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Revista Espírita 1862 » Janeiro » Do sobrenatural Revue Spirite 1862 » Janvier » Du surnaturel

PELO SR. GUIZOT

 

(2º. Artigo ─ Vide o nº. de dezembro de 1861)

 

Em nosso último número publicamos o eloquente e notável capítulo do Sr. Guizot a propósito do sobrenatural, a respeito do qual nos propúnhamos fazer algumas observações críticas, que em nada diminuem a nossa admiração pelo ilustre escritor.

O Sr. Guizot acredita no sobrenatural. Sobre esse, como sobre muitos outros pontos de vista, importa nos entendamos quanto às palavras. Em sua acepção própria, sobrenatural significa o que está acima da Natureza, fora das leis da Natureza. O sobrenatural, propriamente dito, não está submetido a leis; é uma exceção, uma derrogação das leis que regem a Criação. Numa palavra, é sinônimo de milagre.

No sentido próprio, esses dois vocábulos passaram à linguagem figurada, servindo para designar tudo quanto seja extraordinário, surpreendente, insólito. De uma coisa que causa admiração, diz-se que é miraculosa, como se diz de uma grande extensão, que é incomensurável; de um grande número, que é incalculável ou de uma longa duração, que é eterna, muito embora, a rigor, possam ser medidas, calculadas e previsto um termo à última. Pela mesma razão qualifica-se de sobrenatural aquilo que à primeira vista parece sair dos limites do possível. O vulgo é sempre levado a tomar o vocábulo ao pé da letra naquilo que não compreende. Se por tal se entende tudo quanto se afaste das causas conhecidas, está bem; mas então o vocábulo não tem mais sentido preciso, porque aquilo que era sobrenatural ontem já não o é hoje. Quantas coisas, outrora como tal consideradas, não fez a Ciência entrarem no domínio das leis naturais!

Apesar dos progressos que temos feito, podemos vangloriar-nos de conhecer todos os segredos de Deus? Já nos disse a Natureza a última palavra sobre todas as coisas? Não temos desmentidos diários a essa orgulhosa pretensão? Se, pois, aquilo que ontem era sobrenatural hoje não o é, podemos logicamente inferir que o sobrenatural de hoje deixará de sê-lo amanhã. Para nós, tomamos o vocábulo sobrenatural no seu mais absoluto sentido próprio, isto é, para designar todo fenômeno contrário às leis da Natureza. O caráter do fato sobrenatural ou miraculoso é de ser excepcional. Desde que se repete, é porque está submetido a uma lei, conhecida ou não, e entra na ordem geral.

Se restringirmos a Natureza ao mundo material visível, é evidente que as coisas do mundo invisível serão sobrenaturais. Mas estando, também, o mundo invisível submetido a leis, parece-nos mais lógico definir a Natureza como o conjunto das obras da Criação, regidas pelas leis imutáveis da Divindade. Se, como o demonstra o Espiritismo, o mundo invisível é uma de suas forças, um dos poderes reagentes sobre a matéria, ele representa um papel importante em a Natureza. Por essa razão os fenômenos espíritas para nós nem são sobrenaturais, nem maravilhosos ou miraculosos. Daí se nota que longe de ampliar o círculo do maravilhoso, o Espiritismo tende a restringi-lo e fazê-lo desaparecer.

Dissemos que o Sr. Guizot acredita no sobrenatural, mas no sentido miraculoso, o que de modo algum implica na crença nos Espíritos e suas manifestações. Ora, desde que, para nós, os fenômenos espíritas nada têm de anormal, não se segue que, em determinados casos, Deus não venha derrogar as suas leis, de vez que é Todo Poderoso. Tê-lo-ia feito? Não é aqui o lugar de examinar o problema. Para tanto, fora necessário discutir, não o princípio, mas cada fato isoladamente. Ora, colocando-nos no ponto de vista do Sr. Guizot, isto é, da realidade dos fatos miraculosos, vamos tentar combater a consequência que daí ele tira, isto é, que a religião não é possível sem o sobrenatural e, ao contrário, provar que de seu sistema decorre o aniquilamento da religião.

