UTILIDADE PRÁTICA DAS MANIFESTAÇÕES
O Visitante. – Admitamos que a coisa esteja constatada e o Espiritismo reconhecido como uma realidade; qual pode ser a sua utilidade prática? Passamos sem ele até hoje, parece-me que poderíamos continuar ainda sem ele e viver muito tranquilamente.
A. K. – Poderíamos dizer o mesmo das ferrovias e do vapor, sem os quais vivíamos muito bem.
Se entendeis por utilidade prática os meios de viver bem, fazer fortuna, conhecer o futuro, descobrir minas de carvão ou tesouros escondidos, recuperar heranças, poupar-se ao trabalho das pesquisas, ele não serve para nada; não pode fazer a bolsa subir ou descer, nem ser colocado em ações, nem mesmo dar invenções prontas para serem exploradas. Desse ponto de vista, quantas ciências seriam inúteis! Quantas há que não têm vantagens, comercialmente falando! Os homens se achavam muito bem antes da descoberta de todos os novos planetas; antes que se soubesse que é a Terra que gira e não o Sol; antes que se calculassem os eclipses; antes que se conhecesse o mundo microscópico e cem outras coisas. O camponês, para viver e fazer crescer seu trigo, não precisa saber o que é um cometa. Por que então os cientistas se entregam a essas pesquisas, e quem ousaria dizer que eles perdem seu tempo?
Tudo o que serve para levantar um canto do véu favorece o desenvolvimento da inteligência, amplia o círculo das ideias, fazendo-nos penetrar mais profundamente nas leis da natureza. Ora, o mundo dos Espíritos existe em virtude de uma dessas leis da natureza; o Espiritismo nos faz conhecer essa lei; ele nos ensina a influência que o mundo invisível exerce sobre o mundo visível e as relações que existem entre eles, como a astronomia nos ensina as relações dos astros com a Terra; ele nos mostra o mundo dos Espíritos como uma das forças que regem o universo e contribuem para a manutenção da harmonia geral. Suponhamos que aí se limite a sua utilidade, já não seria muito a revelação de uma tal potência, abstração feita de toda doutrina moral? Nada significa o fato de que todo um mundo novo se revele a nós, especialmente se o conhecimento deste mundo nos coloca no caminho de uma multidão de problemas insolúveis até então? Se nos inicia nos mistérios do além-túmulo, que nos interessam de algum modo, pois todos nós, mais cedo ou mais tarde, devemos dar o passo fatal? Mas há uma outra utilidade mais positiva do Espiritismo: a influência moral que ele exerce pela força mesma das coisas. O Espiritismo é a prova patente da existência da alma, de sua individualidade após a morte, de sua imortalidade, de seu destino futuro; é, portanto, a destruição do materialismo, não pelo raciocínio, mas pelos fatos.
Não se deve pedir ao Espiritismo mais do que ele pode dar, e não buscar nele nada além do seu objetivo providencial. Antes dos progressos sérios da astronomia, acreditava-se na astrologia. Seria sensato pretender que a astronomia para nada serve, porque não se pode mais encontrar na influência dos astros o prognóstico do seu destino? Assim como a astronomia destronou os astrólogos, o Espiritismo destrona os adivinhos, os feiticeiros e os ledores de sorte. Ele está para a magia assim como a astronomia está para a astrologia, a química para a alquimia.