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Revista Espírita 1866 » Fevereiro » O Espiritismo segundo os espíritas Revue Spirite 1866 » Février » Le Spiritisme selon les spirites

O Espiritismo segundo os espíritas


La Discussion, jornal hebdomadário político e financeiro impresso em Bruxelas, não é uma dessas folhas levianas que visam, pelo fundo e pela forma, ao divertimento do público frívolo. É um jornal sério, acreditado sobretudo no mundo financeiro e que se acha no seu undécimo ano[1]. Sob o título de O Espiritismo segundo os espíritas, o número de 31 de dezembro de 1865 traz o artigo seguinte:

 

“Espíritas e Espiritismo são agora dois vocábulos muito conhecidos e frequentemente empregados, embora fossem ignorados há poucos meses. Contudo, a maioria das pessoas que deles se servem estão a perguntar o que exatamente significam, e embora cada um faça essa pergunta a si mesmo, ninguém a expressa, pois todos querem passar por conhecedores da chave que mata a charada.

“Algumas vezes, entretanto, a curiosidade embaraça a ponto de trazer a pergunta aos lábios e, satisfazendo ao vosso desejo, cada um vos explica.

“Alguns pretendem que o Espiritismo é o truque do armário dos irmãos Davenport; outros afirmam que não passa da magia e da feitiçaria de outrora, que querem reconduzir ao prestígio, sob um novo nome. Segundo as comadres de todos os bairros, os espíritas têm conversas misteriosas com o diabo, com o qual fizeram um compromisso prévio. Enfim, lendo-se os jornais, fica-se sabendo que os espíritas são todos uns loucos ou, pelo menos, vítimas de certos charlatões chamados médiuns. Esses charlatões vêm, com ou sem armários, dar representações a quem lhas queira pagar, e para mais valorizar suas trapaças, dizem operar sob a influência oculta dos Espíritos de além-túmulo.

“Eis o que eu tinha aprendido nestes últimos tempos. Tendo em vista o desacordo dessas respostas, resolvi, para me esclarecer, ir ver o diabo, ainda que me vencesse, ou me deixar enganar por um médium, ainda que tivesse de perder a razão. Lembrei-me, então, muito a propósito, de um amigo que suspeitava fosse espírita, e fui procurá-lo, a fim de que ele me proporcionasse meios de satisfazer a minha curiosidade.

“Comuniquei-lhe as diversas opiniões que havia recolhido, e expus o objetivo de minha visita. Mas o amigo riu-se muito do que chamava a minha ingenuidade e me deu, mais ou menos, a seguinte explicação:

 

‘O Espiritismo não é, como creem vulgarmente, uma receita para fazer as mesas dançarem ou para executar truques de escamoteação, e é um erro que todos cometem querendo nele encontrar o maravilhoso.

‘O Espiritismo é uma ciência, ou melhor, uma filosofia espiritualista, que ensina a moral.

‘Não é uma religião, porque que não tem dogmas nem culto, nem sacerdotes nem artigos de fé. É mais que uma filosofia, porque sua doutrina é estabelecida sobre a prova certa da imortalidade da alma. É para fornecer essa prova que os espíritas evocam os Espíritos de além-túmulo.

‘Os médiuns são dotados de uma faculdade natural que os torna aptos a servir de intermediários aos Espíritos e a produzir com eles os fenômenos que passam por milagres ou por prestidigitação aos olhos de quem quer que ignore a sua explicação. Mas a faculdade mediúnica não é privilégio exclusivo de certos indivíduos. Ela é inerente à espécie humana, embora cada um a possua em graus diversos, ou sob formas diferentes.

‘Assim, para quem conhece o Espiritismo, todas as maravilhas de que acusam essa doutrina não passam de fenômenos de ordem física, isto é, de efeitos cuja causa reside nas leis da Natureza.

