu'il en fût autrement. Il n'appartient pas à l'homme de scruter ses desseins, et encore moins de juger et de condamner ses œuvres. Puisqu'il ne peut admettre Dieu sans l'infini des perfections, sans la souveraine bonté et la souveraine justice, qu'il a incessamment sous les yeux des milliers de preuves de sa sollicitude pour ses créatures, il doit penser que cette sollicitude n'a pu faire défaut à la création des Esprits. L'homme, sur la terre, est comme l'enfant, dont la vue bornée ne s'étend pas au delà du cercle étroit du présent, et ne peut juger de l'utilité de certaines choses. Il doit donc s'incliner devant ce qui est encore au-dessus de sa portée. Toutefois, Dieu lui ayant donné l'intelligence pour se guider, il ne lui est pas défendu de chercher à comprendre, tout en s'arrêtant humblement devant la limite qu'il ne peut franchir. Sur toutes les choses restées dans le secret de Dieu, il ne peut établir que des systèmes plus ou moins probables. Pour juger celui de ces systèmes qui se rapproche le plus de la vérité, il a un critérium sûr, ce sont les attributs essentiels de la Divinité; toute théorie, toute doctrine philosophique ou religieuse qui tendrait à détruire la plus minime partie d'un seul de ces attributs pécherait par la base, et serait, par cela même, entachée d'erreur; d'où il suit que le système le plus vrai sera celui qui s'accordera le mieux avec ces attributs.

Dieu étant toute sagesse et toute bonté n'a pu créer le mal pour faire contre-poids au bien; s'il avait fait du mal une loi nécessaire, il eût volontairement affaibli la puissance du bien, car ce qui est mauvais ne peut qu'altérer et non fortifier ce qui est bien. Il a établi des lois qui sont toutes justes et bonnes; l'homme serait parfaitement heureux s'il les observait scrupuleusement; mais la moindre infraction à ces lois cause une perturbation dont il éprouve le contre-coup, de là toutes ses vicissitudes; c'est donc lui-même qui est la cause du mal par sa désobéissance aux lois de Dieu. Dieu l'a créé libre de choisir sa route; celui qui a pris la mauvaise l'a fait par sa volonté, et ne peut que s'accuser des conséquences qui en résultent pour lui. Par la destination de la terre, nous ne voyons que les Esprits de cette catégorie, et c'est ce qui a fait croire à la nécessité du mal; si nous pouvions embrasser l'ensemble des mondes, nous verrions que les Esprits qui sont restés dans la bonne voie parcourent les différentes phases de leur existence dans de tout autres conditions, et que dès lors que le mal n'étant pas général, il ne saurait être indispensable. Mais reste toujours la question de savoir pourquoi Dieu n'a pas créé les Esprits parfaits. Cette question est l'analogue de celle-ci: Pourquoi l'enfant ne naît-il pas tout développé, avec toutes les aptitudes, toute l'expérience et toutes les connaissances de l'âge viril?

Il est une loi générale qui régit tous les êtres de la création, animés et inanimés: c'est la loi du progrès; les Esprits y sont soumis par la force des choses, sans cela cette exception eût troublé l'harmonie générale, et Dieu a voulu nous en donner un exemple en abrégé dans la progression de l'enfance. Mais le mal n'existant pas comme nécessité dans l'ordre des choses, puisqu'il n'est le fait que des Esprits prévaricateurs, la loi du progrès ne les oblige nullement à passer par cette filière pour arriver au bien; elle ne les astreint qu'à passer par l'état d'infériorité intellectuelle, autrement dit par l'enfance spirituelle. Créés simples et ignorants, et par cela même imparfaits, ou, mieux, incomplets, ils doivent acquérir par eux-mêmes et par leur propre activité la science et l'expérience qu'ils ne peuvent avoir au début. Si Dieu les eût créés parfaits, il aurait dû les doter, dès l'instant de leur création, de l'universalité des connaissances; il les eût ainsi exemptés de tout travail intellectuel; mais en même temps il leur eût ôté l'activité qu'ils doivent déployer pour acquérir, et par laquelle ils concourent, comme incarnés et désincarnés, au perfectionnement matériel des mondes, travail qui n'incombe plus aux Esprits supérieurs chargés seulement de diriger le perfectionnement moral. Par leur infériorité même ils deviennent un rouage essentiel à l'œuvre générale de la création. D'un autre côté, s'il les eût créés infaillibles, c'est-à-dire exempts de la possibilité de mal faire, ils eussent été fatalement poussés au bien comme des mécaniques bien montées qui accomplissent machinalement des ouvrages de précision; mais alors plus de libre arbitre, et par conséquent plus d'indépendance; ils eussent ressemblé à ces hommes qui naissent avec la fortune toute faite, et se croient dispensés de rien faire. En les soumettant à la loi du progrès facultatif, Dieu a voulu qu'ils eussent le mérite de leurs œuvres pour avoir droit à la récompense et jouir de la satisfaction d'avoir eux-mêmes conquis leur position.

