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Revista Espírita 1860 » Junho » Um Espírito falador Revue Spirite 1860 » Juin » Un Esprit parleur

Estando em Worcester, há algumas semanas, encontrei casualmente, em casa de um banqueiro daquela cidade, uma senhora que lá conheci, e de sua própria boca ouvi uma história tão surpreendente que necessitei de mais de uma testemunha para lhe dar crédito. Quando interroguei o banqueiro sobre aquela senhora, disse-me ele que a conhecia há mais de trinta anos. “Ela é tão verídica, acrescentou, e sua correção é tão conhecida por todos, que não tenho a menor dúvida quanto à realidade do que contou. É uma senhora de reputação sem mancha, de costumes irrepreensíveis, detentora de um espírito forte e inteligente, e de uma instrução variada.” Ele acha impossível, portanto, que ela procurasse enganar os outros ou que ela própria se enganasse. Tinha-lhe ouvido várias vezes contar aquela história, e sempre de maneira clara e precisa, de modo que se achava muito embaraçado. Repugnava-lhe admitir semelhantes fatos, mas, por outro lado, não ousava duvidar de sua boa-fé.

Minhas próprias observações tendiam a confirmar tudo o que me haviam dito acerca daquela dama. Havia no seu ar, nas suas maneiras, mesmo no som de sua voz, um não-sei-quê incapaz de enganar e que leva em si a convicção da verdade. Assim, era-me impossível julgá-la insincera, tanto mais quanto parecia falar dessas coisas com evidente repugnância. O banqueiro me havia dito ser muito difícil levá-la a falar do assunto, porque, em geral, achava os ouvintes mais dispostos a rir do que a acreditar. Adicione-se que nem ela nem o banqueiro conheciam o Espiritismo ou dele tinham ouvido falar.

 

Eis o relato da senhora:

 

“Por volta de 1820, tendo deixado nossa casa de Suffolk, fomos morar na cidade de..., porto de mar, na França. Nossa família era composta de meu pai, minha mãe, uma irmã, um irmão de uns doze anos, eu e um criado inglês. Nossa casa era muito retirada, um pouco fora da cidade, bem no meio da praia. Não havia outras casas ou construções na vizinhança.

“Uma noite, meu pai viu, a poucas jardas da porta, um homem envolto num grande manto, sentado num fragmento de rochedo. Meu pai aproximou-se para lhe dar boa noite, mas não tendo resposta, voltou. Antes de entrar, contudo, teve a ideia de se voltar e, para seu grande espanto, não viu mais ninguém. Ficou ainda mais surpreendido quando, ao aproximar-se novamente e bem examinar em redor do rochedo, não encontrou o menor traço do indivíduo que estava sentado um instante antes, e nenhum abrigo havia onde ele pudesse ter-se escondido. Quando meu pai entrou na sala, ele nos disse: ‘Meus filhos, acabo de ver uma aparição’.

“Como é fácil compreender, rimos às gargalhadas.

“Contudo, naquela noite e em várias noites seguintes, ouvimos ruídos estranhos em diversos pontos da casa: ora eram gemidos vindos de baixo de nossas janelas, ora parecia que arranhavam as próprias janelas e, em outros momentos, dir-se-ia que várias pessoas trepavam no telhado. Diversas vezes abrimos as janelas, perguntando em voz alta: ‘Quem está ai?’ Mas não obtivemos resposta.

“Alguns dias depois, ao anoitecer, os ruídos se fizeram ouvir no quarto onde dormíamos eu e minha irmã. Ela estava com 20 anos e eu com 18. Acordamos toda a casa, mas ninguém queria escutar-nos. Censuraram-nos e chamaram-nos de loucas. Ordinariamente os ruídos consistiam em pancadas: às vezes eram 20 ou 30 por minuto; outras vezes, uma por minuto.

“Por fim, tanto os ruídos internos quanto os externos foram ouvidos por nossos pais, que se viram forçados a admitir que não se tratava de imaginação. Então, recordaram-se da aparição. Mas, em suma, não estávamos tão apavoradas, e acabamos por habituar-nos a todo esse barulho.

“Uma noite, quando batiam, como de hábito, veio-me a ideia de perguntar: ‘Se és um Espírito, bate seis pancadas.’ Imediatamente ouvi os seis golpes, um por um. Com o tempo, os ruídos se tornaram tão familiares que não só não tínhamos medo como deixaram de ser desagradáveis.