‘Os Espíritos, entretanto, não se comunicam com os vivos com o único objetivo de lhes provar a sua existência: Foram eles que ditaram e desenvolvem diariamente a filosofia espiritualista.

‘Como toda filosofia, esta tem o seu sistema, que consiste na revelação das leis que regem o Universo e na solução de um grande número de problemas filosóficos ante os quais, até aqui, a Humanidade impotente foi constrangida a inclinar-se.

‘É assim que o Espiritismo demonstra, entre outras coisas, a natureza da alma, seu destino e a causa de nossa existência aqui na Terra. Ele desvenda o mistério da morte; dá a razão dos vícios e virtudes do homem; diz o que são o homem, o mundo, o Universo. Enfim, faz o quadro da harmonia universal, etc.

‘Este sistema repousa em provas lógicas e irrefutáveis que têm, elas próprias, por árbitro de sua verdade, fatos palpáveis e a mais pura razão. Assim, em todas as teorias que ele expõe, age como a Ciência e não adianta um ponto senão quando o precedente esteja completamente certificado. Assim, o Espiritismo não impõe a confiança, porque, para ser aceito, não precisa senão da autoridade do bom-senso.

‘Este sistema, uma vez estabelecido, dele deduz, como consequência imediata, um ensinamento moral.

‘Essa moral não é senão a moral cristã, a moral que está escrita no coração de todo ser humano; e é a de todas as religiões e de todas as filosofias, porque pertence a todos os homens. Mas, desvinculada de todo fanatismo, de toda superstição, de todo espírito de seita ou de escola, resplandece em toda a sua pureza.

‘E a nessa pureza que ela haure toda a sua grandeza e toda a sua beleza, de sorte que é a primeira vez que a moral nos aparece revestida de um brilho tão majestoso e tão esplêndido.

‘O objetivo de toda moral é ser praticada; mas esta, sobretudo, tem essa condição como absoluta, porque ela denomina espíritas não os que aceitam os seus preceitos, mas apenas os que põem os seus preceitos em ação.

‘Direi quais são as suas doutrinas? Aqui não pretendo ensinar, e o enunciado das máximas conduzir-me-ia, necessariamente, ao seu desenvolvimento.

‘Direi apenas que a moral espírita nos ensina a suportar a desgraça sem desprezá-la; a gozar a felicidade sem a ela nos apegarmos. Direi que ela nos rebaixa sem nos humilhar, como nos eleva sem nos ensoberbecer; coloca-nos acima dos interesses materiais, sem por isto estigmatizá-los com o aviltamento, porque nos ensina, ao contrário, que todas as vantagens com que somos favorecidos são outras tantas forças que nos são confiadas e por cujo emprego somos responsáveis para conosco e para com os outros.

‘Vem, então, a necessidade de especificar essa responsabilidade, as penas ligadas à infração do dever e as recompensas de que desfrutam os que o cumprem. Mas também aí, as asserções não são tiradas senão dos fatos e podem verificar-se até a perfeita convicção.

‘Tal é esta filosofia, onde tudo é grande porque tudo é simples; onde nada é obscuro, porque tudo é provado; onde tudo é simpático, porque cada questão interessa a cada um de nós.

‘Tal é esta ciência que, projetando uma viva luz sobre as trevas da razão, de repente desvenda os mistérios que julgávamos impenetráveis e recua até o infinito o horizonte da inteligência.

‘Tal é esta doutrina que pretende tornar felizes, melhorando-os, todos os que concordam em segui-la, e que, enfim, abre à Humanidade uma via segura para o progresso moral.

‘Tal é, finalmente, a loucura que contagiou os espíritas e a feitiçaria que eles praticam.’

 

“Assim, sorrindo, terminou o meu amigo, que, a meu pedido, permitiu-me com ele visitar algumas reuniões espíritas, onde as experiências se aliam aos ensinamentos.

