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Revista Espírita 1862 » Abril » Frenologia espiritualista e espírita - Perfectibilidade da raça negra

FRENOLOGIA ESPIRITUALISTA E ESPÍRITA

 

PERFECTIBILIDADE DA RAÇA NEGRA[1]

 

A raça negra é perfectível? Segundo alguns, a questão é julgada e resolvida negativamente. Se assim é, se essa raça é votada por Deus a uma eterna inferioridade, a consequência é que será inútil preocuparmo-nos com ela e que devemos limitar-nos a fazer do negro uma espécie de animal doméstico dedicado à cultura do açúcar e do algodão.

Entretanto a Humanidade, tanto quanto o interesse social, requer um exame mais acurado. É o que tentaremos fazer. Mas como uma conclusão dessa importância num ou noutro sentido, não pode ser alcançada levianamente, e deve apoiar-se em raciocínio sério, pedimos permissão para desenvolver algumas considerações preliminares, que nos servirão para mostrar, mais uma vez, que o Espiritismo é a única chave possível de uma porção de problemas insolúveis com o auxílio dos dados atuais da Ciência.

A frenologia nos servirá de ponto de partida. Exporemos sumariamente as suas bases fundamentais, para melhor compreensão do assunto.

Como se sabe, a frenologia apoia-se no princípio que o cérebro é o órgão do pensamento, como o coração é o da circulação, o estômago o da digestão, o fígado o da secreção da bile. Este ponto é admitido por todos, porque ninguém pode atribuir o pensamento a outra parte do corpo. Cada um sente que pensa pela cabeça e não pelo braço ou pela perna. Além disso, sente-se instintivamente que a sede do pensamento está na fronte: é aí, e não no occipital, que se leva a mão, para indicar que acaba de brotar uma ideia. Para todo o mundo o desenvolvimento da parte frontal leva a presumir mais inteligência do que quando ela é baixa e deprimida. Por outro lado, as experiências anatômicas e fisiológicas demonstraram claramente o papel especial de certas partes do cérebro nas funções vitais, e a diferença dos fenômenos produzidos pela lesão de tal ou qual parte. A esse respeito, as pesquisas científicas não deixam dúvida. As do Sr. Flourens, principalmente, provaram à evidência a especialidade das funções do cerebelo.

Assim, é admitido como princípio que cada parte do cérebro tem a sua função. Além disto, é reconhecido que os cordões nervosos que, originado-se do cérebro, se ramificam em todas as partes do corpo, como os filamentos de uma raiz, são afetados de maneira diferente, conforme a sua destinação. É assim que o nervo óptico, que alcança o olho e se espalha na retina, é afetado pela luz e pelas cores e transmite essas sensações ao cérebro numa porção especial; que o nervo auditivo é afetado pelos sons e os nervos olfativos pelos odores. Se um desses nervos perder a sensibilidade por uma causa qualquer, não haverá mais a sensação: fica-se cego, surdo ou privado do olfato. Esses nervos têm, pois, funções distintas e não podem de modo algum se substituir, embora o mais atento exame não mostre a mais ligeira diferença na sua contextura.

Partindo de tais princípios, a frenologia vai mais longe: localiza todas as faculdades morais e intelectuais, a cada uma das quais determina um lugar especial no cérebro. É assim que ela afeta um órgão com instinto de destruição que, levado ao excesso, se torna crueldade e ferocidade; um outro com a firmeza, cujo excesso, sem a contrapartida do julgamento, produz a teimosia; um outro ao amor pela progenitura; outros à memória das localidades, à dos números, à das formas, ao sentimento poético, à harmonia dos sons, das cores, etc.

Não é aqui o lugar para fazer a descrição anatômica do cérebro. Apenas diremos que se fizermos uma secção longitudinal na massa, reconheceremos que da base partem feixes fibrosos que vão espalhar-se na superfície, apresentando mais ou menos o aspecto de um cogumelo cortado verticalmente. Cada feixe corresponde a uma das circunvoluções na superfície externa, de onde se segue que o desenvolvimento da circunvolução corresponde ao desenvolvimento do feixe fibroso. Segundo a frenologia, sendo cada feixe a sede de uma sensação ou de uma faculdade, conclui ela que a energia da sensação ou da faculdade é proporcional ao desenvolvimento do órgão.