O Sr. Guizot parte do princípio de que todas as religiões se fundam no sobrenatural. Isso é certo se entendermos como tal aquilo que se não compreende. Se, porém, remontarmos ao estado dos conhecimentos humanos na época da fundação de cada religião conhecida, veremos quão limitado era o saber humano em Astronomia, em Física, em Química, em Geologia, em Fisiologia, etc.

Se, nos tempos modernos, um bom número de fenômenos já perfeitamente conhecidos e explicados passam por maravilhosos, com mais forte razão assim deveria ser em tempos remotos. Acrescentemos que a linguagem figurada, simbólica e alegórica, em uso entre todos os povos do Oriente, naturalmente se prestava às ficções, cujo verdadeiro sentido a ignorância não era capaz de descobrir.

Acrescentemos, ainda, que os fundadores das religiões, homens superiores à craveira comum, conhecendo muito mais, tiveram que impressionar as massas, cercando-se de um prestígio sobre-humano, enquanto certos ambiciosos puderam explorar a credulidade. Vede Numa, Maomé e tantos outros! Direis que são impostores. Seja.

Tomemos as religiões saídas da lei mosaica. Todas adotam a criação segundo o Gênesis. Ora, haverá realmente algo de mais sobrenatural do que essa formação da Terra, tirada do nada, surgida do caos, povoada por todos os seres vivos, homens, animais e plantas, todos formados e adultos, e isto em seis vezes vinte e quatro horas, como se por um golpe de varinha mágica? Não é a derrogação formal das leis que regem a matéria e a progressão dos seres? Certamente que Deus podia fazê-lo. Mas ele o fez? Ainda há bem poucos anos isto era afirmado como artigo de fé, e eis que a Ciência repõe o fato magno da origem do mundo na ordem dos fatos naturais, provando que tudo se realizou segundo as leis eternas. A religião sofreu por não ter mais como base um fato maravilhoso por excelência? Incontestavelmente muito teria sofrido no seu crédito se se tivesse obstinado em negar a evidência, ao passo que ganhou entrando na ordem comum.

Um fato muito menos importante, apesar das perseguições a que deu origem, é o de Josué parando o Sol para prolongar o dia em duas horas. Não importa se foi o Sol ou a Terra que parou. O fato não deixa de ser sobrenatural. É uma derrogação de uma lei capital, a da força que arrasta os mundos.

Pensaram em sair da dificuldade reconhecendo que é a Terra que gira, mas não haviam levado em conta a maçã de Newton, a mecânica celeste de Laplace e a lei da gravitação. Se o movimento da Terra for suspenso, não por duas horas, mas por alguns minutos, cessará a força centrífuga e a Terra precipitar-se-á sobre o Sol. O equilíbrio das águas na sua superfície é mantido pela continuidade do movimento. Cessando este, tudo se esboroa. Ora, a história do mundo não menciona o menor cataclismo nessa época. Não contestamos que Deus tenha podido favorecer a Josué, prolongando a claridade do dia. Por que meio? Ignoramo-lo. Poderia ter sido uma aurora boreal, um meteoro ou qualquer outro fenômeno que não tivesse alterado a ordem das coisas. Mas, inquestionavelmente, não foi aquele que, durante séculos, foi tomado como artigo de fé. É muito natural que outrora acreditassem, mas hoje isso é impossível, a menos que se renegue a Ciência.

Dirão que a religião se apoia sobre muitos outros fatos que nem são explicados, nem explicáveis. Não explicados, sim; inexplicáveis, é outra questão. Sabemos que descobertas e que conhecimentos estão reservados ao futuro? Já não vemos, sob o império do magnetismo, do sonambulismo, do Espiritismo, reproduzirem-se os êxtases, as visões, as aparições, a visão à distância, as curas instantâneas, os transportes, as comunicações orais e outras com os seres do mundo invisível, fenômenos conhecidos desde tempos imemoriais, outrora considerados maravilhosos e hoje demonstrados como pertinentes à ordem das coisas naturais, conforme a lei constitutiva dos seres?

Os livros sagrados estão cheios de fatos qualificados de sobrenaturais. Como, porém, os encontramos análogos e até mais maravilhosos em todas as religiões pagãs da antiguidade, se a verdade de uma religião dependesse do número e da natureza de tais fatos, não saberíamos qual delas seria a verdadeira.