Sans la loi universelle du progrès appliquée à tous les êtres, c'eût été un ordre de choses tout autre à établir. Dieu, sans doute, en avait la possibilité; pourquoi ne l'a-t-il pas fait? Eût-il mieux fait d'agir autrement? Dans cette hypothèse il se serait donc trompé! Or, si Dieu a pu se tromper, c'est qu'il n'est pas parfait; s'il n'est pas parfait, c'est qu'il n'est pas Dieu. Dès lors qu'on ne peut le concevoir sans la perfection infinie, il en faut conclure que ce qu'il a fait est pour le mieux; si nous ne sommes pas encore aptes à comprendre ses motifs, nous le pourrons sans doute plus tard, dans un état plus avancé. En attendant, si nous ne pouvons sonder les causes, nous pouvons observer les effets, et reconnaître que tout, dans l'univers, est régi par des lois harmoniques dont la sagesse et l'admirable prévoyance confondent notre entendement. Bien présomptueux serait donc celui qui prétendrait que Dieu aurait dû régler le monde autrement, car cela signifierait qu'à sa place il eût mieux fait que lui. Tels sont les Esprits dont Dieu châtie l'orgueil et l'ingratitude en les reléguant dans les mondes intérieurs, d'où ils ne sortiront que lorsque, courbant la tête sous la main qui les frappe, ils reconnaîtront sa puissance. Dieu ne leur impose point cette reconnaissance; il veut qu'elle soit volontaire et le fruit de leurs observations, c'est pourquoi il les laisse libres et attend que, vaincus par le mal même qu'ils s'attirent, ils reviennent à lui.

A cela on répond: « On comprend que Dieu n'ait pas créé les Esprits parfaits, mais s'il a jugé à propos de les soumettre tous à la loi du progrès, n'aurait-il pu, tout au moins, les créer heureux, sans les assujettir à toutes les misères de la vie? A la rigueur, la souffrance se comprend pour l'homme, parce qu'il a pu démériter, mais les animaux souffrent aussi; ils se mangent entre eux; les gros dévorent les plus petits. Il en est dont la vie n'est qu'un long martyre; ont-ils, comme nous, leur libre arbitre, et ont-ils démérité? »

Telle est encore l'objection que l'on fait quelquefois et à laquelle les arguments ci-dessus peuvent servir de réponse; nous y ajouterons néanmoins quelques considérations.

Sur le premier point, nous dirons que le bonheur complet est le résultat de la perfection; puisque les vicissitudes sont le produit de l'imperfection, créer les Esprits parfaitement heureux, c'eût été les créer parfaits.

La question des animaux demande quelques développements. Ils ont un principe intelligent, cela est incontestable. De quelle nature est ce principe? Quels rapports a-t-il avec celui de l'homme? Est-il stationnaire dans chaque espèce, ou progressif en passant d'une espèce à l'autre? Quelle est pour lui la limite du progrès? Marche-t-il parallèlement à l'homme, ou bien est-ce le même principe qui s'élabore et s'essaye à la vie dans les espèces inférieures, pour recevoir plus tard de nouvelles facultés et subir la transformation humaine? Ce sont autant de questions restées insolubles jusqu'à ce jour, et si le voile qui couvre ce mystère n'a pas encore été levé par les Esprits, c'est que cela eût été prématuré: l'homme n'est pas encore mûr pour recevoir toute lumière. Plusieurs Esprits ont, il est vrai, donné des théories à ce sujet, mais aucune n'a un caractère assez authentique pour être acceptée comme vérité définitive; on ne peut donc les considérer, jusqu'à nouvel ordre, que comme des systèmes individuels. La concordance seule peut leur donner une consécration, car là est le seul et véritable contrôle de l'enseignement des Esprits. C'est pourquoi nous sommes loin d'accepter comme des vérités irrécusables tout ce qu'ils enseignent individuellement; un principe, quel qu'il soit, n'acquiert pour nous d'authenticité que par l'universalité de l'enseignement, c'est-à-dire par des instructions identiques données sur tous les points par des médiums étrangers les uns aux autres et ne subissant point les mêmes influences, notoirement exempts d'obsessions et assistés par des Esprits bons et éclairés; par Esprits éclairés, il faut entendre ceux qui prouvent leur supériorité par l'élévation de leurs pensées, la haute portée de leurs enseignements, ne se contredisant jamais, et ne disant jamais rien que la logique la plus rigoureuse ne puisse admettre. C'est ainsi qu'ont été contrôlées les diverses parties de la doctrine formulée dans le Livre des Esprits et dans le Livre des Médiums. Tel n'est pas encore le cas de la question des animaux, c'est pourquoi nous ne l'avons point tranchée; jusqu'à constatation plus sérieuse, il ne faut accepter les théories qui peuvent être données à ce sujet que sous bénéfice d'inventaire, et en attendre la confirmation ou la négation.