“Agora vou contar a parte mais curiosa da história, e hesitaria em vo-lo fazer, se todos os membros de nossa família não a tivessem testemunhado. Meu irmão, então menino, mas agora um homem muito distinto na sua profissão, poderá, se necessário, vo-la confirmar em todos os detalhes.

“Além das batidas em nosso dormitório, começamos a ouvir, principalmente na sala de visitas, como que uma voz humana. A primeira vez que a ouvimos, minha irmã estava ao piano; cantávamos uma romanza e eis que o Espírito se pôs a cantar conosco. Podem imaginar a nossa admiração. Não havia como duvidar da realidade, porque, pouco depois, a voz começou a falar-nos de maneira clara e inteligível, metendo-se, de vez em quando, em nossa conversa. A voz era baixa, os tons lentos, solenes e muito distintos. O Espírito sempre nos falava em francês. Disse chamar-se Gaspard, mas quando queríamos interrogá-lo sobre sua história pessoal, não respondia; também jamais quis explicar por que motivo tinha sido levado a pôr-se em contato conosco. Geralmente pensávamos que fosse espanhol. Contudo, não me lembro de onde nos veio tal ideia. Chamava cada membro da família pelo nome de batismo; às vezes, recitava versos e constantemente procurava inculcar-nos sentimentos de moral cristã, sem, contudo, jamais tocar em questões de dogmas. Parecia desejoso de nos fazer compreender o que há de grandeza na virtude, o que há de belo na harmonia reinante entre os membros de uma família. Uma vez em que minha irmã e eu tivemos uma ligeira discussão, ouvimos a voz dizer: ‘M... está errada; S... tem razão.’ Desde que se tornou conhecido, ocupou-se constantemente em nos dar bons conselhos. Uma vez, meu pai estava muito inquieto a propósito de certos documentos que julgava ter perdido e queria encontrar. Gaspard lhe disse onde estavam, em nossa velha casa de Suffolk. Procuraram e os encontraram no exato lugar indicado.

“As coisas continuaram a passar-se assim por mais de três anos. Todas as pessoas da família, inclusive os empregados, tinham ouvido sua voz. A presença do Espírito, pois dela não duvidávamos, era sempre uma grande felicidade para todos nós; era considerado, ao mesmo tempo, como companheiro e protetor. Um dia nos disse: ‘Durante alguns meses não estarei convosco’. Com efeito, suas visitas cessaram durante vários meses. Uma noite, ouvimos aquela voz, tão nossa conhecida dizer: ‘Eis-me ainda entre vós.’ Seria difícil descrever a nossa alegria.

“Até aqui tínhamos sempre ouvido, mas nunca visto. Uma noite meu irmão disse: ‘Gaspard, eu gostaria muito de ver-te.’ E a voz respondeu: ‘Eu vos satisfarei. Ver-me-eis, se quiserdes ir até o outro lado da praça.’ Meu irmão nos deixou, mas logo voltou, dizendo: ‘Eu vi Gaspard; tinha um grande manto e um chapéu de abas largas; olhei por baixo do chapéu e ele sorriu.’ ─ ‘Sim, disse a voz, entrando na conversa, era eu.’

“A maneira por que nos deixou, de repente, foi-nos muito terna. Voltamos a Suffolk e ali, como na França, durante várias semanas após a nossa chegada, Gaspard continuou a conversar conosco.

“Uma noite nos disse: ‘Vou deixar-vos para sempre; acontecer-vos-ia uma desgraça se eu ficasse junto de vós nesta terra, onde nossas comunicações seriam mal compreendidas e mal interpretadas.’

“Desde então, ─ acrescentou a senhora, com um tom de tristeza, como quando se fala de um ser amado que a morte levou, ─ não mais ouvimos a voz de Gaspard”.

Eis os fatos, como nos foram contados. Tudo isto me faz refletir e, talvez, aos vossos leitores. Não pretendo dar qualquer explicação, qualquer opinião. Direi apenas que tenho inteira confiança na boa-fé da pessoa de quem os ouvi, e subscrevo o meu nome, como garantia da exatidão de meu relato.

