Como antes de tudo buscamos a verdade e não pretendemos ser infalível, quando acontece nos enganarmos, não hesitamos em reconhecer. Não conhecemos nada de mais tolo do que aferrar-se a uma opinião errada.
É publicada a primeira edição de O Livro dos Médiuns, em 1861
Nossa nova obra, o Livro dos Médiuns, apareceu a 15 de janeiro de 1861, e já é preciso pensar na preparação de uma nova edição. Foi pedido da Rússia, da Alemanha, da Itália, da Inglaterra, da Espanha, dos Estados Unidos, do México, do Brasil, etc. (Revista Espírita, março de 1861 – O Homenzinho ainda vive)
O LIVRO DOS MÉDIUNS
Há muito tempo anunciada, mas com a publicação retardada por força de sua própria importância, esta obra aparecerá de 5 a 10 de janeiro, pelos Srs. Didier & Cie., livreiros editores, Quaides Augustins, 35[1]. Ela constitui o complemento do Livro dos Espíritos e encerra a parte experimental do Espiritismo, assim como este último contém a parte filosófica.
Nesse trabalho, fruto de longa experiência e de estudos laboriosos, procuramos esclarecer todas as questões que se ligam à prática das manifestações. De acordo com os Espíritos, ele contém a explicação teórica dos diversos fenômenos e das condições em que os mesmos se podem reproduzir. Mas a seção concernente ao desenvolvimento e ao exercício da mediunidade foi de nossa parte objeto de particular atenção.
O Espiritismo experimental é cercado de muito mais dificuldades do que geralmente se pensa, e os escolhos aí encontrados são numerosos. Eis o que ocasiona tantas decepções aos que dele se ocupam sem a experiência e os conhecimentos necessários. Nosso objetivo foi o de premunir contra esses escolhos, que nem sempre são desprovidos de inconvenientes para quem se aventure sem cautela por esse terreno novo. Não poderíamos esquecer esse ponto capital, e o tratamos com o cuidado equivalente à sua importância.
Os inconvenientes quase sempre se originam da leviandade com que é tratado um problema tão sério. Os Espíritos, sejam quais forem, são as almas dos que viveram. Em seu meio estaremos, infalivelmente, de um momento para outro. Todas as manifestações espíritas, inteligentes ou não, têm, assim, por objeto, pôr-nos em contato com essas mesmas almas. Se respeitamos os seus restos mortais, com mais forte razão devemos respeitar o ser inteligente que sobrevive, e que constitui a verdadeira individualidade. Transformar as manifestações em brincadeira é faltar com o respeito que talvez um dia reclamemos para nós próprios, e que jamais é violado impunemente.
O primeiro momento de curiosidade causada por esses estranhos fenômenos já passou; hoje, que se lhes conhece a fonte, evitemos profaná-la com brincadeiras indecorosas e esforcemo-nos por nela haurir o ensinamento adequado a nos assegurar a felicidade futura. O campo é muito vasto e o objetivo bastante importante para tomar toda a nossa atenção. Até hoje os nossos esforços foram dedicados a direcionar o Espiritismo para esse caminho sério. Se essa nova obra, tornando-o ainda melhor conhecido, puder contribuir para impedir que o desviem de seu objetivo providencial, estaremos amplamente recompensados por nossos cuidados e nossas vigílias.
Este trabalho, não temos dúvidas a respeito, provocará críticas da parte daqueles a quem desagrada a severidade dos princípios, bem como dos que, vendo as coisas de um outro ponto de vista, já nos acusam de querermos fazer escola no Espiritismo. Se é fazer escola procurar nesta ciência um fim útil e proveitoso para a Humanidade, teríamos o direito de nos sentirmos envaidecidos com a acusação. Mas uma tal escola não necessita de outro chefe além do bom-senso das massas e da sabedoria dos bons Espíritos que a criariam, independentemente de nós. Eis por que declinamos da honra de tê-la fundado, sentindo-nos, ao contrário, felizes por nos colocarmos sob a sua bandeira, aspirando apenas ao modesto título de divulgador. Se um nome for necessário, inscreveremos em seu frontispício: Escola do Espiritismo Moral e Filosófico, e para ela convidaremos todos quantos têm necessidade de esperanças e de consolações. (Revista Espírita, janeiro de 1861)
Allan Kardec.
[1] Encontrada igualmente nos escritórios da Revue Spirite, Rua Sainte-Anne 59, travessa Sainte-Anne. Um volume grande in-18, de 500 páginas; Paris, 3,50 francos; pelo correio, 4,00 francos.
A primeira edição do Livro dos Médiuns, publicada no começo deste ano, esgotou-se em alguns meses, o que não é um dos traços menos característicos do progresso das ideias espíritas. Nós mesmo constatamos, em nossas excursões, a influência salutar que essa obra exerceu sobre a direção dos estudos espíritas práticos. Assim, as decepções e mistificações são muito menos numerosas do que outrora, porque ela ensinou os meios de descobrir as astúcias dos Espíritos enganadores. Esta segunda edição é muito mais completa que a precedente. Ela encerra numerosas instruções novas muito importantes e vários capítulos novos. Toda a parte que concerne mais especialmente aos médiuns, à identidade dos Espíritos, à obsessão, às questões que podem ser dirigidas aos Espíritos, às contradições, aos meios de discernir os bons e os maus Espíritos, à formação de reuniões espíritas, às fraudes em matéria de Espiritismo recebeu desenvolvimentos muito notáveis, frutos da experiência. No capítulo das dissertações espíritas adicionamos várias comunicações apócrifas acompanhadas de observações adequadas a dar os meios de descobrir a fraude dos Espíritos enganadores que se apresentam com falsos nomes.
Devemos acrescentar que os Espíritos reviram a obra inteiramente e trouxeram numerosas observações do mais alto interesse, de sorte que se pode dizer que é obra deles, tanto quanto nossa.
Recomendamos com instância esta nova edição, como o guia mais completo, quer para os médiuns, quer para os simples observadores. Podemos afirmar que seguindo-a pontualmente evitar-se-ão os escolhos tão numerosos contra os quais se vão chocar tantos neófitos inexperientes. Depois de a ter lido e meditado atentamente, os que forem enganados ou mistificados certamente não poderão queixar-se senão de si mesmos, porque tiveram todos os meios para se esclarecerem. (Revista Espírita, novembro de 1861)