No feto, a caixa óssea do crânio ainda não está formada. A princípio ela é apenas uma película, uma membrana muito flexível, que se modela, consequentemente, nas partes salientes do cérebro e lhes conserva a impressão, à medida que se endurece, pelo depósito de fosfato de cálcio, que é a base dos ossos. Das saliências do crânio a frenologia conclui o volume do órgão, e do volume do órgão conclui o desenvolvimento da faculdade.

Tal é, em poucas palavras, o princípio da ciência frenológica.

Conquanto o nosso objetivo não seja desenvolvê-la aqui, ainda algumas palavras são necessárias quanto ao modo de apreciação. Cometer-se-ia grave erro se se pensasse em poder deduzir o caráter absoluto de uma pessoa pela simples inspeção das saliências do crânio. As faculdades se contrabalançam reciprocamente, se equilibram, se corroboram ou se atenuam umas em relação às outras, de tal sorte que, para julgar um indivíduo, é necessário levar em conta o grau de influência de cada uma, em razão do seu desenvolvimento, depois fazer entrar na balança o temperamento, o meio, os hábitos e a educação.

Suponhamos um homem com o órgão da destruição muito pronunciado, com atrofia dos órgãos das faculdades morais e afetivas. Ele será abjetamente feroz. Mas se à destruição aliar a benevolência, a afeição, as faculdades intelectuais, a destruição será neutralizada e terá o efeito de lhe dar mais energia, e ele poderá ser um homem muito digno, ao passo que o observador superficial que o julgar pela inspeção apenas do primeiro órgão, o tomará por um assassino. Compreendem-se, assim, todas as modificações do caráter, que podem resultar do concurso das outras faculdades, como a astúcia, a circunspecção, a autoestima, a coragem, etc. A só sensação da cor fará o colorista, mas não fará o pintor; a da forma, só, não fará o desenhista; as duas reunidas apenas farão um bom copista, se não houver, ao mesmo tempo, o sentimento da idealidade ou da poesia, e as faculdades reflexivas e comparativas.

Isto basta para mostrar que as observações frenológicas práticas apresentam grande dificuldade e repousam sobre considerações filosóficas, que não estão ao alcance de todos.

Estabelecidas essas preliminares, vejamos a coisa de outro ponto de vista.

De início, dois sistemas radicalmente antagônicos dividiram os frenologistas em materialistas e espiritualistas. Não admitindo nada fora da matéria, dizem os primeiros que o pensamento é um produto da substância cerebral; que o cérebro secreta o pensamento, como as glândulas salivares secretam a saliva, como o fígado secreta a bile. Ora, como a quantidade de secreção é geralmente propor­cional ao volume e à qualidade do órgão secretor, eles dizem que a quantidade de pensamentos é proporcional ao volume e à qualidade do cérebro; que cada parte deste, secretando uma ordem particular de pensamentos, os diversos sentimentos e as diversas aptidões estão na razão direta do órgão que os produz.

Não refutaremos essa monstruosa doutrina, que faz do homem uma máquina, sem responsabilidade por seus atos maus e sem mérito pelas boas qualidades, e que apenas deve o seu gênio e as suas virtudes ao acaso de sua organização[2]. Com semelhante sistema, toda punição é injusta e todos os crimes são justificados.

Ao contrário, os espiritualistas dizem que os órgãos não são a causa das faculdades, mas os instrumentos das manifestações das faculdades; que o pensamento é um atributo da alma e não do cérebro; que, possuindo por si mesma aptidões diversas, a predominância desta ou daquela faculdade impele o desenvolvimento do órgão correspondente, como o exercício de um braço determina o desenvolvimento dos músculos desse braço. Daí se segue que o desenvolvimento de um órgão é efeito e não causa. Assim, um homem não é poeta porque tenha o órgão da poesia. Ele tem o órgão da poesia porque é poeta, o que é muito diferente.

Mas aqui se apresenta outra dificuldade, ante a qual forçosamente esbarram os frenologistas: se for espiritualista, dirá que o poeta tem o órgão da poesia porque é poeta, mas não nos diz por que ele é poeta; porque o é, em vez de seu irmão, embora educado nas mesmas condições? E assim em relação a todas as outras aptidões.

Só o Espiritismo pode dar a explicação.