S. C. HALL


Etant, il y a quelques semaines, à Worcester, j'ai rencontré par hasard, chez un banquier de cette ville, une dame dont je fis la connaissance, et, de sa propre bouche, j'ai entendu une histoire tellement surprenante, qu'il me fallut plus qu'un témoignage ordinaire pour y ajouter foi. Quand j'interrogeai notre hôte sur cette dame, il me dit qu'il la connaissait depuis plus de trente ans. « Elle est tellement véridique, ajouta-t-il, sa droiture est si bien connue de tout le monde, que je n'ai pas le moindre doute sur la réalité de ce qu'elle a raconté. C'est une femme d'une réputation sans tache, de mœurs irréprochables, possédant un esprit fort et intelligent et une instruction variée. » Il considérait donc comme impossible qu'elle cherchât à tromper les autres, ou qu'elle se trompât elle-même. Il lui avait souvent entendu raconter cette histoire, et toujours d'une manière claire et précise, de sorte qu'il était extrêmement embarrassé; il lui répugnait d'admettre de pareils faits, et, d'un autre côté, il n'osait pas mettre en doute la bonne foi de la personne.

Mes propres observations tendaient à confirmer tout ce qu'on m'avait dit de la dame en question. Il y avait dans son air, dans ses manières, même dans le son de sa voix, ce je ne sais quoi qui trompe rarement, et qui porte en soi-même la conviction de la vérité. Il m'était donc impossible de ne pas la croire sincère, d'autant plus qu'elle semblait parler de ces choses avec une répugnance évidente. Le banquier m'avait dit qu'il était très difficile de la faire parler sur ce sujet, car, en général, elle trouvait des auditeurs plus disposés à rire qu'à croire. Ajoutez à cela que ni la dame ni le banquier ne connaissaient le Spiritisme ou en avaient à peine entendu parler.

Voici le récit de cette dame:

« Vers l'année 1820, ayant quitté notre maison de Suffolk, nous allâmes habiter la ville de ***, port de mer, en France. Notre famille se composait de mon père, de ma mère, une sœur, un jeune frère d'environ douze ans, de moi et d'un domestique anglais. Notre maison était située dans un endroit très retiré, un peu en dehors de la ville, au beau milieu de la plage; il n'y avait pas d'autre maison ni aucune espèce de bâtiment dans le voisinage.

« Un soir mon père vit, à quelques yards seulement de la porte, un homme enveloppé dans un grand manteau et assis sur un fragment de rocher. Mon père s'approcha de lui pour lui dire bonsoir, mais, ne recevant pas de réponse, il rebroussa chemin. Avant de rentrer, pourtant, il eut l'idée de se retourner, et à son grand étonnement il ne vit plus personne. Il fut encore plus surpris quand, après s'être approché de nouveau, et avoir bien examiné tout autour du rocher, il ne vit pas la moindre trace de l'individu qui y était assis un instant auparavant, et aucun abri n'existait où il aurait pu se cacher. Quand mon père rentra dans le salon, il nous dit: « Mes enfants, je viens de voir une apparition. » Comme on peut le croire, nous nous mîmes tous à rire aux éclats.

« Cependant cette nuit-là, et plusieurs nuits de suite, nous entendîmes des bruits étranges dans divers endroits de la maison; c'étaient tantôt des gémissements qui partaient de dessous nos fenêtres, tantôt il semblait qu'on grattait sur les fenêtres mêmes, et, dans d'autres moments, on aurait dit que plusieurs personnes grimpaient sur le toit. Nous ouvrîmes nos fenêtres à plusieurs reprises, demandant à haute voix: « Qui est là? » mais sans obtenir de réponse.

« Au bout de quelques jours, les bruits se firent entendre dans la chambre même où ma sœur et moi nous couchions (elle avait vingt ans et moi dix-huit). Nous éveillâmes toute la maison, mais on ne voulut pas nous écouter; on nous fit des reproches et l'on nous traita de folles. Les bruits consistaient ordinairement en coups frappés: quelquefois il y en avait 20 ou 30 dans une minute, d'autres fois il s'écoulait une minute entre chaque coup.

« A la fin, les bruits du dehors et du dedans furent également entendus de nos parents, et ils furent bien forcés d'admettre que l'imagination n'y était pour rien. Alors on se rappela le fait de l'apparition; mais, en somme, nous n'étions pas trop effrayés, et nous finîmes par nous habituer à tout ce tapage.

« Une nuit, pendant que l'on frappait comme d'habitude, il me vint à la pensée de dire: « Si tu es un Esprit, frappe six coups. » Immédiatement j'entendis frapper les six coups très distinctement. Avec le temps ces bruits nous devinrent tellement familiers que non-seulement nous n'en avions aucune frayeur, mais qu'ils cessèrent même de nous être désagréables.

