(MÉDIUM, SR. DIDIER FILHO)
O homem é, ao mesmo tempo, um ser muito singular e muito fraco. É singular no sentido de que, mesmo em meio aos fenômenos que o cercam, não deixa de seguir a sua rotina, espiritualmente falando. É fraco porque, depois de ter visto e ter-se convencido, ri porque seu vizinho riu e não pensa mais naquilo. E notai que aqui falo, não de seres vulgares, sem reflexão e sem experiência. Não. Falo de gente inteligente e, na maioria, esclarecida. De onde vem tal fenômeno? Porque refletindo bem, é um fenômeno moral. Mas que! O Espírito começou a agir sobre a matéria pelo magnetismo e pela eletricidade; a seguir entrou no próprio coração do homem, e o homem não se deu conta disso. Estranha cegueira! Cegueira não produzida por uma causa estranha, mas voluntária, oriunda do Espírito. Em seguida veio o Espiritismo, que produziu uma comoção no mundo, e o homem publicou livros muito sérios, dizendo: é uma causa natural, é simplesmente eletricidade, uma lei física, etc. E o homem ficou satisfeito; mas estai certos, o homem terá ainda muitos livros a escrever, antes de poder compreender o que está escrito no livro da Natureza, o livro de Deus. A eletricidade, essa nuança entre o tempo e o que não é mais o tempo, entre o finito e o infinito, o homem ainda não conseguiu definir. Por que? Sabei-o. Não podeis defini-la senão pelo magnetismo, essa manifestação material do Espírito. Não conheceis ainda senão a eletricidade material. Mais tarde conhecereis também a eletricidade espiritual, que não é senão o reino eterno da ideia.
LAMENNAIS
1.º ─ Teríeis a bondade de fazer alguns esclarecimentos sobre certas passagens do vosso último ditado, que nos parecem um pouco obscuras?
─ Farei o que for possível no momento.
2.º ─ Dizeis: “A eletricidade, essa nuança entre o tempo e o que não é mais tempo, entre o finito e o infinito”. Esta frase não nos parece muito clara. Teríeis a bondade de desenvolvê-la?
─ Eu a explico assim, da maneira mais simples que posso. Para vós o tempo existe, não? Para nós, não existe. Assim defini a eletricidade: “essa nuança entre o tempo e o que não é mais tempo”, porque essa parte do tempo de que outrora vos devíeis servir para vos comunicardes de um a outro extremo do mundo, essa porção do tempo, digo eu, não existe mais. Mais tarde virá essa eletricidade que não será outra coisa senão o pensamento do homem, transpondo o espaço. Com efeito, não é esta a imagem mais surpreendente sobre o finito e o infinito, sobre o pequeno meio e o grande meio? Numa palavra, quero dizer que a eletricidade suprime o tempo.
3.º ─ Mais adiante dizeis: “Não conheceis senão a eletricidade material. Mais tarde conhecereis também a eletricidade espiritual.” Entendeis por isto os meios de comunicação de homem a homem, por via mediúnica?
─ Sim, como progressos médios; outra coisa virá mais tarde; dai aspirações ao homem: a princípio, ele adivinha; depois, vê.