Com efeito, se a alma fosse criada ao mesmo tempo que o corpo, a do sábio do Instituto seria tão nova quanto a do selvagem. Então, por que há na Terra selvagens e membros do Instituto? Direis que depende do meio em que vivem. Seja, mas então, por que homens nascidos nos meios mais ingratos e mais refratários se tornam gênios, enquanto que meninos que bebem a Ciência com o leite materno são imbecis?

Os fatos não provam sobejamente que há homens instintivamente bons ou maus, inteligentes ou estúpidos? É, pois, necessário haja um germe na alma. De onde vem ele? Pode-se dizer razoavelmente que Deus os fez de todos os tipos, uns chegando sem esforço e outros nem mesmo com um trabalho sistemático? Haveria nisso justiça e bondade? Evidentemente não.

Uma única solução é possível: a preexistência da alma; sua anterioridade ao nascimento do corpo; o desenvolvimento adquirido conforme o tempo vivido e as várias migrações percorridas. Unindo-se ao corpo, a alma traz, pois, o que adquiriu, em boas ou más qualidades. Daí as predisposições instintivas, de onde poder-se dizer com certeza que aquele que nasceu poeta já cultivou a poesia; o que nasceu músico já cultivou a música e o que nasceu facínora já foi mais facínora. Tal é a fonte das faculdades inatas que produzem, nos órgãos afetados à sua manifestação, um trabalho interior, molecular, que determina o seu desenvolvimento.

Isto nos conduz ao exame da importante questão da inferioridade de certas raças e da sua perfectibilidade.

Para começar, estabelecemos como princípio que todas as faculdades, todas as paixões, todos os sentimentos, todas as apti­dões estão na natureza; são necessárias à harmonia geral, porque Deus nada faz de inútil; o mal resulta do abuso, bem como da falta de contrapeso e equilíbrio entre as diversas faculdades. Como as faculdades não se desenvolvem simultaneamente, disso resulta que só lentamente se estabelece o equilíbrio; que essa falta de equilíbrio produz os homens imperfeitos, nos quais o mal domina momentaneamente.

Tomemos para exemplo o instinto de destruição. Ele é necessário, porque na Natureza há necessidade de que tudo seja destruído para se renovar. Por isso todas as espécies vivas são, ao mesmo tempo, agentes destruidores e reprodutores. Mas o instinto de destruição isolado é um instinto cego e brutal. Ele domina entre os povos primitivos, entre os selvagens cuja alma ainda não adquiriu faculdades reflexivas próprias a regular a destruição na justa medida.

Em uma única existência poderá o selvagem adquirir essas faculdades que lhe faltam? Seja qual for a educação que lhe derdes desde o berço, dele fareis um São Vicente de Paulo, um cientista, um orador, um artista? Não, porque é materialmente impossível. Contudo esse selvagem tem uma alma. Qual a sorte dessa alma depois da morte? É punida pelos atos bárbaros que ninguém reprimiu? É colocada em igualdade com o homem de bem? Um não é mais racional que o outro. É, então, condenada a ficar eternamente em um estado misto, que nem é felicidade nem desgraça? Isso não seria justo, porque se ela não é mais perfeita, não depende de si.

Não se pode sair desse dilema senão admitindo a possibilidade de progresso. Ora, como pode progredir senão tendo novas exis­tências? Dir-se-á que poderá progredir como Espírito, sem voltar à Terra. Mas, então, por que nós, civilizados e esclarecidos, nascemos na Europa e não na Oceania? Em corpos brancos em vez de corpos negros? Por que um ponto de partida tão diferente, se só se progride como Espírito? Por que Deus nos livrou da longa rota percorrida pelos selvagens?

Nossas almas seriam de natureza diversa das suas? Por que tentar torná-los cristãos? Se os tornais cristãos é que os olhais como vossos iguais perante Deus. E se é vosso igual perante Deus, por que Deus vos concede privilégios?

Por mais que façais não chegareis a nenhuma solução, a não ser admitindo para nós um progresso anterior e para os selvagens um progresso ulterior.

Se a alma do selvagem deve progredir ulteriormente, é que nos alcançará. Se progredimos anteriormente, é que nós fomos selvagens, pois se for diverso o ponto de partida, não haverá mais justiça, e se Deus não for justo, não será Deus.