« A présent, je vais vous raconter la partie la plus curieuse de cette histoire, et j'hésiterais à vous la communiquer, si tous les membres de ma famille n'avaient été témoins de ce que j'avance. Mon frère, alors enfant, mais qui est maintenant un homme très distingué dans sa profession, pourra, au besoin, vous en confirmer tous les détails.

« Outre les coups frappés dans notre chambre à coucher, nous commencions à entendre, dans le salon principalement, comme une voix humaine. La première fois que nous l'entendîmes, ma sœur était au piano; nous chantions une romance, et voilà que l'Esprit se met à chanter avec nous. On peut se figurer notre étonnement. Il n'y avait pas moyen de douter de la réalité du fait, car peu après la voix commença à nous parler d'une manière claire et intelligible, se mêlant de temps à autre à notre conversation. La voix était basse, les tons lents, solennels et très distincts: l'Esprit nous parlait toujours en français. Il nous dit qu'il se nommait Gaspard, mais quand nous voulions l'interroger sur son histoire personnelle, il ne répondait pas; il n'a jamais voulu dire non plus le motif qui l'avait porté à se mettre en rapport avec nous. Nous avions généralement la pensée qu'il était Espagnol; je ne puis pourtant pas me rappeler d'où nous était venue cette idée-là. Il appelait chaque membre de la famille par son nom de baptême; quelquefois il nous récitait des vers, et cherchait constamment à nous inculquer des sentiments de moralité chrétienne, mais sans jamais toucher aux questions du dogme. Il semblait désireux de nous faire comprendre ce qu'il y a de grand dans la vertu, ce qu'il y a de beau dans l'harmonie qui règne entre les membres d'une même famille. Une fois que ma sœur et moi nous avions une légère dispute, nous entendîmes la voix nous dire: « M… a tort; S… a raison. » Du moment qu'il se fit connaître, il fut constamment occupé à nous donner de bons conseils. Une fois mon père était très inquiet au sujet de certains documents qu'il craignait d'avoir perdus, et qu'il était très désireux de retrouver, Gaspard lui dit où ils étaient dans notre vieille maison de Suffolk; on chercha, et à l'endroit même qu'il avait indiqué on trouva les papiers.

« Les choses continuèrent à se passer ainsi pendant plus de trois ans; toutes les personnes de la famille, sans excepter les domestiques, avaient entendu la voix. La présence de l'Esprit, car nous ne doutions guère de sa présence, était toujours un grand bonheur pour nous tous; nous le regardions à la fois comme notre compagnon et notre protecteur. Un jour il nous dit: « Pendant quelques mois je ne serai plus avec vous. » En effet, ses visites cessèrent pendant plusieurs mois; un soir, nous entendîmes cette voix si bien connue de nous, nous dire: « Me voilà encore parmi vous. » Il serait difficile de peindre notre joie.

« Jusqu'ici, on l'avait toujours entendu, mais on ne le voyait pas. Un soir mon frère dit: « Gaspard, j'aimerais bien à vous voir, » et la voix répondit: « Je vous contenterai; vous me verrez, si vous voulez aller jusqu'à l'autre côté de la place. » Mon frère nous quitta, mais il revint bientôt en disant: « J'ai vu Gaspard; il portait un grand manteau et un chapeau à larges bords; j'ai regardé sous son chapeau, et il m'a souri. - Oui, dit la voix, se mêlant à la conversation, c'était moi. »

La manière dont il nous quitta tout à fait nous fut très sensible. Nous retournâmes à Suffolk, et là, comme en France, pendant plusieurs semaines après notre arrivée, Gaspard continua ses causeries avec nous.

« Un soir il nous dit: « Je vais vous quitter pour toujours, il vous arriverait du malheur si je restais auprès de vous dans ce pays-ci, où nos communications seraient mal comprises et mal interprétées. »

« Depuis ce moment, ajouta la dame, avec un accent de tristesse, comme quand on parle d'un être aimé que la mort nous a enlevé, nous n'entendîmes plus la voix de Gaspard. »

Voilà les faits tels qu'on me les a racontés. Tout cela me fait réfléchir, et peut faire également réfléchir vos lecteurs. Je ne prétends donner aucune explication, aucune opinion; je dirai seulement que j'ai une confiance entière dans la bonne foi de la personne de qui je les tiens, et je signe de mon nom, en garantie de l'exactitude de ma narration.

S. C. HALL.

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