Como prova do sobrenatural, cita o Sr. Guizot a formação do primeiro homem, que foi criado adulto porque, diz ele, sozinho e na infância não teria podido alimentar-se, mas se Deus fez uma exceção criando-o adulto, não teria podido fazer outra, dando ao menino os meios de viver, e isto sem se afastar da ordem estabelecida? Sendo os animais anteriores ao homem, não era possível, em relação ao primeiro menino, realizar a fábula de Rômulo e Remo?

Dizemos o primeiro menino quando deveríamos dizer os primeiros meninos, pois a questão de um tronco único para a espécie humana é controvertida. Com efeito, as leis da antropologia demonstram a impossibilidade material que a posteridade de um só homem tivesse podido, em alguns séculos, povoar toda a Terra e se transformar em raças negras, amarelas e vermelhas, pois está bem demonstrado que essas diferenças são devidas à constituição orgânica, e não ao clima.

O Sr. Guizot sustenta uma tese perigosa ao afirmar que nenhuma religião é possível sem o sobrenatural. Se ele assenta as verdades do Cristianismo sobre a base única do maravilhoso, dá-lhe um apoio frágil, cujas pedras se desagregam a cada dia. Damos-lhe uma base mais sólida: as leis imutáveis de Deus. Esta base desafia o tempo e a Ciência, porque os tempos e a Ciência virão sancioná-la.

A tese do Sr. Guizot conduz, pois, à conclusão que, num tempo dado, não haverá mais religião possível, nem mesmo a cristã, se se demonstrar que é natural aquilo que é tomado como sobrenatural. Foi isso que quis ele provar? Não. Mas é a consequência de seu argumento, e para ela marchamos a passos largos, porque, por mais que se faça, por mais que se amontoem raciocínios, não se chegará a manter a crença de que um fato é sobrenatural quando ficou provado que não é.

A tal respeito somos muito menos céticos que o Sr. Guizot, e dizemos que Deus não é menos digno de nossa admiração, do nosso reconhecimento e do nosso respeito por não haver derrogado as suas leis, grandes principalmente por sua imutabilidade; que não há necessidade do sobrenatural para lhe render o culto que lhe é devido e, consequentemente, para ter uma religião que encontrará tanto menos incrédulos quanto mais é, em todos os pontos, sancionada pela razão.

Em nossa opinião, nada tem o Cristianismo a perder com essa sanção, mas apenas a lucrar. Se algo o prejudicou, na opinião de muitos, foi precisamente o abuso do maravilhoso e do sobrenatural. Fazei com que os homens vejam a grandeza e o poder de Deus em todas as suas obras; mostrai-lhe a sabedoria e a admirável previdência, desde a germinação da plantinha até o mecanismo do Universo, e as maravilhas serão abundantes. Substitua-se em seu espírito a ideia de um Deus ciumento, colérico, vingativo e implacável, pela de um Deus soberanamente justo, bom e misericordioso, que não condena a suplícios eternos e sem esperança, por faltas temporárias. Que desde a infância ele seja alimentado por essas ideias que crescerão com a razão, e fareis muito mais crentes, firmes e sinceros, do que se forem embalados por alegorias, que são impostas ao pé da letra e que, mais tarde, repelidas por ele, conduzi-lo-ão a duvidar de tudo e a tudo negar. Se quereis manter a religião pela via única da ilusão do maravilhoso, só haverá um meio: manter os homens na ignorância. Vede se isso é possível. Por muita insistência em mostrar a ação de Deus apenas nos prodígios, nas exceções, a gente deixa de mostrá-la nas maravilhas que calcamos aos nossos pés.

Certamente objetarão com o nascimento do Cristo, que não poderia ser explicado pelas leis naturais e que é uma das provas mais brilhantes de seu caráter divino. Não é aqui o lugar de examinar esse assunto. Entretanto, ainda uma vez, não contestamos a Deus o poder de derrogar as suas leis. O que contestamos é a necessidade absoluta de tal derrogação, para o estabelecimento de uma religião qualquer.