Temos, assim, forçosamente, duas existências extremas: a do selvagem e a do supercivilizado, mas não haverá meio-termo entre esses dois extremos? Segui a escala dos povos e vereis que há uma cadeia ininterrupta, sem solução de continuidade. Ainda uma vez, todos esses problemas são insolúveis sem a pluralidade de existências. Dizei que os neozelandeses renascerão num povo um pouco menos bárbaro, e assim por diante até a civilização, e tudo se explica; que se, em vez de seguir os degraus da escada, ele os transpuser de um salto e chegar, sem transição, até nós, dará um hediondo espetáculo de um Dumollard, que para nós é um monstro e que nada apresentaria de anormal entre as tribos da África central, de onde talvez tenha saído.

Assim é que, se nos fecharmos em uma existência única, tudo é obscuridade, tudo é problema sem saída, ao passo que com a reencarnação tudo é claridade, tudo tem solução.

Voltemos à frenologia. Ela admite órgãos especiais para cada faculdade, e pensamos que esteja certa. Mas vamos mais longe. Vimos que cada órgão cerebral é formado de um feixe de fibras. Pensamos que cada fibra corresponda a uma nuança da faculdade. É verdade que isto não passa de uma hipótese, mas que poderá abrir caminho a novas observações. O nervo auditivo recebe os sons e os transmite ao cérebro, mas se o nervo é homogêneo, como percebe sons tão variados? É, pois, lícito admitir que cada fibra nervosa seja afetada por um som diferente, com o qual, de certo modo, vibra em uníssono, como as cordas de uma harpa. Todos os tons estão na Natureza. Imaginemos uma centena deles, desde os mais agudos até os mais graves. O homem que possuísse cem fibras correspondentes perceberia todos; outro que só possuísse a metade, só acusaria a metade dos sons, deixando de registrar os outros, dos quais nem teria consciência. Dá-se o mesmo com as cordas vocais, para exprimir os sons; com as fibras ópticas para perceber as diversas cores; com as olfativas para registrar todos os odores. O mesmo raciocínio pode aplicar-se aos órgãos de todos os gêneros de percepções e de manifestações.

Todos os corpos animados encerram, incontestavelmente, o princípio de todos os órgãos, embora, em certos indivíduos, alguns se achem em estado de tal modo rudimentar que não são suscetíveis de desenvolvimento e que são como se não existissem. Assim, nesses indivíduos, não pode haver percepções nem manifestações correspondentes a esses órgãos. Numa palavra, em relação a essas faculdades, eles são como os cegos para a luz e os surdos para a música.

O exame frenológico dos povos pouco inteligentes constata a predominância das faculdades instintivas e a atrofia dos órgãos da inteligência. Aquilo que é excepcional nos povos adiantados é a regra em certas raças. Por quê? Será uma injusta preferência? Não, é sabedoria, pois a natureza é sempre previdente; nada faz de inútil. Ora, seria inútil dar um instrumento completo a quem não tenha meios para dele se servir. Os Espíritos selvagens são ainda crianças, se assim se pode dizer. Neles muitas faculdades ainda estão latentes. Que faria o Espírito de um hotentote no corpo de um Arago? Seria como alguém que nada sabe de música diante de um piano excelente. Por uma razão inversa, que faria o Espírito de Arago no corpo de um hotentote? Seria como um Liszt diante de um piano contendo apenas algumas cordas estragadas das quais o seu talento não conseguiria jamais tirar sons harmoniosos. Arago, entre os selvagens, com todo o seu gênio, seria tão inteligente quanto o pode ser um selvagem, e nada mais. Ele jamais seria, numa pele negra, membro do Instituto. Seu Espírito faria o desenvolvimento dos órgãos? Dos órgãos fracos, sim; dos rudimentares, não[3].

Assim, a Natureza apropriou os corpos ao grau de adiantamento dos Espíritos que neles devem encarnar-se. Por isso os corpos das raças primitivas possuem menos cordas vibrantes que as raças mais adiantadas.

Há, pois, no homem, dois seres bem distintos: o Espírito, ser pensante, e o corpo, instrumento das manifestações do pensamento, mais ou menos completo, rico em cordas, conforme as necessidades.

