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O Livro dos Médiuns » Segunda parte - Das manifestações espíritas » Capítulo XXV - Das evocações » Linguagem de que se deve usar com os Espíritos

280. O grau de superioridade ou inferioridade dos Espíritos indica naturalmente o tom que convém tomar para com eles. É evidente que, quanto mais elevados eles sejam, mais direito têm ao nosso respeito, às nossas atenções e à nossa submissão. Não lhes devemos testemunhar menos deferência do que o teríamos feito quando vivos, mas por outros motivos: na Terra, levaríamos em consideração sua categoria e sua posição social; no mundo dos Espíritos, o nosso respeito não se dirige senão à superioridade moral. Sua elevação mesma os coloca acima das puerilidades das nossas fórmulas de bajulação. Não é com palavras que se lhes pode captar a benevolência, mas pela sinceridade dos sentimentos. Seria, pois, ridículo dar-lhes os títulos que os nossos usos consagram à distinção das categorias, e que, quando vivos, poderia lisonjear-lhes a vaidade. Se são realmente superiores isso lhes desagrada. Um bom pensamento lhes é mais agradável do que os mais elogiosos epítetos; se assim não fosse, eles não estariam acima da Humanidade.

O Espírito de venerável eclesiástico, que foi na Terra um príncipe da Igreja, homem de bem, praticante da lei de Jesus, respondeu certa vez a alguém que o evocara dando-lhe o título de Monsenhor: "Deveras, ao menos, dizer: ex-Monsenhor, porquanto aqui um só Senhor há - Deus. Fica sabendo: muitos vejo, que na Terra se ajoelhavam na minha presença, diante dos quais hoje eu mesmo me inclino."

Quanto aos Espíritos inferiores, o caráter que revelam nos traça a linguagem de que devemos usar para com eles. Há os que, embora inofensivos e mesmo benevolentes, são levianos, ignorantes, estouvados; tratá-los como aos Espíritos sérios, como o fazem certas pessoas, o mesmo fora que nos inclinarmos diante de um colegial, ou diante de um asno que trouxesse barrete de doutor. O tom de familiaridade não seria descabido com eles, que por isso não se melindram; ao contrário, acolhem-no de muito boa vontade.

Entre os Espíritos inferiores, muitos há que são infelizes. Quaisquer que sejam as faltas que expiem, seus sofrimentos são títulos tanto maiores à nossa comiseração, quanto é certo que ninguém pode lisonjear-se de escapar a estas palavras do Cristo: "Aquele que não tem pecados, lhe atire a primeira pedra." A benevolência que nós lhe testemunhamos é para eles um alívio. Em falta de simpatia, precisam encontrar em nós a indulgência que desejaríamos tivessem para conosco.

Os Espíritos que revelam a sua inferioridade pelo cinismo de sua linguagem, por suas mentiras, pela baixeza de seus sentimentos, pela perfídia de seus conselhos, seguramente são menos dignos do nosso interesse, do que aqueles cujas palavras atestam o seu arrependimento; nós, pelo menos, devemo-lhes a compaixão que nos inspiram os maiores criminosos, e o meio de os reconduzirmos ao silêncio consiste em se mostrar superior a eles: que não abusam senão de pessoas de quem julgam nada terem que temer, porquanto os Espíritos perversos sentem que os homens de bem, como os Espíritos elevados, são seus superiores.

Em resumo, tão irreverente seria tratar de igual para igual com os Espíritos superiores, quanto ridículo seria dispensarmos a todos, sem exceção, a mesma deferência. Tenhamos veneração para os que a merecem, reconhecimento para os que nos protegem e nos assistem e, para todos os demais uma benevolência de que talvez um dia venhamos a necessitar. Penetrando no mundo incorpóreo, aprendemos a conhecê-lo, e esse conhecimento nos deve regular em nossas relações com os que o habitam. Os Antigos, na sua ignorância, levantaram-lhes altares; para nós, eles são apenas criaturas mais ou menos perfeitas, e não elevamos altares senão a Deus. 


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