Dirão que o Magnetismo e o Espiritismo, reproduzindo os fenômenos tidos por miraculosos, são contrários à religião atual, porque tendem a tirar desses fatos o seu caráter sobrenatural. Mas, que fazer, se os fatos são verdadeiros? Não os impedirão, desde que não constituem privilégio de um homem, mas se repetem no mundo inteiro. Outro tanto poder-se-ia dizer da Física, da Química, da Astronomia, da Geologia, da Meteorologia, de todas as ciências, enfim. A tal respeito diremos que o ceticismo de muita gente não tem outra fonte senão a impossibilidade, para eles, de tais fatos excepcionais. Negando a base sobre que se apoiam, negam tudo o mais. Prove-se-lhes a possibilidade e a realidade de tais fatos, reproduzindo-os aos seus olhos, e serão forçados a acreditar.

─ Isso é tirar ao Cristo o seu caráter divino!

─ Então preferis que eles não creiam em nada a acreditarem em alguma coisa? Haverá apenas esse meio de provar a divindade da missão do Cristo? Seu caráter não se destaca cem vezes melhor da sublimidade de sua doutrina e do exemplo que ele deu de suas virtudes? Se não se vê esse caráter senão nos atos materiais que praticou, outros não os fizeram semelhantes, para não falar senão de seu contemporâneo Apolônio de Tiana? Por que, então, o Cristo o superou? É porque fez um milagre muito maior do que transformar água em vinho; alimentar quatro mil homens com cinco pães; curar epilépticos; dar vista aos cegos e fazer andarem os paralíticos. Esse milagre é o de ter mudado a face do mundo; é a revolução feita pela simples palavra de um homem saído de um estábulo, durante três anos de pregações, sem nada haver escrito, ajudado apenas por alguns obscuros pescadores ignorantes. Eis o verdadeiro prodígio, no qual é preciso ser cego para não ver a mão de Deus. Penetrai os homens dessa verdade, eis a melhor maneira de convertê-los em sólidos crentes.


Par M. Guizot.

(2° article. - Voir le numéro de décembre 1861.)

Nous avons publié, dans notre dernier numéro, l'éloquent et remarquable chapitre de M. Guizot sur le Surnaturel, et au sujet duquel nous nous sommes proposé de faire quelques remarques critiques qui n'ôtent rien de notre admiration pour l'illustre et savant écrivain.

M. Guizot croit au surnaturel; sur ce point, comme sur beaucoup d'autres, il importe de bien s'entendre sur les mots. Dans son acception propre, surnaturel signifie ce qui est au-dessus de la nature, en dehors des lois de la nature. Le surnaturel, proprement dit, n'est donc point soumis à des lois; c'est une exception, une dérogation aux lois qui régissent la création; en un mot, il est synonyme de miracle. Du sens propre, ces deux mots ont passé dans le langage figuré, où l'on s'en sert pour désigner tout ce qui est extraordinaire, surprenant, insolite; on dit d'une chose qui étonne qu'elle est miraculeuse, comme on dit d'une grande étendue qu'elle est incommensurable, d'un grand nombre qu'il est incalculable, d'une longue durée qu'elle est éternelle, quoique, à la rigueur, on puisse mesurer l'une, calculer l'autre, et prévoir un terme à la dernière. Par la même raison, on qualifie de surnaturel ce qui, au premier abord, semble sortir des limites du possible. Le vulgaire ignorant est surtout très porté à prendre ce mot à la lettre pour ce qu'il ne comprend pas. Si l'on entend par là ce qui s'écarte des causes connues, nous le voulons bien, mais alors ce mot n'a plus de sens précis, car ce qui était surnaturel hier ne l'est plus aujourd'hui. Que de choses, considérées jadis comme telles, la science n'a-t-elle pas fait rentrer dans le domaine des lois naturelles! Quelques progrès que nous ayans faits, pouvons-nous nous flatter de connaître tous les secrets de Dieu? La nature nous a-t-elle dit son dernier mot sur toutes choses? Chaque jour ne vient-il pas donner un démenti à cette orgueilleuse prétention? Si donc ce qui était surnaturel hier ne l'est plus aujourd'hui, on peut logiquement en inférer que ce qui est surnaturel aujourd'hui peut ne plus l'être demain. Pour nous, nous prenons le mot surnaturel dans son sens propre le plus absolu, c'est-à-dire pour désigner tout phénomène contraire aux lois de la nature. Le caractère du fait surnaturel ou miraculeux est d'être exceptionnel; dès lors qu'il se reproduit, c'est qu'il est soumis à une loi connue ou inconnue, et il rentre dans l'ordre général.