“Voltando para casa, recordei o que eu havia dito, em concerto com todo mundo, contra o Espiritismo, antes de pelo menos conhecer o significado desse vocábulo, e essa lembrança encheu-me de amarga confusão.

“Então pensei que, a despeito dos severos desmentidos infringidos ao orgulho humano pelas descobertas da Ciência moderna, quase não sonhamos, na época de progresso em que nos encontramos, em tirar proveito dos ensinamentos da experiência; e que estas palavras escritas por Pascal há duzentos anos, ainda por muitos séculos serão de rigorosa exatidão: ‘É uma doença peculiar ao homem crer que possui a verdade diretamente; e é por isto que ele está sempre disposto a negar aquilo que para ele é incompreensível.”

“A. BRIQUEL.”

 

Como se vê, o autor deste artigo quis apresentar o Espiritismo sob sua verdadeira luz, despido das fantasias com que o veste a crítica, numa palavra, tal qual o admitem os espíritas, e sentimo-nos feliz ao dizer que o conseguiu perfeitamente. Com efeito, é impossível resumir a questão de maneira mais clara e precisa. Devemos, também, felicitar a direção do jornal que, com aquele espírito de imparcialidade que gostaríamos de encontrar em todos aqueles que fazem profissão de liberalismo e posam como apóstolos da liberdade de pensar, acolheu uma profissão de fé tão explícita.

Ademais, suas intenções em relação ao Espiritismo estão nitidamente formuladas no artigo seguinte, publicado no número de 28 de janeiro:

 

Como ouvimos falar do Espiritismo

 

“O artigo publicado em nosso número de 31 de dezembro, sobre o Espiritismo, provocou numerosas perguntas, querendo saber se nos propomos tratar posteriormente deste assunto e se nos transformamos em seu órgão. A fim de evitar equívocos, torna-se necessária uma resposta categórica. Ei-la:

O Discussion é um jornal aberto a todas as ideias progressistas. Ora, o progresso não pode ser feito senão por ideias novas que de vez em quando vêm mudar o curso das ideias estabelecidas. Repeli-las porque destroem as que foram acalentadas, é, aos nossos olhos, faltar à lógica. Sem nos tornarmos apologistas de todas as elucubrações do espírito humano, o que também não seria mais racional, consideramos como um dever de imparcialidade pôr o público em condições de julgá-las. Para tanto, basta apresentá-las tais quais são, sem tomar, prematuramente, partido pró ou contra, porque, se forem falsas, não será a nossa adesão que as tornará justas, e se forem justas, nossa desaprovação não as tornará falsas. Em tudo, é a opinião pública e o futuro que pronunciam a última sentença. Mas, para apreciar o lado forte e o fraco de uma ideia, é preciso conhecê-la em sua essência, e não tal qual a apresentam os interessados em combatê-la, isto é, o mais das vezes truncada e desfigurada. Se, pois, expomos os princípios de uma teoria nova, não queremos que seus autores ou seus partidários possam censurar-nos por lhes fazer dizer o contrário do que dizem. Agir assim não é assumir a sua responsabilidade: é dizer o que é e reservar a opinião de todo mundo. Nós colocamos a ideia em evidência em toda a sua verdade. Se ela for boa, fará o seu caminho e nós lhe teremos aberto a porta; se for má, teremos fornecido o meio de ser julgada com conhecimento de causa.

“É assim que procederemos em relação ao Espiritismo. Seja qual for a maneira de ver a seu respeito, ninguém pode dissimular a extensão que ele tomou em poucas anos. Pelo número e pela qualidade de seus partidários, ele conquistou uma posição entre as opiniões aceitas. As tempestades que ele desencadeia, o encarniçamento com que o combatem em certo meio, são, para os menos clarividentes, o indício de que ele encerra algo de sério, porque emociona tanta gente. Pensem dele o que quiserem pensar, é incontestavelmente uma das grandes questões na ordem do dia. Assim, não seríamos consequentes com o nosso programa se o deixássemos passar em silêncio. Nossos leitores têm direito de pedir que lhes demos a conhecer o que é essa doutrina que provoca tão grande ruído. Nosso interesse está em satisfazê-los, e nosso dever é fazê-lo com imparcialidade. Pouco lhes importa nossa opinião pessoal sobre a coisa; o que esperam de nós é um relato exato dos fatos e das atitudes de seus partidários para que possam formar sua própria opinião.