En général, on ne saurait apporter trop de prudence en fait de théories nouvelles sur lesquelles on peut se faire illusion; aussi combien en a-t-on vu, depuis l'origine du Spiritisme, qui, prématurément livrées à la publicité, n'ont eu qu'une existence éphémère! Ainsi en sera-t-il de toutes celles qui n'auront qu'un caractère individuel et n'auront pas subi le contrôle de la concordance. Dans notre position, recevant les communications de près de mille centres Spirites sérieux disséminés sur les divers points du globe, nous sommes à même de voir les principes sur lesquels cette concordance s'établit; c'est cette observation qui nous a guidé jusqu'à ce jour, et c'est également celle qui nous guidera dans les nouveaux champs que le Spiritisme est appelé à explorer. C'est ainsi que, depuis quelque temps, nous remarquons dans les communications venues de divers côtés, tant de la France que de l'étranger, une tendance à entrer dans une voie nouvelle, par des révélations d'une nature toute spéciale. Ces révélations, souvent faites à mots couverts, ont passé inaperçues pour beaucoup de ceux qui les ont obtenues; beaucoup d'autres ont cru les avoir seuls; prises isolément, elles seraient pour nous sans valeur, mais leur coïncidence leur donne une haute gravité, dont on sera à même de juger plus tard, quand le moment sera venu de les livrer au grand jour de la publicité.

Sans cette concordance, qui est-ce qui pourrait être assuré d'avoir la vérité? La raison, la logique, le jugement, sont sans doute les premiers moyens de contrôle dont il faut faire usage; en beaucoup de cas cela suffit; mais quand il s'agit d'un principe important, de l'émission d'une idée nouvelle, il y aurait présomption à se croire infaillible dans l'appréciation des choses; c'est d'ailleurs un des caractères distinctifs de la révélation nouvelle, d'être faite sur tous les points à la fois; ainsi en est-il des diverses parties de la doctrine. L'expérience est là pour prouver que toutes les théories hasardées par des Esprits systématiques et faux savants ont toujours été isolées et localisées; aucune n'est devenue générale et n'a pu supporter le contrôle de la concordance; plusieurs même sont tombées sous le ridicule, preuve évidente qu'elles n'étaient pas dans le vrai. Ce contrôle universel est une garantie pour l'unité future de la doctrine.

Cette digression nous a quelque peu écarté de notre sujet, mais elle était utile pour faire connaître de quelle manière nous procédons en fait de théories nouvelles concernant le Spiritisme, qui est loin d'avoir dit son dernier mot sur toutes choses. Nous n'en émettons jamais qui n'aient reçu la sanction dont nous venons de parler, c'est pourquoi quelques personnes, un peu trop impatientes, s'étonnent de notre silence dans certains cas. Comme nous savons que chaque chose doit venir en son temps, nous ne cédons à aucune pression, de quelque part qu'elle vienne, sachant le sort de ceux qui veulent aller trop vite et ont en eux-mêmes et en leurs propres lumières une trop grande confiance; nous ne voulons pas cueillir un fruit avant sa maturité; mais on peut être assuré que, lorsqu'il sera mûr, nous ne le laisserons pas tomber.

Ce point établi, il nous reste peu de chose à dire sur la question proposée, le point capital ne pouvant être encore résolu.

Il est constant que les animaux souffrent; mais est-il rationnel d'imputer ces souffrances à l'imprévoyance du Créateur ou à un manque de bonté de sa part, parce que la cause échappe à notre intelligence, comme l'utilité des devoirs et de la discipline échappe à l'écolier? A côté de ce mal apparent ne voit-on pas éclater sa sollicitude pour les plus infimes de ses créatures? Les animaux ne sont-ils pas pourvus des moyens de conservation appropriés au milieu où ils doivent vivre? Ne voit-on pas leur pelage se fournir plus ou moins selon le climat? leur outillage de nutrition, leurs armes offensives et défensives proportionnés aux obstacles qu'ils ont à vaincre et aux ennemis qu'ils ont à combattre? En présence de ces faits si multipliés, et dont les conséquences n'échappent qu'à l'œil du matérialiste, est-on fondé à dire qu'il n'y a pas pour eux de Providence? Non, certes; mais bien que notre vue est trop bornée pour juger la loi de l'ensemble. Notre point de vue, restreint au petit cercle qui nous environne, ne nous laisse voir que des irrégularités apparentes; mais quand nous nous élevons par la pensée au-dessus de l'horizon terrestre, ces irrégularités s'effacent devant l'harmonie générale.