Si l'on restreint la nature au monde matériel, visible, il est évident que les choses du monde invisible seront surnaturelles; mais le monde invisible étant lui-même soumis à des lois, nous croyons plus logique de définir la nature: L'ensemble des œuvres de la création régies par les lois immuables de la Divinité. Si, comme le démontre le Spiritisme, le monde invisible est une des forces, une des puissances réagissant sur la matière, il joue un rôle important dans la nature, c'est pourquoi les phénomènes spirites ne sont pour nous ni surnaturels, ni merveilleux, ni miraculeux; d'où l'on voit que le Spiritisme, loin d'étendre le cercle du merveilleux, tend à le restreindre et même à le faire disparaître.

M. Guizot, avons-nous dit, croit au surnaturel, mais dans le sens miraculeux, ce qui n'implique nullement la croyance aux Esprits et à leurs manifestations; or, de ce que, pour nous, les phénomènes spirites n'ont rien d'anomal, il ne s'ensuit pas que Dieu n'ait pu, dans certains cas, déroger à ses lois, puisqu'il a la toute-puissance. L'a-t-il fait? Ce n'est pas ici le lieu de l'examiner; il faudrait pour cela discuter, non le principe, mais chaque fait isolément; or, nous plaçant au point de vue de M. Guizot, c'est-à-dire de la réalité des faits miraculeux, nous allons essayer de combattre la conséquence qu'il en tire, savoir que: la religion n'est pas possible sans surnaturel, et prouver au contraire que de son système découle l'anéantissement de la religion.

M. Guizot part de ce principe que toutes les religions sont fondées sur le surnaturel. Cela est vrai si l'on entend par là ce qui n'est pas compris; mais si l'on remonte à l'état des connaissances humaines à l'époque de la fondation de toutes les religions connues, on sait combien était alors borné le savoir des hommes en astronomie, en physique, en chimie, en géologie, en physiologie, etc.; si, dans les temps modernes, bon nombre de phénomènes aujourd'hui parfaitement connus et expliqués; ont passé pour merveilleux, à plus forte raison devait-il en être ainsi dans les temps reculés. Ajoutons que le langage figuré, symbolique et allégorique en usage chez tous les peuples de l'Orient, se prêtait naturellement aux fictions, dont l'ignorance ne permettait pas de découvrir le véritable sens; ajoutons encore que les fondateurs des religions, hommes supérieurs au vulgaire, et sachant plus que lui, ont dû, pour impressionner les masses, s'entourer d'un prestige surhumain, et que certains ambitieux ont pu exploiter la crédulité: voyez Numa; voyez Mahomet et tant d'autres. Ce sont des imposteurs, direz-vous. Soit; prenons les religions issues de la loi mosaïque; toutes adoptent la création selon la Genèse; or, y a-t-il en effet quelque chose de plus surnaturel que cette formation de la terre, tirée du néant, débrouillée du chaos, peuplée de tous les êtres vivants, hommes, animaux et plantes, tout formés et adultes, et cela en six fois vingt-quatre heures, comme par un coup de baguette magique? N'est-ce pas la dérogation la plus formelle aux lois qui régissent la matière et la progression des êtres? Certes, Dieu pouvait le faire; mais l'a-t-il fait? Il y a peu d'années encore, on l'affirmait comme un article de foi, et voici que la science replace le fait immense de l'origine du monde dans l'ordre des faits naturels, en prouvant que tout s'est accompli selon les lois éternelles. La religion a-t-elle souffert de n'avoir plus pour base un fait merveilleux par excellence? Elle eût incontestablement beaucoup souffert dans son crédit, si elle se fût obstinée à nier l'évidence, tandis qu'elle a gagné en rentrant dans le droit commun.