“Como nos conduziremos no caso? É muito simples: iremos à própria fonte; faremos pelo Espiritismo o que fazemos pelas questões de política, de finanças, de ciência, de arte ou de literatura, isto é, disto encarregaremos homens especiais. As questões de Espiritismo serão, pois, tratadas por espíritas, como as de arquitetura por arquitetos, a fim de que não nos qualifiquem de cegos raciocinando sobre as cores e que não nos apliquem as palavras de Fígaro: ‘Precisavam de um calculista e tomaram um dançarino.’

“Em suma, o Discussion não se apresenta como órgão nem apóstolo do Espiritismo; abre-lhe suas colunas, como a todas as ideias novas, sem pretender impor essa opinião aos seus leitores, sempre livres de a controlar, aceitar ou rejeitar. Ele deixa aos seus redatores especiais toda liberdade de discutir os princípios, pelo que eles assumem pessoalmente a responsabilidade. Mas o que, no interesse de sua própria dignidade, ele repelirá sempre, é a polêmica agressiva e pessoal.”

 

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[1] Redação em Bruxelas, Montagne de Sion, 17; Paris, Rua Bergère, 31. Preço para a França: 12 francos por ano; 7 francos por semestre; cada número de 8 páginas, grande in-folio: 25 centavos.

 


La Discussion, journal hebdomadaire, politique et financier, imprimé à Bruxelles, n'est point une de ces feuilles légères qui visent à l'amusement du public frivole par le fond et par la forme; c'est un journal sérieux, accrédité surtout dans le monde de la finance, et qui en est à sa onzième année1. Sous le titre de: Le Spiritisme selon les Spirites, le numéro du 31 décembre 1865 contient l'article suivant:

« Spirites et Spiritisme sont deux mots maintenant bien connus et fréquemment employés, quoiqu'ils fussent encore ignorés il y a seulement quelques mois. Cependant la plupart des personnes qui se servent de ces mots en sont à se demander ce qu'ils signifient exactement, et bien que chacune se fasse cette question, nulle ne l'adresse, parce que toutes veulent passer pour connaître le mot de la charade.

« Quelquefois pourtant, la curiosité intrigue jusqu'à amener l'interrogation sur les lèvres, et, à votre désir, chacun vous renseigne.

« Les uns prétendent que le Spiritisme c'est le truc de l'armoire des frères Davenport; d'autres affirment que ce n'est rien autre chose que la magie et la sorcellerie d'autrefois qu'on veut remettre en faveur sous un nouveau nom. Selon les bonnes femmes de tous les quartiers, les Spirites ont des entretiens mystérieux avec le diable, auquel ils ont préalablement signé un compromis. Enfin, si ont lit les journaux, on y apprend que les Spirites sont tous des fous, ou tout au moins les dupes de certains charlatans appelés médiums. Ces charlatans s'en viennent, avec ou sans armoire, donner des représentations à qui veut les payer, et, pour mieux accréditer leur jonglerie, ils disent opérer sous l'influence occulte des Esprits d'outre-tombe.

« Voilà ce que j'avais appris ces derniers temps; vu le désaccord de ces réponses, j'étais résolu, pour m'éclairer, à aller voir le diable, dût-il m'emporter, ou à me faire duper par un médium, dussé-je lui laisser ma raison. Je me souvins alors, très à propos, d'un ami que je soupçonnais de spiritisme, et je fus le trouver, afin qu'il me procurât les moyens de satisfaire ma curiosité.