Chegamos agora à perfectibilidade das raças. Por assim dizer, essa questão é resolvida pela precedente: apenas temos que deduzir algumas consequências. Elas são perfectíveis pelo Espírito que se desenvolve através de suas várias migrações, em cada uma das quais adquire, pouco a pouco, as faculdades que lhe faltam. Mas, à medida que suas faculdades se ampliam, necessita de um instrumento adequado, como uma criança que cresce precisa de roupas maiores. Ora, sendo os corpos constituídos insuficientes, por seu estado primitivo, necessitam encarnar-se em melhores condições, e assim por diante, conforme o progresso.

As raças são perfectíveis pelo corpo, mas é somente pelo cruzamento com raças mais aperfeiçoadas, que trazem novos elementos que, por assim dizer, aí se enxertam os germes de novos órgãos. Esse cruzamento se faz pelas migrações, pelas guerras e pelas conquistas. Sob esse ponto de vista, as raças são como as famílias que se abastardam quando não recebem sangue novo. Então não se pode dizer que haja raça primitiva pura porque, sem o cruzamento, essa raça será sempre a mesma, pois seu estado de inferioridade depende de sua natureza. Ela degenerará, em vez de progredir, o que determina o seu desaparecimento, ao cabo de certo tempo.

Diz-se a respeito dos negros escravos: “São seres tão brutos, tão pouco inteligentes, que seria vão esforço querer instruí-los. São uma raça inferior, incorrigível, profundamente incapaz.” A teoria que acabamos de apresentar permite encará-los sob outro prisma. Na questão do aperfeiçoamento das raças é sempre necessário levar em consideração dois elementos constitutivos do homem: o elemento espiritual e o corporal. É preciso conhecer ambos, e só o Espiritismo nos pode esclarecer quanto à natureza do elemento espiritual, o mais importante, por ser o que pensa e o que sobrevive, ao passo que o corporal se destrói.

Assim, como organização física, os negros serão sempre os mesmos. Como Espíritos, são inquestionavelmente uma raça inferior, isto é, primitiva. São verdadeiras crianças às quais muito pouco se pode ensinar. Mas, por meio de cuidados inteligentes é sempre possível modificar certos hábitos, certas tendências, o que já representa um progresso que levarão para outra existência, e que lhes permitirá, mais tarde, tomar um envoltório de melhores condições. Trabalhando por sua melhoria, trabalha-se menos pelo seu presente que por seu futuro e, por pouco que se consiga, para eles é sempre uma aquisição. Cada progresso é um passo à frente que facilita novos progressos.

No mesmo envoltório, isto é, com os mesmos instrumentos de manifestação do pensamento, as raças só em estreitos limites são perfectíveis, pelas razões que acabamos de desenvolver. Por isso a raça negra, enquanto raça negra, corporalmente falando, jamais atingirá os níveis das raças caucásicas, mas como Espíritos é outra coisa: pode tornar-se e tornar-se-á aquilo que somos. Apenas necessitará de tempo e de melhores instrumentos. Eis por que as raças selvagens, mesmo em contato com as raças civilizadas, ficam sempre selvagens. Entretanto, à medida que as raças civilizadas se desenvolvem, as selvagens diminuem, até o desaparecimento completo, como desapareceram as raças dos caraíbas, dos guanches e outras. Os corpos desapareceram, mas em que se transformaram os Espíritos? Alguns talvez se achem entre nós.

Dissemos e o repetimos: o Espiritismo rasga novos horizontes a todas as ciências. Quando os cientistas considerarem o elemento espiritual nos fenômenos da Natureza, ficarão surpresos de ver que as dificuldades contra as quais esbarravam a cada passo, desapareceram como que por encanto.

Mas é provável que, para muitos, seja necessário renovar o hábito. Quando voltarem, terão tido tempo de refletir e trarão novas ideias. Acharão as coisas muito mudadas aqui na Terra. As ideias espíritas, que hoje repelem, terão germinado por toda parte e serão a base de todas as instituições sociais. Eles próprios serão educados e alimentados nessa crença que ao seu gênio abrirá novo campo para o progresso da Ciência. Enquanto esperam, enquanto aqui ainda se encontram, que eles procurem a solução deste problema: Por que a autoridade de seu saber e suas negações não tolhem, ao menos por um instante, a marcha cada dia mais rápida das ideias novas?



[1] Vide Revista Espírita de julho de 1860: Frenologia e Fisiognomonia.

 

[2] Vide Revista Espírita de março de 1861: A cabeça de Garibaldi.

 

[3] Vide Revista Espírita de outubro de 1861: Os Cretinos.

 


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