Un fait beaucoup moins important, malgré les persécutions dont il a été la source, c'est celui de Josué arrêtant le soleil pour prolonger le jour de deux heures. Que ce soit le soleil ou la terre qui ait été arrêtée, le fait n'en est pas moins tout ce qu'il y a de plus surnaturel; c'est une dérogation à une des lois les plus capitales, celle de la force qui entraîne les mondes. On a cru échapper à la difficulté en reconnaissant que c'est la terre qui tourne, mais on avait compté sans la pomme de Newton, la mécanique céleste de Laplace et la loi de la gravitation. Que le mouvement de la terre soit suspendu, non pas deux heures, mais quelques minutes, la force centrifuge cesse, et la terre va se précipiter sur le soleil; l'équilibre des eaux à sa surface est maintenu par la continuité du mouvement; le mouvement cessant, tout est bouleversé; or, l'histoire du monde ne fait pas mention du moindre cataclysme à cette époque. Nous ne contestons pas que Dieu ait pu favoriser Josué en prolongeant la clarté du jour; quel moyen employa-t-il? nous l'ignorons; ce pouvait être une aurore boréale, un météore ou tout autre phénomène qui n'eût rien changé à l'ordre des choses; mais, à coup sûr, ce ne fut pas celui dont on a fait pendant des siècles un article de foi; que jadis on l'ait cru, c'est assez naturel, mais aujourd'hui cela n'est pas possible, à moins de renier la science.

Mais, dira-t-on, la religion s'appuie sur bien d'autres faits qui ne sont ni expliqués ni explicables. Inexpliqués, oui; inexplicables, c'est une autre question; sait-on les découvertes et les connaissances que nous réserve l'avenir? Ne voit-on pas déjà, sous l'empire du magnétisme, du somnambulisme, du Spiritisme, se reproduire les extases, les visions, les apparitions, la vue à distance, les guérisons instantanées, les enlèvements, les communications orales et autres avec les êtres du monde invisible, phénomènes connus de temps immémorial, considérés jadis comme merveilleux, et démontrés aujourd'hui appartenir à l'ordre des choses naturelles selon la loi constitutive des êtres? Les livres sacrés sont pleins de faits qualifiés de surnaturels; mais, comme on en trouve d'analogues et de plus merveilleux encore dans toutes les religions païennes de l'antiquité, si la vérité d'une religion dépendait du nombre et de la nature de ces faits, nous ne savons trop celle qui l'emporterait.

M. Guizot, comme preuve du surnaturel, cite la formation du premier homme qui a dû être créé adulte, parce que, dit-il, seul, à l'état d'enfance, il n'eût pu se nourrir. Mais si Dieu a fait une exception en le créant adulte, ne pouvait-il en faire une en donnant à l'enfant les moyens de vivre, et cela même sans s'écarter de l'ordre établi? Les animaux étant antérieurs à l'homme, ne pouvait-il réaliser, à l'égard du premier enfant, la fable de Romulus et Rémus?

Nous disons du premier enfant, nous devrions dire des premiers enfants; car la question d'une souche unique de l'espèce humaine est très controversée. En effet, les lois anthropologiques démontrent l'impossibilité matérielle que la postérité d'un seul homme ait pu, en quelques siècles, peupler toute la terre, et se transformer en races noires, jaunes et rouges; car il est bien démontré que ces différences tiennent à la constitution organique et non au climat.

M. Guizot soutient une thèse dangereuse en affirmant que nulle religion n'est possible sans surnaturel; s'il fait reposer les vérités du christianisme sur la base unique du merveilleux, il lui donne un appui fragile dont les pierres se détachent chaque jour. Nous lui en donnons une plus solide: les lois immuables de Dieu. Cette base défie le temps et la science; car le temps et la science viendront la sanctionner. La thèse de M. Guizot conduit donc droit à cette conclusion que, dans un temps donné, il n'y aura plus de religion possible, pas même la religion chrétienne, si ce qui est regardé comme surnaturel est démontré naturel. Est-ce là ce qu'il a voulu prouver? Non; mais c'est la conséquence de son argument, et l'on y marche à grands pas; car on aura beau faire et entasser raisonnements sur raisonnements, on ne parviendra pas à maintenir la croyance qu'un fait est surnaturel, quand il est prouvé qu'il ne l'est pas.