« Je lui fis part des opinions diverses que j'avais recueillies et lui exposai l'objet de ma visite. Mais mon ami rit beaucoup de ce qu'il appelait ma naïveté et me donna à peu près l'explication que voici:

« Le Spiritisme n'est pas, comme on le croit vulgairement, une recette pour faire danser des tables ou pour exécuter des tours d'escamotage, et c'est à tort que chacun veut y trouver du merveilleux.

« Le Spiritisme est une science ou, pour mieux dire, une philosophie spiritualiste, qui enseigne la morale.

« Elle n'est pas une religion, en ce qu'elle n'a ni dogmes, ni culte, ni prêtres, ni articles de foi; elle est plus qu'une philosophie, parce que sa doctrine est établie sur la preuve certaine de l'immortalité de l'âme: c'est pour fournir cette preuve que les Spirites évoquent les Esprits d'outre- tombe.

« Les médiums sont doués d'une faculté naturelle qui les rend propres à servir d'intermédiaires aux Esprits et à produire avec eux les phénomènes qui passent pour des miracles ou pour de la prestidigitation aux yeux de quiconque en ignore l'explication. Mais la faculté médianimique n'est pas le privilège exclusif de certains individus; elle est inhérente à l'espèce humaine, quoique chacun la possède à différents degrés, ou sous différentes formes.

« Ainsi pour qui connaît le Spiritisme, toutes les merveilles dont on accuse cette doctrine ne sont tout simplement que des phénomènes de l'ordre physique, c'est-à-dire des effets dont la cause réside dans les lois de la nature.

« Cependant les Esprits ne se communiquent pas aux vivants dans le seul but de prouver leur existence: ce sont eux qui ont dicté et développent tous les jours la philosophie spiritualiste.

« Comme toute philosophie, celle-ci a son système, qui consiste dans la révélation des lois qui régissent l'univers et dans la solution d'un grand nombre de problèmes philosophiques devant lesquels, jusqu'ici, l'humanité impuissante a été contrainte de s'incliner.

« C'est ainsi que le Spiritisme démontre, entre autres choses, la nature de l'âme, sa destinée, la cause de notre existence ici-bas; il dévoile le mystère de la mort; il donne raison des vices et des vertus de l'homme; il dit ce qu'est l'homme, ce qu'est le monde, ce qu'est l'univers; il fait enfin le tableau de l'harmonie universelle, etc.

« Ce système repose sur des preuves logiques et irréfutables qui ont elles-mêmes pour arbitre de leur vérité des faits palpables et la raison la plus pure. Ainsi, dans toutes les théories qu'il expose, il agit comme la science et n'avance pas un point que le précédant ne soit complètement certifié. Aussi, le Spiritisme n'impose-t-il pas la confiance, parce qu'il n'a besoin, pour être accepté, que de l'autorité du bon sens.

« Ce système établi, il en est déduit, comme conséquence immédiate, un enseignement moral.

« Cette morale n'est autre que la morale chrétienne, la morale qui est écrite dans le cœur de tout être humain, et elle est de toutes les religions et de toutes les philosophies, par cela même qu'elle appartient à tous les hommes. Mais, dégagée de tout fanatisme, de toute superstition, de tout esprit de secte ou d'école, elle resplendit dans toute sa pureté.

« C'est à cette pureté qu'elle demande toute sa grandeur et toute sa beauté, de sorte que c'est la première fois que la morale nous apparaît revêtue d'un éclat aussi majestueux et aussi splendide.

« L'objet de toute morale est d'être pratiquée; mais celle-ci surtout tient cette condition comme absolue, car elle nomme Spirites, non ceux qui acceptent ses préceptes, mais seulement ceux qui mettent ses préceptes en action.

« Dirai-je quelles sont ses doctrines? Je ne prétends pas enseigner ici, et l'énoncé des maximes me conduirait nécessairement à les développer.