Ce qui choque le plus dans cette observation localisée, c'est la destruction des êtres les uns par les autres. Puisque Dieu prouve sa sagesse et sa bonté en tout ce que nous pouvons comprendre, il faut bien admettre que la même sagesse préside à ce que nous ne comprenons pas. Du reste, on ne s'exagère l'importance de cette destruction que par celle que l'on attache à la matière, toujours par suite du point de vue étroit où l'homme se place. En définitive, il n'y a que l'enveloppe de détruite, mais le principe intelligent n'est point anéanti; l'Esprit est aussi indifférent à la perte de son corps, que l'homme l'est à celle de son habit. Cette destruction des enveloppes temporaires est nécessaire à la formation et à l'entretien des nouvelles enveloppes qui se constituent avec les mêmes éléments, mais le principe intelligent n'en subit aucune atteinte, pas plus chez les animaux que chez l'homme.

Reste la souffrance qu'entraîne parfois la destruction de cette enveloppe. Le Spiritisme nous apprend et nous prouve que la souffrance, chez l'homme, est utile à son avancement moral; qui nous dit que celle qu'endurent les animaux n'a pas aussi son utilité; qu'elle n'est pas, dans leur sphère et selon un certain ordre de choses, une cause de progrès? Ce n'est qu'une hypothèse, il est vrai, mais qui, au moins, s'appuie sur les attributs de Dieu: la justice et la bonté, tandis que les autres en sont la négation.

La question de la création des êtres parfaits ayant été débattue dans une séance de la Société spirite de Paris, l'Esprit Eraste dicta, à ce sujet, la communication suivante.

Sur la non-perfection des êtres créés.

(Société spirite de Paris, 5 février 1864. - Médium, M. d'Ambel.)

Pourquoi Dieu n'a-t-il pas créé tous les êtres parfaits? En vertu même de la loi du progrès. Il est facile de comprendre l'économie de cette loi. Celui qui marche est dans le mouvement, c'est-à-dire dans la loi de l'activité humaine; celui qui ne progresse pas, qui se trouve par essence stationnaire, n'appartient pas incontestablement à la gradation ou hiérarchie humanitaire. Je m'explique, et vous comprendrez facilement mon raisonnement. L'homme, qui naît dans une position plus ou moins élevée, trouve dans sa situation native un état d'être donné; eh bien! il est certain que si toute sa vie entière s'écoulait dans cette condition d'être, sans qu'il y soit apporté de modifications par son fait ou par le fait d'autrui, il déclarerait que son existence est monotone, ennuyeuse, fatigante, insupportable, en un mot; j'ajoute qu'il aurait parfaitement raison, attendu que le bien n'est bien que relativement à ce qui lui est inférieur. Cela est si vrai, que, si vous mettez l'homme dans un paradis terrestre, dans un paradis où l'on ne progresse plus, il trouvera, dans un temps donné, son existence insoutenable, et ce séjour un impitoyable enfer. Il en résulte d'une manière absolue que la loi immuable des mondes est le progrès ou le mouvement en avant; c'est-à-dire que tout Esprit qui est créé est soumis inévitablement à cette grande et sublime loi de vie; conséquemment, telle est la loi humaine elle-même.

Il n'existe qu'un seul être parfait, et il ne peut en exister qu'un seul: Dieu! Or, demander à l'Être suprême de créer les Esprits parfaits, ce serait lui demander de créer quelque chose de semblable et d'égal a lui. Emettre une pareille proposition, n'est-ce pas la condamner d'avance? O hommes! pourquoi toujours demander la raison d'être de certaines questions insolubles ou au-dessus de l'entendement humain? Rappelez-vous toujours que Dieu seul peut rester et vivre dans son immobilité gigantesque. Il est le summum et le maximum de toutes choses, l'alpha et l'oméga de toute vie. Ah! croyez-moi, mes fils, ne cherchez jamais à soulever le voile qui recouvre ce grandiose mystère, que les plus grands Esprits de la création n'abordent qu'en tremblant. Quant à moi, humble pionnier de l'initiation, tout ce que je puis vous affirmer, c'est que l'immobilité est un des attributs de Dieu ou du Créateur, et que l'homme et tout ce qui est créé ont, comme attribut, la mobilité. Comprenez si vous pouvez comprendre, ou alors attendez que l'heure soit venue d'une explication plus intelligible, c'est-à-dire plus à la portée de votre entendement.

Je ne traite que cette partie de la question, ayant voulu vous prouver seulement que je n'étais pas resté étranger à votre discussion; sur tout le reste, je m'en réfère à ce qui a été dit, puisque tout le monde m'a paru du même avis. Tout à l'heure je parlerai des autres faits qui ont été signalés (les faits de Poitiers).

ÉRASTE.

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