Sous ce rapport nous sommes beaucoup moins sceptique que M. Guizot, et nous disons que Dieu n'est pas moins digne de notre admiration, de notre reconnaissance et de notre respect pour n'avoir pas dérogé à ses lois, grandes surtout par leur immuabilité, et qu'il n'est pas besoin de surnaturel pour lui rendre le culte qui lui est dû, et, par conséquent, pour avoir une religion qui trouvera d'autant moins d'incrédules qu'elle sera de tous points sanctionnée par la raison. Or, selon nous, le christianisme n'a rien à perdre à cette sanction; il ne peut qu'y gagner: si quelque chose a pu lui nuire dans l'opinion de beaucoup de gens, c'est précisément l'abus du merveilleux et du surnaturel. Faites voir aux hommes la grandeur et la puissance de Dieu dans toutes ses œuvres; montrez-lui sa sagesse et son admirable prévoyance depuis la germination du brin d'herbe jusqu'au mécanisme de l'univers: les merveilles ne manqueront pas; remplacez dans son esprit l'idée d'un Dieu jaloux, colère, vindicatif et implacable, par celle d'un Dieu souverainement juste, bon et miséricordieux, qui ne condamne pas à des supplices éternels et sans espoir pour des fautes temporaires; que dès l'enfance il soit nourri de ces idées qui grandiront avec sa raison, et vous ferez plus de fermes et sincères croyants qu'en le berçant d'allégories que vous le forcez de prendre à la lettre, et qui, plus tard, repoussées par lui, le conduisent à douter de tout, et même à tout nier. Si vous voulez maintenir la religion par l'unique prestige du merveilleux, il n'y a qu'un seul moyen, c'est de maintenir les hommes dans l'ignorance; voyez si c'est possible. A force de ne montrer l'action de Dieu que dans des prodiges, dans des exceptions, on cesse de la faire voir dans les merveilles que nous foulons aux pieds.

On objectera sans doute la naissance miraculeuse du Christ, que l'on ne saurait expliquer par les lois naturelles, et qui est une des preuves les plus éclatantes de son caractère divin. Ce n'est point ici le lieu d'examiner cette question; mais, encore une fois, nous ne contestons pas à Dieu le pouvoir de déroger aux lois qu'il a faites; ce que nous contestons, c'est la nécessité absolue de cette dérogation pour l'établissement d'une religion quelconque.

Le Magnétisme et le Spiritisme, dira-t-on, en reproduisant des phénomènes réputés miraculeux, sont contraires à la religion actuelle, parce qu'ils tendent à ôter à ces faits leur caractère surnaturel. Qu'y faire, si ces faits sont réels? On ne les empêchera pas, puisqu'ils ne sont pas le privilège d'un homme, mais qu'ils se produisent dans le monde entier. On pourrait en dire autant de la physique, de la chimie, de l'astronomie, de la géologie, de la météorologie, de toutes les sciences en un mot. Sous ce rapport, nous dirons que le scepticisme de beaucoup de gens n'a pas d'autre source que l'impossibilité, selon eux, de ces faits exceptionnels; niant la base sur laquelle on s'appuie, ils nient tout le reste; prouvez leur la possibilité et la réalité de ces faits, en les reproduisant sous leurs yeux, ils seront bien forcés d'y croire. - Mais c'est ôter au Christ son caractère divin! - Aimez-vous donc mieux qu'ils ne croient à rien du tout que de croire à quelque chose? N'y a-t-il donc que ce moyen de prouver la divinité de la mission du Christ? Son caractère ne ressort-il pas cent fois mieux de la sublimité de sa doctrine et de l'exemple qu'il a donné de toutes les vertus? Si l'on ne voit ce caractère que dans les actes matériels qu'il a accomplis, d'autres n'en ont-ils pas fait de semblables, à ne parler que d'Apollonius de Thyane, son contemporain? Pourquoi donc le Christ l'a-t-il emporté sur ce dernier? C'est parce qu'il a fait un miracle bien autrement grand que de changer l'eau en vin, de nourrir quatre mille hommes avec cinq pains, de guérir les épileptiques, de rendre la vue aux aveugles et de faire marcher les paralytiques; ce miracle, c'est d'avoir changé la face du monde; c'est la révolution qu'a faite la simple parole d'un homme sorti d'une étable pendant trois ans de prédication, sans avoir rien écrit, aidé seulement de quelques obscurs pêcheurs ignorants. Voilà le véritable prodige, celui où il faut être aveugle pour ne pas voir la main de Dieu. Pénétrez les hommes de cette vérité, c'est le meilleur moyen de faire de solides croyants.

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