« Je dirai seulement que la morale spirite nous apprend à supporter le malheur sans le mépriser, à jouir du bonheur sans nous y attacher; elle nous abaisse sans nous humilier, elle nous élève sans nous enorgueillir; elle nous place au-dessus des intérêts matériels, sans pour cela les marquer d'avilissement, car elle nous enseigne, au contraire, que tous les avantages dont nous sommes favorisés sont autant de forces qui nous sont confiées et de l'emploi desquelles nous sommes responsables envers les autres et envers nous-mêmes.

« Vient alors la nécessité de spécifier cette responsabilité, les peines qui sont attachées à l'infraction au devoir, et les récompenses dont jouissent ceux qui lui ont obéi. Mais là encore, les assertions ne sont tirées que des faits et peuvent se vérifier jusqu'à parfaite conviction.

« Telle est cette philosophie, où tout est grand, car tout y est simple; où rien n'est obscur, car tout y est prouvé; où tout est sympathique, parce que chaque question y intéresse intimement chacun de nous.

« Telle est cette science qui, projetant une vive lumière sur les ténèbres de la raison, dévoile tout à coup les mystères que nous croyions impénétrables, et recule jusqu'à l'infini l'horizon de l'intelligence.

« Telle est cette doctrine qui prétend rendre heureux, en les améliorant, tous ceux qui consentent à la suivre, et qui ouvre enfin à l'humanité une voie sûre au progrès moral.

« Telle est enfin la folie dont sont atteints les Spirites et la sorcellerie qu'ils pratiquent. »

« Ainsi, en souriant, termina mon ami, qui, à ma prière, me donna rendez-vous pour visiter ensemble quelques réunions spirites, où les expériences se joignent à l'enseignement.

« Rentré chez moi, je me rappelai ce que j'avais dit, de concert avec tout le monde, contre le Spiritisme, avant de connaître seulement la signification de ce mot, et ce souvenir me remplit d'une amère confusion.

« Je pensai alors que, malgré les démentis sévères infligés à l'orgueil humain par les découvertes de la science moderne, nous ne songions guère, dans le temps de progrès où nous vivons, à mettre à profit les enseignements de l'expérience; et que ces mots écrits par Pascal, il y a deux cents ans, seront encore pendant des siècles d'une rigoureuse exactitude: « C'est une maladie naturelle à l'homme de croire qu'il possède la vérité directement; et de là vient qu'il est toujours disposé à nier ce qui lui est incompréhensible. »

« A. BRIQUEL. »

 

Comme on le voit, l'auteur de cet article a voulu présenter le Spiritisme sous son véritable jour, dégagé des travestissements que lui fait subir la critique, tel, en un mot, que l'admettent les Spirites, et nous sommes heureux de dire qu'il a parfaitement réussi. Il est impossible, en effet, de résumer la question d'une manière plus claire et plus précise. Nous devons aussi des félicitations à la direction du journal qui, dans un esprit d'impartialité que l'on aimerait voir chez tous ceux qui font profession de libéralisme, et se posent en apôtres de la liberté de penser, a accueilli une profession de foi aussi explicite.

Au reste, ses intentions touchant le Spiritisme sont nettement formulées dans l'article suivant, publié dans le numéro du 28 janvier:

_________________

1  Bureaux à Bruxelles, 17, Montagne de Sion; Paris, 31, rue Bergère. - Prix pour la France, 12 fr. par an; 7 fr. pour six mois; chaque numéro de huit pages gr. in-folio: 25 centimes.

 

Comment nous entendons parler du Spiritisme.

« L'article publié dans notre numéro du 31 décembre, sur le Spiritisme, a provoqué de nombreuses demandes à l'effet de savoir si nous nous proposons de traiter ultérieurement cette question, et si nous nous en faisons l'organe. Une explication catégorique à ce sujet étant nécessaire pour éviter toute méprise, voici notre réponse:

« La Discussion est un journal ouvert à toutes les idées progressives; or le progrès ne peut se faire que par les idées nouvelles qui viennent de temps à autre changer le cours des idées reçues. Les repousser parce qu'elles détruisent celles dont on a été bercé, c'est, à nos yeux, manquer de logique. Sans nous faire les apologistes de toutes les élucubrations de l'esprit humain, ce qui ne serait pas plus rationnel, nous considérons comme un devoir d'impartialité de mettre le public à même de les juger; pour cela, il suffit de les présenter telles qu'elles sont, sans prendre prématurément parti ni pour ni contre; car, si elles sont fausses, ce n'est pas notre adhésion qui les rendra justes, et si elles sont justes, notre désaveu ne les rendrait pas fausses. En tout, c'est l'opinion publique et l'avenir qui prononcent en dernier ressort; mais, pour apprécier le fort et le faible d'une idée, il faut la connaître dans son essence, et non telle que la présentent ceux qui ont intérêt à la combattre, c'est-à-dire le plus souvent tronquée et défigurée. Si donc nous exposons les principes d'une théorie nouvelle, nous ne voulons pas que ses auteurs ou ses partisans puissent nous faire le reproche de leur faire dire le contraire de ce qu'ils disent. Agir ainsi, n'est pas en assumer la responsabilité: c'est dire ce qui est et réserver l'opinion de tout le monde. Nous mettons l'idée en évidence dans toute sa vérité; si elle est bonne, elle fera son chemin, et nous lui aurons ouvert la porte; si elle est mauvaise, nous aurons donné les moyens de la juger en connaissance de cause.

« C'est ainsi que nous procéderons à l'égard du Spiritisme. Quelle que soit la manière de voir à ce sujet, nul ne peut se dissimuler l'extension qu'il a prise en quelques années; par le nombre et la qualité de ses partisans, il a conquis sa place parmi les opinions reçues. Les tempêtes qu'il soulève, l'acharnement qu'on met à le combattre dans un certain monde, sont, pour les moins clairvoyants, l'indice qu'il renferme quelque chose de grave, puisqu'il met tant de gens en émoi. Que l'on en pense ce qu'on voudra, c'est incontestablement une des grandes questions à l'ordre du jour; nous ne serions donc pas conséquents avec notre programme si nous la passions sous silence. Nos lecteurs ont droit de nous demander que nous leur fassions connaître ce que c'est que cette doctrine qui fait un si grand bruit; notre intérêt est de les satisfaire, et notre devoir est de le faire avec impartialité. Notre opinion personnelle sur la chose leur importe peu; ce qu'ils attendent de nous, c'est un compte rendu exact des faits et gestes de ses partisans, sur lequel ils puissent former leur propre opinion. Comment nous y prendrons-nous? C'est bien simple: Nous irons à la source même; nous ferons pour le Spiritisme ce que nous faisons pour les questions de politique, de finance, de science, d'art ou de littérature; c'est-à-dire que nous en chargerons des hommes spéciaux. Les questions de Spiritisme seront donc traitées par des Spirites, comme celles d'architecture par des architectes, afin qu'on ne nous qualifie pas d'aveugles raisonnant des couleurs, et qu'on ne nous applique pas cette parole de Figaro: Il fallait un calculateur, on prit un danseur.

« En somme, la Discussion ne se pose ni en organe ni en apôtre du Spiritisme; elle lui ouvre ses colonnes comme à toutes les idées nouvelles, sans prétendre imposer cette opinion à ses lecteurs, toujours libres de la contrôler, de l'accepter ou de la rejeter. Elle laisse à ses rédacteurs spéciaux toute liberté de discuter les principes dont ils assument seuls la responsabilité; mais ce que, dans l'intérêt de sa propre dignité, elle repoussera toujours, c'est la polémique agressive et personnelle. »

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